Nando Cunha (E) e Antonio Pitanga vivem filho e pai que se encontram no ensaio de uma peça de Shakespeare - BROWN/DIVULGAÇÃO
Nando Cunha (E) e Antonio Pitanga vivem filho e pai que se encontram no ensaio de uma peça de ShakespeareBROWN/DIVULGAÇÃO
Por BRUNNA CONDINI

Rio- Juntos em cena pela primeira vez em o 'Filho do pai', de Maurício Witczak, os atores Antonio Pitanga e Nando Cunha podem ser vistos no teatro do Sesc Tijuca até 19 de agosto. Dirigido por Clarissa Kahane, o espetáculo revela um encontro entre um pai e seu filho, que está ensaiando 'Hamlet', de William Shakespeare. A partir disso é estabelecido um duelo de palavras, que aos poucos vai revelando a tensa relação que existe entre eles. O projeto foi sonhado por Nando durante dez anos.

"Estou muito feliz em dividir o palco com o Pitanga, um monstro do cinema e do teatro, um ator completo. Fizemos questão de reforçar o protagonismo negro e falar sobre a relação entre pai e filho", diz o ator, que faz o 'filho' do título, e fora da ficção é pai de Davi, 6 anos. "Pitanga é um mestre, uma referência muito grande. Aprendo muito com ele pela postura, serenidade, paciência, generosidade e entrega. Além de ser um exemplo de engajamento, militância. Ganhei um grande amigo".

No ar na novela 'As Aventuras de Poliana', do SBT, na pele do motorista Ciro, Cunha garante que não tem preferência por drama ou comédia. "Acho que não tem essa de ser mais fácil ou mais difícil fazer comédia. O processo do ator é doloroso, solitário. E no caso desta peça, você não interpreta uma tragédia, você vive. É sempre difícil construir um personagem, no drama ou na comédia, pelo menos pra mim", diz.

Ele também salienta a importância do protagonismo negro na montagem. "Foi muito importante para mostrar que o ator pode fazer qualquer coisa. E o ator negro não precisa estar no teatro levantando bandeiras. Pode estar simplesmente fazendo uma peça, como a nossa", esclarece. "Pretendemos que isso seja uma cena muito comum no Brasil. Dois atores simplesmente fazendo teatro, não dois atores negros fazendo teatro. No teatro podemos fazer qualquer coisa".

CELEBRAÇÃO

Fazendo o pai nesta relação tão delicada, Antonio Pitanga comemora 60 anos de carreira e quase 80 de idade em cena. "Esse espetáculo é um presente neste momento. São dois atores negros num universo shakespeariano onde não estamos discutindo a questão da dívida histórica. Pra mim é um honra trabalhar com Nando, a nível de idade ele é um jovem, estou bebendo muito nessa fonte do conhecimento, do carinho e das relações. Já dizia Glauber Rocha: 'Quer ser ator, faça teatro'", comemora Pitanga, que é pai dos atores Camila e Rocco Pitanga.

"Não tinha nem prestado a atenção que já estava na porta de completar 60 anos de carreira e no palco. É um balanço robusto, tenho uma história pra contar. Uma afirmação política, cultural, artística, como negro. A discussão da negritude no Brasil, que não tem o espaço devido, não tinha ontem, como não tem hoje. Vejo essa trajetória com alegria, mas com sacrifício. Faço um balanço claro das coisas conquistadas e das coisas ainda a conquistar", diz.

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