Betty Faria - Reprodução
Betty FariaReprodução
Por Gabriel Sobreira

Envelhecer com saúde é uma dádiva, ensinam os mais experientes. Para Betty Faria, 73 anos, a passagem do tempo agora é mais tranquila. Só que nem sempre foi assim. "Acho que o difícil é a virada dos 50/60", confessa ela, que estreia hoje, em 'Malhação: Vidas Brasileiras', como Olívia. "Nunca tinha sido convidada", diz a atriz, que interpreta a paquera de Heitor (Luis Gustavo).

Essa não é a primeira vez que eles atuam juntos. Nos anos 1970, eles contracenaram na peça 'Putz'. "É uma delícia voltar a contracenar com ele, porque é um excelente ator e uma excelente pessoa, extremamente carinhoso, amoroso. Me recebeu com muito carinho", derrete-se Betty, com 53 anos de carreira.

VITALIDADE

Além da novela da Globo, a atriz está no elenco da minissérie 'Se Eu Fechar os Olhos Agora' e do quadro 'Os Infratores', do 'Fantástico'. Ainda tem um filme com Cacá Diegues. Todas as produções sem previsão de estreia. Em suma, Betty não para.

"Eu não sei quem reclama (falta de trabalho para a terceira idade), mas eu estou sempre trabalhando. Só parei para operar o joelho (em 2016) e está tudo lindo. Disso (trabalho) eu não posso reclamar. Eu só posso reclamar da idade porque o joelho ficou gasto. O prazo de validade de algumas coisas no corpo está vencido. Eu posso reclamar disso, mas da falta de trabalho, não. Vai me dando e eu vou fazendo", avisa, animada.

Esse pique todo se deve a uma prática adotada pela atriz há anos. "Por sorte trabalhei minha cabeça, tive filhos, netos, trabalhos de muito sucesso. Não fiquei ressentida e prestei muita atenção em como envelheciam atrizes mais velhas do que eu. Prestei muita atenção no que eu gostaria de ser e no que não gostaria de ser, no que eu gostaria de fazer e no que não gostaria. Com isso, fui tirando o meu balanço para uma terceira idade", explica.

NADA DE 'VELHA MOCINHA'

Betty diz não estar preocupada em rejuvenescer. "Eu tenho a minha idade e acho que estou muito bem com ela. A minha cabeça não é essa de querer parecer uma 'velha mocinha'. Não é essa a minha", diz.

Quando o assunto é assumir os fios brancos o que para algumas pessoas é uma decisão delicada , a veterana tira de letra. Era uma vontade antiga. "Dá muito trabalho, mas ficar grisalha é tudo de delicioso. Acordar, tomar um banho, sair com o cabelo molhado pela rua e não ter que se preocupar em secar. O cabelo virgem, grisalho, se está bem cortado, seca e já fica. É uma delícia. Liberdade total", atesta ela, que até pintaria o cabelo de roxo. "Mas para a personagem", ressalta.

ARREPENDIMENTO

Você se arrepende de alguma coisa na sua vida? "Muitas. Se eu der exemplo, vou trazer para o presente coisas do passado. Então, é claro que eu não vou falar", desconversa. Taurina faz aniversário no dia 8 de maio , a veterana diz que não é de briga, como alguns de influência do signo, e sim de paz. "Sou uma pessoa que tem opinião, franca e verdadeira. Às vezes, isso provoca um desagrado. E quando provoca desagrado, tomo a minha posição", conta ela, que hoje em dia tem usado menos as redes sociais. "Tive experiências ruins ao emitir opiniões", limita-se a dizer. "Eu sempre contestei os valores que me impuseram", acrescenta.

QUESTIONADORA

Prova disso é que, aos 4 anos, Betty que é filha de pai militar questionou estar em um forte militar comemorando a Segunda Guerra Mundial. Já naquela idade ela sabia o que queria para a vida. E estar no meio de canhões e armas não lhe agradava nada. "Aquilo tudo me chocava muito. Como é que eu estava no meio de uma família de militares? Como é que podia? E logo depois, eu fugi para o circo, com quatro anos. Ia trabalhar no circo porque eu tinha ido lá e tinha gostado. Achei que ali era a minha turma. Pulei cerca de arame farpado e fui com a bonequinha para trabalhar no circo, mas minha mãe foi atrás de mim", lembra, com orgulho.

SEM APP DE PAQUERA

Betty adora se manter atualizada sobre o que acontece no Brasil e no mundo. Por causa disso, ela refez a conta no Twitter e segue os principais noticiários internacionais. Mas quando o assunto é aplicativos de encontros, a atriz é categórica: "Não tenho o menor interesse. Nunca tive. Tem pessoas no mundo artístico, jornalístico, nas artes plásticas, que tenho tanto interesse em encontrar, não tenho o menor interesse em encontrar o desconhecido", frisa.

Você está solteira? Voltaria a namorar um homem mais novo? "E você acha que eu, gostando de homem mais novo como eu gosto, iria dar essa satisfação para você?", provoca, às gargalhadas.

MUNDO CONSERVADOR

Com pouco mais de sete décadas de vida, Betty viu muitos avanços da sociedade e diz que as coisas mudaram muito. "O mundo está completamente conservador, tendendo à direita governos da Europa, o Trump nos Estados Unidos. São homofóbicos, racistas, atrasados. Eu vi outro dia uma matéria do Twitter que até uma bandeira nazista tem em uma cidade americana. Existe um movimento muito perigoso", alerta a atriz.

POLÍTICA

De olho nas próximas eleições brasileiras, a atriz se mostra preocupada também com o cenário político nacional. "O Brasil está num momento político dificílimo, caótico. E o povo está incrédulo. O povo tem que se tocar e eleger um presidente que tenha experiência, que tenha projetos, ficha limpa", ressalta. "O povo está, politicamente, um Fla-Flu religioso; direita versus esquerda. Não é nada disso. Tem que escolher o cara mais preparado para segurar essa onda, pelo menos para começar a segurar", completa.

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