Silvero Pereira como Zaquieu, em ’Pantanal’, e Elis Miranda, em ’A Força do Querer’Foto: Reprodução/Instagram/Globo

Rio - O podcast "Papo de Novela" desta sexta-feira (19) recebeu Silvero Pereira, que interpreta o Zaquieu em "Pantanal". Na conversa, o ator revelou que hoje não aceitaria mais interpretar a travesti Elis Miranda, personagem de "A Força do Querer", novela de Gloria Perez, e que marcou sua estreia na televisão. O cearense afirmou que recusaria o papel para que atores travestis pudessem ter a oportunidade de conseguir o trabalho. 
"O problema é mercado de trabalho. Hoje eu não faria a Elis Miranda, muito provavelmente. Porque eu também me reeduquei sobre essa história, e a gente precisa estar de acordo com as lutas e as causas. Depois de 'A Força do Querer', eu não aceitei mais nenhum personagem trans/travesti, e inclusive deixei de fazer meus espetáculos por causa disso. Eu fui entendendo, sendo informado e compreendendo essa questão dentro do mercado. Se a gente aceita, a gente está impedindo o mercado de ir em busca dessas pessoas. (...) Hoje, nós não vivemos num mercado em que exista proporcionalidade", disse. 
Silvero Pereira falou ainda sobre os personagens LGBTQIAP+ que interpreta e sua vontade de encarar novos desafios. "A gente volta para a mesma questão que o Zaquieu fala: não é porque eu sou um ator assumidamente LGBT e porque estou claramente LGBT nas minhas redes e em todo lugar que eu vou, que eu não sou capaz de fazer um personagem hétero, que fuja da minha sexualidade. Espero que o mercado seja um pouco mais inteligente nesse aspecto, que o mercado passe a fazer convites para mim que não sejam só para defender minha causa. Claro que eu nunca vou negar um convite que venha sobre defender minha causa, porque acho extremamente importante."
Militante pelos direitos da população LGBTQIA+, o ator contou que já deixou de participar de alguns projetos em que identificou falas preconceituosas relacionadas a sua comunidade. "Eu já recusei trabalhos porque tinham falas transfóbicas que nem eram da minha personagem. Eu falei: 'Caramba, mas e essa fala?'. 'Ah, mas nem é seu personagem que fala'. 'Amigo, não tem nada a ver com isso! Não é sobre meu personagem, é sobre seu projeto ser transfóbico. E eu não posso estar dentro de um projeto transfóbico. Isso fere ao meu desejo enquanto pessoa, enquanto comunidade, enquanto sociedade'. 'Ah, mas a gente não pode fazer nada'. Eu disse: 'Eu posso fazer. Eu posso não fazer esse trabalho'. Isso que é importante para mim."