Valesca PopozudaGabriel Farhat / Divulgação
Valesca Popozuda abriu portas com trajetória empoderada: 'Ninguém mais tem vergonha de ser funkeira'
Na véspera do Dia Internacional da Mulher, a cantora, cria da Beira-Rio, relembra sua força que vem da comunidade ao estrelato
Valesca Popozuda mandou um beijinho no ombro para o machismo ao trazer para sua arte um grito de liberdade à sexualidade feminina e a representatividade da mulher no mundo do funk. Dona de uma personalidade forte, a cantora, de 42 anos, é sinônimo de garra e empoderamento — e a gente pode provar! Mãe solo, a carioca, cria da Favela Beira-Rio, em Irajá, na Zona Norte, viveu na corda bamba para sustentar a família, chegou a trabalhar de frentista e, hoje, é uma das mulheres mais respeitadas do meio.
Se, amanhã, o Dia Internacional da Mulher é celebrado nos quatro cantos do mundo, Valesca faz parte dessa construção tão importante aqui no Brasil. "Sempre tive a certeza que não poderia abaixar a cabeça. O baile funk sempre foi um ambiente masculino e machista. Antes de mim, tiveram outras, Deise Tigrona, Tati, MC Cacau... Mas ajudei a derrubar o muro de que só homem tinha voz. Hoje, todas as meninas se sentem livres e ninguém mais tem vergonha de ser funkeira", destaca a Popozuda, orgulhosa de servir de inspiração para mulheres da nova geração.
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Toda essa garra, entretanto, nasceu também de momentos conturbados. Valesca já vivenciou situações de assédio e violência e alerta que as mulheres precisam se unir para além da luta. "O machismo ainda é bem enraizado, mas uma coisa que mudou é que as mulheres começaram a falar. Muitas ainda têm medo, mas a maioria não se cala mais. Isso é muito importante", afirma.
Seguida por três milhões de pessoas no Instagram, nossa diva de Irajá traz em suas letras mensagens de força e liberdade, desde os tempos da Gaiola das Popozudas. Uma construção de empoderamento e musicalidade que veio de sua trajetória periférica. "Eu nasci e cresci na favela. A comunidade tem uma riqueza imensa de todos os tipos. Na esquina, tinha roda de samba. No bar da frente, um pagodinho e, na quadra, um pancadão rolando. Você via pessoas chegando cansadas do serviço e parando nessas rodas, qualquer uma que fosse era sempre animada. É um lugar de escape para muita gente, as comunidades têm riqueza de todos os tipos", conta ela.
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Após o lançamento de Me Come e Some, com o Heavy Baile, a cantora tem trabalhos superecléticos para este ano. "São projetos que preciso tirar do papel: clipe, música, show. Vou rodar o Brasil todo e quero transitar por todos os ritmos. Vou cantar desde o funk pop até o brega. Estou ansiosa para passar a pandemia."
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Depressão no ano passado
Valesca passou por momentos difíceis no ano passado. Logo no início do isolamento social por causa da pandemia do coronavírus, ela enfrentou um quadro de depressão. "Eu fui do 8 ao 80. Depois, vi que estava sendo egoísta em sofrer por estar dentro de casa, sendo que tinha gente perdendo emprego e dependendo de um auxílio que não dava para nada. Foi um susto, mas percebi que a galera começou a se ajudar, entendi que existe esperança na humanidade", conta a funkeira sobre a fase difícil do planeta, que evidenciou a desigualdade entre o "morro e o asfalto". "As maiores riquezas desse povo são a alegria, não deixam de sorrir nunca. Só é preciso oportunidade, igualdade e ter muito respeito pelo preto da favela."
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