Chicó (Selton Melo) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) estão de volta em O Auto da Compadecida 2Laura Campanella

Rio - "Não sei, só sei que foi assim!". O bordão e trapalhadas de Chicó (Selton Melo) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) revisitam a memória dos fãs desse clássico do cinema, que recebeu milhões de pessoas em 2000 e até hoje é um dos filmes mais assistidos no Globoplay. "O Auto da Compadecida 2" - sequência do primeiro longa - inspirado na obra de Graciliano Ramos, estreia nesta quarta-feira (25), nos cinemas do país, como um presentão de Natal, e promete fazer toda a família rir e se emocionar.


Dirigido por Flávia Lacerda e Guel Arraes, o filme mostra a pacata rotina de Chicó na mítica cidade de Taperoá, no sertão nordestino, e resgata lembranças do elenco e do público - 25 anos depois do primeiro longa-metragem, gravado em 1999 e lançado no cinema em 2000.
"Essa emoção que a gente sentiu foi parar na tela porque o (filme) 2 é mais emocionante do que o 1. É você rever velhos amigos, o público está tendo uma chance de ver personagens que eles amam, vivos, falando loucuras e vivendo novas aventuras. É uma coisa muito divertida", diz Selton.
"A gente está com o coração no pescoço, de alegria e emoção, a gente está desejando que o filme seja recebido com o carinho que ele foi feito. Para o Selton e para mim, Chicó e João Grilo foram determinantes, mudaram as nossas vidas", complementa Matheus.
Para Nachtergaele, interpretar João Grilo novamente é uma 'grande responsabilidade'. "É bonito a gente pegar essa pipa linda e empinar de novo e vê-la brilhar no céu. O 'Auto' está estreando no Natal, no meio de um monte de efemérides bonitas: 10 anos de encantamento de Ariano Suassuna, bodas de prata do 'Auto'. É um presente de Natal. Nas sessões que já foram feitas, o filme está acontecendo de maneira bela. O retorno vem em ondas de gargalhadas e lágrimas", comemora.
O artista destaca que ele e Selton já eram atores experientes, faziam trabalhos bonitos, mas não eram considerados atores cômicos no Brasil quando o primeiro filme foi lançado. "Guel (Arraes, diretor) nos deu isso. Nos deu os melhores personagens já escritos para comédia na dramaturgia brasileira. Não tenho dúvida que o 'Auto' é a maior comédia escrita no Brasil, é a peça mais montada e o filme se tornou de cabeceira dos brasileiros. Por 25 anos a gente habita os corações e o imaginário do Brasil", analisa.
No longa, Chicó vive da venda de santinhos esculpidos em madeira e conta a história da ressurreição de João Grilo  - seu amigo que sumiu há duas décadas e ele acredita que morreu novamente. Mas, de repente, João Grilo reaparece vivinho da silva e cheio de planos mirabolantes, que vão movimentar a cidade e causar tretas entre os candidatos que disputam a prefeitura da cidade: Coronel Ernani (Humberto Martins), um fazendeiro influente e Arlindo (Eduardo Sterblitch), poderoso dono da única rádio de Taperoá.
Apesar da química entre a dupla de amigos, Selton conta que não costuma encontrar Matheus fora de cena. "A gente se vê muito pouco, a gente é bem preservado. A gente torce um pelo outro, vê estreias de filmes um do outro. Mas a gente se encontrou pouco na vida e mal se encontrou em cena, e isso é uma coisa muito boa porque a gente é preservado como dupla. Quando, agora, volta o filme e a gente faz os personagens, a gente não está gasto. Quando a gente se junta é para fazer João Grilo e Chicó e isso para o público é uma coisa maravilhosa. Está guardado no imaginário brasileiro como a dupla". Matheus também vibra. "Estar de novo com o Selton é quase como encontrar alguém da família". 
O intérprete de João Grilo recorda que o filme encheu ele e Selton de responsabilidades e, com isso, eles passaram a selecionar melhor os convites que surgiram após o sucesso do primeiro longa. "Selton e eu escolhemos muito o que a gente ia fazer. Me dediquei muito à retomada do cinema. O 'Auto' é responsável pelas pazes que o brasileiro fez com o cinema. Me arrisquei com muitos diretores de vanguarda e em filmes mais competitivos. Escolhi na televisão com muito cuidado, cada personagem, para não trair o amor que cativei no público através do João Grilo", explica.
