O Candidato Honesto 2, com Leandro Hassum - Desiree do Valle
O Candidato Honesto 2, com Leandro HassumDesiree do Valle
Por BRUNNA CONDINI | brunna.condini@odia.com.br

Rio - Ele está de volta e mais sincero do que nunca. Em 'O Candidato Honesto 2', que chega aos cinemas hoje, Leandro Hassum dá vida novamente a João Ernesto, o personagem que foi parar atrás das grades por conta dos crimes que cometeu no primeiro filme.

"É diferente fazer o João Ernesto agora. Coincidentemente são quatro anos desde o primeiro filme. Não tínhamos ideia que íamos fazer o segundo, mas nestes últimos anos aconteceu um terremoto na política brasileira, o que nos deu um arsenal de histórias", afirma Hassum. "O personagem é uma colcha de retalhos de muitos políticos, têm referências de políticos de direita e de esquerda. É para o público ver que tem cagada de todos os lados".

PARECE VERDADE

Na ficção, após cumprir quatro anos de prisão, João resolve levar uma vida comum, fora da política, mas é convencido a se candidatar mais uma vez à Presidência da República, em meio a uma grande crise no Brasil. "O que é diferente do primeiro filme é que agora é mais sátira mesmo do que aconteceu. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Mais ou menos", ironiza. "Tivemos dificuldade de fechar o roteiro porque toda semana acontecia alguma coisa. Estava virando quase uma série".

No segundo longa, o personagem alavanca sua candidatura e chega à presidência, garantindo que vai promover uma reforma política no país. Mas vai acabar se envolvendo em novos escândalos, além de ser perseguido e dominado pelo seu vice, equiparado a um vampiro.

Com isso, as confusões em que ele se mete podem levá-lo a um impeachment. Comparações serão imediatas e inevitáveis. O filme vem com a intenção clara de crítica? "Olha, acima de tudo é um filme de comédia, com uma temática de pano de fundo. Claro que tem mensagens de conscientização política. Ótimo, isso é faixa bônus", garante, sobre o filme que tem também no elenco Flávia Garrafa e Rosanne Mulholland, entre outros.

HUMOR E CRÍTICA

O roteirista Paulo Cursino comenta a necessidade de alterações que o longa dirigido por Roberto Santucci sofreu até as filmagens.

"Filmes demoram muito tempo para ficarem prontos, e a chance de ficarem desatualizados é grande. O segredo de um roteiro de sucesso é estar próximo das referências do público", ensina Cursino. "Sempre que posso, deixo espaço para colocarmos piadas mais quentes nas gravações, para ficar o mais atual possível. Em 'Até que a Sorte nos Separe 3' previmos o impeachment da Dilma. Quando filmamos, ninguém acreditava que pudesse acontecer. Neste, apostamos que um certo candidato muito popular seria preso e continuaria à frente das pesquisas. Acertamos de novo. Nossa bola de cristal é boa", diverte-se.

O humor pode ser uma ferramenta poderosa para falar de um momento tão crítico?

"O maior desafio é lembrar as pessoas de que o humor deve atacar a tudo e a todos. Uma piada sempre tem um alvo, e todo mundo pode ser alvo. Mas muitos tratam candidatos como deuses e não aceitam que se faça piada com eles, nem com alguns movimentos, nem com minorias, nada", observa o roteirista. "Os formadores de opinião no Brasil estão cada vez mais chatos e mal-humorados. A gente dá uma banana para esse bando de dodóis. Ficamos felizes quando conseguimos irritá-los".

E qual a mensagem deste segundo longa?

"O público pode esperar uma comédia para fazer morrer de rir. Se tem mensagem é que uma andorinha só não faz verão. Meu personagem acredita que pode fazer uma coisa boa, mas sozinho não consegue, sem o sistema do seu lado. A consciência que buscamos no filme é para pensar não só no presente, mas com quem você se cerca para governar. Ah, e presta a atenção no seu vice", provoca Hassum.

VISÃO DO PAÍS

Morando na Flórida, nos Estados Unidos, há quase três anos, o ator conta que mesmo de longe acompanha os acontecimentos do país.

"Me decepcionei muito com as pessoas em quem votei nas ultimas eleições, mas não anularia meu voto", diz. "Ainda não tenho candidato, está cada dia mais difícil. Não tem o melhor, é o menos pior. É tão triste pensar assim", constata.

Hassum afirma que prefere não se posicionar politicamente nas redes sociais. "Não falo porque quero manter meus amigos. Opinião todo mundo pode ter, mas virou tudo uma agressão. E você vai perdendo amigos, por conta de um bando de imbecis que estão errando de todos os lados", reflete. "Tem uma cegueira política geral. Amo tanto meus amigos que, mesmo alguns falando boçalidades, prefiro deixar para lá. Faço piada com coisas unânimes".

E desabafa: "Sonho que possamos votar para que uma mudança seja feita numa escala de sistema e que sejamos um povo mais atuante. Sou brasileiro e acho que brasileiro não desiste nunca. Muita coisa de conscientização já estamos conseguindo ter. Acho que o estrago foi muito grande, demorou a aparecer".

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