Rio - Sem a companhia do pai Arlindo Cruz, ainda hospitalizado devido às sequelas de um AVC hemorrágico, ficou com seu filho Arlindo Neto a responsabilidade de carregar pelos palcos do Brasil o repertório de '2 Arlindos', CD lançado originalmente de forma independente em 2016 e reeditado agora em escala nacional pela Universal, tanto em formato físico quanto no digital.
No dia 14 de setembro, o filho vai mostrar o repertório novo e cantar a obra do pai, no dia do aniversário do Arlindão. É o show 'Arlindinho Canta Arlindo', que vai para o Teatro Rival, e deve, em algum momento, virar DVD.
"Um sonho seria gravar esse DVD no Parque Madureira, que é bem popular", conta o filhão, que busca sua cara para o ritmo levado adiante pelo pai. "É o som de um cara de 25 anos que frequenta as rodas, já esteve com os bambas, mas já foi muito no baile funk, ou em boates".
EVOLUÇÃO
A situação de Arlindo ainda necessita de muitos cuidados, embora o quadro do sambista, com o passar do tempo, esteja apresentando mudanças.
"Meu pai tá evoluindo. Ele vai, volta... Outro dia, deu beijo na minha irmã, na minha mãe. Ele parece um neném, qualquer coisa que ele faz a gente fica todo bobo", conta Arlindinho. "Ele fica feliz, a gente chora, levanta a mão, a gente chora... Ele tá fazendo fono, fez traqueostomia, mexe a cabeça dos dois lados, está mais consciente".
PAI E FILHO
O repertório de '2 Arlindos' foi sendo escolhido aos poucos pela dupla com o produtor Prateado. "Fomos podando, entre inéditas e regravações, até chegarmos no disco", conta Arlindinho. '2 Arlindos' tem músicas de pai e filho como 'Bom Aprendiz' e 'Pra Que Insistir', parcerias clássicas de Arlindo ('Deus Abençoe', com Zeca Pagodinho e Jorge Aragão) e a comovente regravação de 'Pais e Filhos'. Não, não é o rock da Legião Urbana - é uma composição do guitarrista Renato Piau e do humorista e letrista Arnaud Rodrigues, gravada originalmente por Tim Maia em 1978.
"Meu pai que me apresentou a música. Ficamos tocando no cavaquinho, em ritmo de samba. Ela parece sempre ter sido um samba", conta o filho. Arlindinho fez questão de colocar no encarte do CD um agradecimento à equipe da Clínica São José, no Humaitá, onde Arlindo Cruz está internado.
A OBRA PATERNA
Arlindinho está fazendo shows há alguns meses relendo a obra do pai - em lugares como o Clube Renascença, que ele sempre frequentou com a família. Diz estar aprendendo bastante com os shows e está descobrindo quais são os clássicos do público de Arlindo.
"O mais legal é quando vejo uma pessoa falando: 'Caraca, mas essa música é dele?'. Sinto que estou somando com a obra, nem que seja como um comunicador", conta Arlindinho, que teve o equivalente a baú de músicas para pesquisar. "Só gravadas, meu pai tem mais de 600 músicas. Nem ele lembra de todas".
Tem também muita gente que pede, nos shows ou fora deles, músicas que nem são de Arlindo, conta o filho.
"Aconteceu até outro dia nas redes sociais. Me marcaram num vídeo em que um cara falava: 'Estamos aqui fazendo uma homenagem a Arlindo Cruz tocando um sucesso dele'. E a música era 'Vacilão', que não é dele", brinca Arlindinho, citando o samba de Zé Roberto gravado por Zeca Pagodinho.