Por karilayn.areias

Rio - Expoente da geração que marcou os anos 60 e 70 nas artes plásticas brasileiras, a carioca Regina Vater ganha uma pequena retrospectiva de sua trajetória de mais de 50 anos na exposição Oxalá que Dê Bom Tempo, aberta ao público neste fim de semana no Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, na região metropolitana do Rio.

Obra da artista Regina Vater no Museu de Arte Contemporânea de Niterói%2C em exibição até 18 de fevereiro de 2018Agência Brasil

São mais de 70 obras, entre instalações, desenhos, séries fotográficas e vídeos, que ocupam todo o salão principal do museu projetado por Oscar Niemeyer e proporcionam uma visão das várias facetas dessa artista multimídia, uma das pioneiras na abordagem da temática ecológica e também influenciada pelas cosmologias africana e indígena. 

A obra que dá nome à exposição – um leque feito com penas brancas – recepciona o visitante logo na entrada do espaço. O trabalho data de 1978 e adquiriu ao longo do tempo formatos diversos, refletindo o percurso artístico de Regina Vater, expresso em cinco diferentes áreas da mostra, que tem curadoria de Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca.

A exemplo de seus companheiros de geração, Regina experimentou diversas linguagens em sua trajetória, todas apresentadas na mostra. De início, trabalhou nos campos do desenho, gravura e pintura e, posteriormente, se dedicou à fotografia, à escultura, ao vídeo e à instalação. “É importante ressaltar que trazemos para o MAC produções que demonstram a relação humana com a natureza. Corpo, mulher, natureza e transcendência”, comentou o curador Raphael Fonseca.

É um recorte da obra de Regina Vater que nunca foi visto no Rio de Janeiro e, grande parte, nem no Brasil. “Meus trabalhos entram e saem das Cosmologias Indígenas e Africanas. Quando o Raphael e o Pablo me convidaram para abrir esta exposição no MAC, pensei logo em apresentar a obra que empresta título à mostra, logo na entrada. Uma instalação tem de ter a ver com o espaço”, explicou a artista, de 74 anos.

Outro destaque da exposição é uma parede com produções apenas dos anos 1960 – como uma série de gravuras chamada de Tropicália e a reconstrução da escultura interativa Mulher Mutante, exibida na Bienal de São Paulo de 1969. Trabalhos de décadas posteriores, o vídeo-objeto Vide o Dolorido, as séries de fotografias Tina América; Comigo Ninguém Pode; Natures Mortes e Tateando a Luz também fazem parte da mostra.

Definido pela artista como uma performance fotográfica, Tina América foi realizada em 1976. “Na época, era importante a mulher conseguir um bom partido. Foi um trabalho de composição fotográfica que vendi por US$ 1 mil dólares e o venderam por US$ 37 mil. Ficou muito conhecido”, lembrou Regina Vater.

Varanda

Na varanda do MAC, uma mostra do artista Bruno Faria, também inaugurada neste fim de semana, exibe uma obra de Regina produzida juntamente com Faria. Trata-se do desenho que ela criou, em 1968, para o famoso disco Tropicalia ou Panis et Circensis - de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, entre outros. Entretanto, a escolha para a capa do álbum que marcou o movimento tropicalista recaiu sobre o desenho de outro grande nome das artes plásticas do período, Rubens Gerchman (1942-2008).

Como o original não foi encontrado, Bruno passou um tempo no estúdio de Regina e desenhou uma nova capa para a Tropicália, a partir da memória da artista e das impressões sobre a capa original. Trata-se, portanto, de uma nova versão - ou uma versão oficial, nome da mostra de Bruno Faria, que conta ainda com uma versão reduzida com 88 vinis da sua instalação Introdução à História da Arte Brasileira.

Trajetória

Nascida no Rio, Regina Vater se mudou para São Paulo em 1970. Dois anos depois, viaja pela primeira vez a Nova York, onde mantém contato e realiza trabalho com Hélio Oiticica (1937-1980). Já morou na França e, depois, se mudou para Austin, nos Estados Unidos. No retorno ao Brasil, escolheu viver nas proximidades de um parque florestal no estado do Rio de Janeiro.

O vasto currículo da artista inclui ter representado o Brasil na Bienal de Veneza de 1976, a primeira exposição que teve como tema os problemas relacionados ao meio ambiente, vários prêmios nacionais e internacionais e publicação de textos de sua autoria em revistas e livros de arte norte-americanos. Uma das primeiras artistas brasileiras a trabalhar com vídeo, Regina Vater também tem como pontos fortes em sua obra as instalações (mais de 150), a fotografia e a poesia visual.

Visão niteroiense

Além da retrospectiva de Regina Vater e da mostra de Bruno Faria, o MAC inaugurou mais uma exposição neste último fim de semana, a individual Don't you (forget about me), do artista niteroiense Rafael Alonso. Pintor que lida com a abstração e com cores fortes, Rafael apresenta uma série de sete gravuras digitais que sugerem relações com a paisagem deslumbrante que o público vê pela varanda, ou seja, a própria cidade de Niterói e a Baía de Guanabara.

As três exposições ficam em cartaz até 18 de fevereiro e podem ser vistas de terça a domingo, das 10h às 18h, com ingressos a R$10, a inteira, e R$5, a meia entrada. Estudantes do ensino médio da rede pública, crianças até sete anos, moradores ou nascidos em Niterói e visitantes de bicicleta têm entrada gratuita. Às quartas-feiras, a gratuidade é para todos.

O Museu de Arte Contemporânea fica no Mirante da Boa Viagem, s/n, em Niterói.

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