Lellêzinha - Mauricio Fidalgo/TV Globo
LellêzinhaMauricio Fidalgo/TV Globo
Por Gabriel Sobreira

Ela só tem 20 anos, lançou seu primeiro single ('Nega Braba') na última sexta-feira, está no ar em 'Mister Brau', da Globo, estreia nos cinemas no segundo semestre e quer mais. Muito mais. "Pretendo, sim, gravar um clipe. Por enquanto, estou nessa degustação de música solo, de curtir um projeto paralelo ao grupo", frisa a cantora, referindo-se ao Dream Team do Passinho. "Continuo com eles e estão amando a música. Eles lidam de forma muito tranquila com o projeto solo. E não sou só eu que tenho vida paralela, os outros também têm. A gente faz um trabalho lindo, com representatividade, cada um tem sua vida, e faz o que quer. Se for para fazer carreira solo daqui a não sei quanto tempo, vai acontecer de boa. Falamos tudo abertamente, nos consideramos uma família", derrete-se Alessandra, nome de batismo da artista.

'INSISTÊNCIA É DOM'

Alguém te chama de Alessandra? "Minha mãe, avós ou meu assessor de imprensa quando querem falar algo mais sério", diverte-se ela, que escreveu 'Nega Braba' em parceria com Rafael Mike e Pedro Breder a pedido do diretor do filme 'Correndo Atrás'. A ideia era uma letra para as mulheres negras. Lellêzinha se sentiu desafiada. "Falar delas é olhar para mim e falar da minha história. E quando falo de mim, falo de todas, falo das minhas raízes, das mulheres da minha família, tenho grandes exemplos em casa", conta ela. "A vida da mulher negra é de luta diária, luta contra o racismo, a solidão, o preconceito. Para chegar aonde cheguei, lutei muito, ouvi muito, observei bastante, principalmente minha mãe e minhas avós", diz, com orgulho.

'MINHA PEGADA É FIRME'

Para seu primeiro single, Lellêzinha optou por apresentar um rap. "Acho que não teria outra forma de contar essa história se não fosse rap. Sempre fui muito conectada com esse estilo. Acho que, como vim da favela e do funk, hoje eu aprendi a ser do mundo", afirma a cantora e atriz, que não pensa em ficar restrita a apenas um estilo de música. "Vou experimentar muitos ritmos. Fazia funk, pop, experimento o rap. Hoje, sou da música", destaca. "Sonho em parcerias com Mano Brown, Alicia Keys", completa.

'NÃO SIGO CALADA'

Assim como diz parte da letra do single ("A Nega é braba, tem que aturar"), Lellêzinha se considera braba. E isso não é de hoje. "Comecei a dançar (passinho) com 11 anos e não fui aceita no movimento porque era um espaço masculino e machista. Não tinha nenhuma garota. Eu fazia porque gostava e me divertia. Para mim, não tinha isso de 'coisa de homem' e não posso fazer. Vou fazer, sim. Já era brabinha naquela época e batia de frente".

Com o tempo foi conseguindo espaço e respeito do movimento. Quando batalhava nome da disputa entre os dançarinos , era um terror para os oponentes não só pela habilidade dela. "A minha primeira batalha foi com 14 anos. Foi no Cantagalo (Zona Sul, do Rio). Perdi para um garoto de sete ou oito anos. Óbvio que a torcia de lá estaria a favor dele", lembra, às gargalhadas, ela que foi criada na Praça Seca, na Zona Oeste, do Rio.

'SE EU CAIR LEVANTO'

"Ninguém queria perder para mulher, e ganhei algumas. Eles ficaram desnorteados. Na cabeça deles era muito feio perder para uma mulher. Mas entenderam que eu conquistava o meu espaço dançado", conta ela, que depois de várias batalhas foi chamada para um comercial de refrigerante. Depois, vieram convites para apresentações, e nasceu o Dream Team do Passinho. "Fico tão feliz de ver meninas dançando em um lugar que não era aceita. E hoje tem várias meninas representando e dançando até mais do que eu. Naquela época não sabia que estava quebrando barreiras. Não podia ser discriminada por ser mulher. E hoje em dia, o Passinho é Patrimônio Imaterial Carioca", vibra.

Você diria que o Passinho salva vidas de jovens de comunidades? "Mais do que salva vidas, ele abre a mente. A pessoa passa a entender que pode fazer outra coisa, além do que a realidade mostra (violência). Mostra que existem outros poderes", observa.

'O MUNDO É MEU'

A carreira de atriz vai bem, obrigado. E paralela às funções de cantora e compositora. "Amo expressar a minha arte, seja na TV, na música, no cinema", detalha ela, que não para. "Acabei de fazer uma campanha internacional com o Maluma e que depois será exibida no Brasil", adianta. "O meu projeto é continuar lançando música. Esse é um caminho sem volta", diverte-se.

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