Rio - ‘Vinil virtual’, 15º álbum solo de Daniela Mercury, peca pelo excesso. O disco é longo e verborrágico, apresentando 15 músicas de autoria da artista em 67 minutos. Lançado pela gravadora Biscoito Fino, o CD vai bem até a oitava música, ‘De Deus, de Alah, de Gilberto Gil’, samba cheio de balanço que celebra o suingue do artista. Baiano como a cantora, Gil toca violão na faixa e canta a música com Daniela. Da nona faixa em diante, ‘Vinil virtual’ fica irregular, sobretudo quando o falatório das faixas-vinhetas ‘Extranhos terrestres (Aperto de mente 1)’ e ‘Vinil virtual (Aperto de mente 2)’ põe a música em segundo plano.
Canção para a esposa
Produzido pela própria Daniela Mercury com Yacoce Simões (parceiro na criação da maioria dos arranjos), ‘Vinil virtual’ é o primeiro disco gravado por Daniela após ter assumido o amor por Malu Verçosa. A presença de Malu está entranhada em ‘Vinil virtual’, inclusive na capa, na qual Daniela aparece nua, abraçada à esposa, musa inspiradora de ‘Sem argumento’, canção levada pelo violão de Alex Mesquita (cujo toque ecoa a bossa nova), e de ‘Maria casaria’, música feita no compasso do funaná, ritmo de Cabo Verde .
‘Vinil virtual’ é disco feminino e feminista. O tom feminista fica explícito já na primeira faixa, ‘A rainha do axé (A rainha má)’, ijexá estilizado, lançado há um ano na internet. A última faixa, ‘Senhora do terreiro’, parceria de Daniela com o filho Gabriel Póvoas, exalta a ialorixá baiana Mãe Carmen e, de quebra, o matriarcado do Candomblé e da Umbanda, religiões afro-brasileiras que inspiram o baticum percussivo do som baiano rotulado como ‘axé music’ e ouvido em ‘Vinil virtual’ em faixas como o bom samba-reggae ‘Alegria e lamento’, gravado com som de repiques tocados pelo falecido Neguinho do samba (criador do gênero) — som cedido para Daniela.