Novas tecnologias
Diferente do primeiro, que foi parcialmente filmado em Cabaceiras, na Paraíba, desta vez, o filme foi todo gravado em estúdio, contando com recursos tecnológicos e inteligência artificial, que dão também um tom mais teatral à versão. "Foi interessante ver como funciona essa inteligência artificial. A gente vive esses personagens de uma forma tão essencial que não importa muito se é no teatro, na locação, se é em estúdio, eles serão sempre puros e muito fascinantes", avalia Selton Melo. "Essa tecnologia usar no 2 dá para o filme um sentido de encantamento e devolve para o 'Auto' o seu sentido teatral. É lindo o que se consegue", opina Matheus.
Romance de Chicó e Rosinha
Virgínia Cavendish, que interpreta Rosinha, também volta nessa sequência, com uma mulher empoderada e independente e em cenas de paixão com Chicó. "A Rosinha foi uma preocupação, um cuidado diferente porque é uma personagem já muito querida pelo público brasileiro. E também passaram-se muitos anos entre uma filmagem e outra... A gente foi descobrindo esse caminho da Rosinha e ela é muito parecida comigo. Ela se transformou meio no que sou, essa mulher que luta pelos seus desejos, pelas suas realizações, que sua vida não depende de uma cara-metade, como o cinema e a ficção a vida inteira botou a mulher nesse papel. Isso é uma balela contra a gente", comenta.
Novos personagens
A parte dois do filme terá Taís Araujo no papel de Nossa Senhora, vivida no primeiro filme por Fernanda Montenegro. "Minha relação com Nossa Senhora é boa, é firme. Na minha casa tem várias imagens. Esse filme faz parte da vida de todos nós. Costumo dizer que ele é dos brasileiros. A gente se acha dono desse filme porque ele diz tanto sobre o Brasil, tanto sobre a gente. Quando recebi esse convite, mal pude acreditar porque não achei que fosse ter 'O Auto da Compadecida 2', tampouco que pudesse fazer Nossa Senhora. Quando Guel me chamou, falei: 'mas é claro, que dia a gente começa?'. Fiquei feliz', lembra.
A mulher de Lázaro Ramos ainda relata que vestir o manto para interpretar Nossa Senhora foi especial. "O mais bonito é que quando acabou, tive muita dificuldade de tirar o figurino, queria ficar ali. Acho que por todo o simbolismo e também porque fui legal fazer e foi bom estar com essas pessoas que adoro e confio".
Já Humberto Martins (Coronel Ernani), Eduardo Sterblitch (Arlindo) e Fabiula Nascimento (Clarabela) dão vida a novos personagens na produção.  
Ano de sucesso
Matheus diz que fechar o ano com o "O Auto da Compadecida 2" é um carinho e um presente de Natal para a família toda. "O filme está encantador, belíssimo. Não tenho dúvida que o trabalho é honroso para Ariano Suassuna. Pra mim, como ator, é um privilégio experimentar no meu corpo de novo o maior personagem cômico já escrito na dramaturgia brasileira, que é o João Grilo. Experimentar no meu corpo jamais envelhecido a agilidade do arlequim brasileiro, a esperteza do Grilo e encontrar de novo com a minha grande amiga Nossa Senhora", conclui.
Selton Mello brilhou vivendo o ex-deputado Rubens Paiva no aplaudido filme "Ainda Estou Aqui" e encerra 2024 com outro clássico do cinema brasileiro. "É um ano bonito, com trabalhos lançados um atrás do outro. Isso não é novidade para mim, não. Já vivi algo parecido por volta de 2005 quando lançou: 'Lisbela & o Prisioneiro', 'Cheiro do Ralo', 'Meu Nome não é Jhonny', um atrás do outro. A diferença é que não tinha toda a repercussão da internet, então, não tem tantos registros disso. Mas já vivi isso em outros tempos".