Cid Moreira leu o direito de resposta de Leonel Brizola no Jornal Nacional, em março de 1994Reprodução / TV Globo

Em um dos momentos mais marcantes da história da televisão brasileira, o apresentador Cid Moreira leu, durante a edição do "Jornal Nacional" de 15 de março de 1994, o direito de resposta concedido pela Justiça ao então governador do Rio, Leonel Brizola (1922-2004), contra a TV Globo. Este foi um dos grandes capítulos na rivalidade do político contra a emissora e o seu fundador, Roberto Marinho (1904-2003).
O imbróglio começou em 6 de fevereiro de 1992, quando o "JN" veiculou trechos do editorial "Para entender a fúria de Brizola", que seria publicado na íntegra na edição do jornal "O Globo" do dia seguinte. O texto tinha duras críticas ao governador, mencionando um "declínio de saúde mental" e "deprimente inaptidão administrativa" do fundador do PDT.
A motivação para o artigo foi a carta que Brizola enviou ao então prefeito do Rio, Marcello Alencar (1925-2014), solicitando a suspensão da concessão de exclusividade do canal televisivo para a transmissão dos desfiles do Carnaval carioca.
Dias depois, começou a batalha na Justiça para que uma réplica oficial fosse veiculada no programa. Ela foi escrita pela equipe do governador ainda em 1992 e não passou por alterações até ganhar a permissão para ir ao ar, após dois anos.
Na voz de Cid, que morreu nesta quinta-feira (3), Brizola criticou duramente a Globo. Ele se defendeu das acusações de senilidade, mencionou o apoio da emissora à ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985, e questionou a intenção da empresa ao desejar a exclusividade da concessão do Carnaval no Rio.
"Não reconheço à Globo autoridade em matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longa e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos, que dominou o nosso país", disparou.
"Todos sabem que critico há muito tempo a TV Globo, seu poder imperial e suas manipulações. Mas a ira da Globo, que se manifestou na quinta-feira, não tem nenhuma relação com posições éticas ou de princípios. É apenas o temor de perder o negócio bilionário, que para ela representa a transmissão do Carnaval. Dinheiro, acima de tudo", afirmou.
Veja o direito de resposta


Morre Cid Moreira
Cid Moreira morreu aos 97 anos na manhã desta quinta-feira (3). Ele estava internado no hospital Santa Teresa, em Petrópolis, Região Serrana do Rio, para tratar um quadro de pneumonia. Ele fazia hemodiálise há mais de três anos devido a um quadro de insuficiência renal crônica.
O jornalista estava internado há 29 dias. Ele chegou ao hospital com infecção urinária e ficou acamado com complicações de trombose venosa e atrofia muscular. A idade avançada e a gravidade do quadro evoluiu para a falência múltipla dos órgãos, segundo o médico Nélio Gomes, que cuidou dele nos últimos dias.
Cid Moreira marcou sua carreira na Globo como apresentador do "Jornal Nacional", desde sua inauguração, em 1969, até 1996, e seu tradicional "boa noite", ao encerrar o programa, atravessou gerações. Ele foi recordista como um âncora e apresentou o telejornal cerca de 8 mil vezes.
Em seguida, ele teve sua voz em narrações do "Fantástico" e se destacou com o quadro do mágico "Mr. M" e durante a Copa do Mundo de 2010, quando gravou a vinheta "Jabulani", em referência à bola do mundial.