Marcelo Bonfá (E) e Dado Villa-Lobos: sem mudanças em arranjos de seus clássicos
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Marcelo Bonfá (E) e Dado Villa-Lobos: sem mudanças em arranjos de seus clássicos FOTOS divulgação
Por RICARDO SCHOTT

Rio - Mês passado, os fãs da Legião Urbana viram um material raro da banda chegar ao YouTube: uma entrevista de Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e dos saudosos Renato Russo e Renato Rocha, gravada em fita K7 em 1986 para o lançamento do disco 'Dois' nos estúdios da gravadora EMI. O resgate veio em boa hora: Dado e Bonfá voltam a se juntar a André Frateschi (voz), Lucas Vasconcellos (guitarra), Roberto Pollo (teclados e programações) e Mauro Berman (baixo) para recordar justamente o repertório dos álbuns 'Dois' e 'Que País É Este' (1987), da Legião.

"A ideia daquilo foi divulgar a banda e a essência do disco. Qualquer rádio que quisesse poderia tocar como se fosse um programa", conta Dado, que passa pelo KM de Vantagens Hall no dia 15 de setembro com a turnê. Que recorda um dos discos de elaboração mais experimental da banda ('Dois') e um momento de respiro ('Que País É Esse') em que lembravam do repertório inicial do grupo e de um de seus embriões, o Aborto Elétrico (banda formada por Renato Russo no fim dos anos 1970).

OS DISCOS

Em 'Dois', Bonfá recorda que nada do que a banda criava em estúdio era desperdiçado. "De repente, eu fazia uma nota, aquilo virava uma ideia, a gente falava uma coisa e aquilo virava uma letra. Tínhamos dificuldades por causa das nossas limitações como músicos. A gente começou no punk, e eu estava a fim de ser barulhento e sujo", conta o baterista.

Dado lembra que Russo deu o tom do álbum, ao lhe dar uma fita cassette só com músicas de Cat Stevens, Neil Young e outros nomes acústicos. "O propósito dele era: 'Vai aprender a tocar violão, vai ter muito violão no disco!'. Mas tinha muita guitarra e muita coisa que ia além dos três, quatro acordes", afirma.

'Que País É Este' foi feito em tempo recorde: quinze dias para gravar, quinze dias para mixar. "A gente não tinha energia e força para fazer um disco, e optamos por gravar um repertório que conhecíamos bem", lembra Dado. 'Faroeste Caboclo', de nove minutos, virou o jogo nas rádios e foi uma das mais executadas de 1988. Logicamente, vai estar nos shows.

"Quando a gente pergunta para o público o que querem ouvir, é sempre: 'Toca Faroeste!', lembra Bonfá, recentemente confrontado com histórias do próprio personagem da música, João de Santo Cristo. "Estava com meu filho na rodoviária de Brasília, e ele perguntou: 'Foi aqui que o João de Santo Cristo desceu, né?'. Falei para ele que vários Joões de Santo Cristo descem ali, todos os dias".

SEM MUDANÇAS

O show de Dado e Bonfá não terá mudanças nos arranjos. "Os elementos dentro das músicas já foram estabelecidos e já foram bem aceitos", conta Bonfá. Tanto ele quanto Dado querem fazer o mesmo com o repertório do clássico 'As Quatro Estações' (1989) em outro momento. "Mas vai depender de quando, onde, como...", diz o guitarrista.

Na época do show comemorativo de 30 anos do primeiro álbum, a Universal pôs nas lojas um disco com gravações nunca lançadas da estreia da banda. 'Dois' teve muitas sobras: o disco quase foi um disco duplo chamado 'Mitologia e Intuição'. Reduzido para LP simples, perdeu músicas até hoje inéditas, como 'O Grande Inverno da Rússia', uma releitura de 'Fábrica' em inglês e até mesmo uma versão de 'Juízo Final', de Nelson Cavaquinho.

"Ela abria com um violão e depois ganhava um ar meio Joy Division (banda britânica dos anos 1980)", conta Dado, afirmando que até o momento não há nada programado para mais uma edição especial da Legião. "A gravadora se desinteressou", diz.

Sobre questões ligadas à marca Legião Urbana pertencente hoje ao filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini Dado diz que advogados estão resolvendo a questão. "É uma questão menor, tem uma equipe cuidando", afirma.

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