Rio - Cria da comunidade do Morro do Serrão, em Niterói, no Rio, MC Maneirinho, de 29 anos, lançou recentemente o quinto álbum da carreira, intitulado "O Roteirista", inspirado em histórias reais. Em entrevista exclusiva ao MEIA HORA, o artista dá detalhes do novo projeto, processo de criação das canções, que misturam rap e funk, recorda as origens e opina sobre o sucesso do hit "Chefe é Chefe, né pai" (2016). Confira!
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- Você embarca no universo do rap no álbum 'O Roteirista'. Como avalia esse trabalho? Quais foram os maiores desafios?
O maior desafio sempre é conter a ansiedade. Acho que toda vez que a gente acaba de fazer um álbum, a gente enxerga o potencial gigante no som e quer já ver ele na rua, se nossos fãs vão curtir da mesma forma que a gente está curtindo. Então, o nosso maior desafio é conter a ansiedade, porque a gente tem uma confiança gigante quando está no estúdio, sabemos que estamos fazendo um trabalho diferente, fod*. A gente sempre quis trazer algo diferente nos álbuns, não ficar na mesmice.
- O que te inspirou a fazer esse trabalho?
Esse álbum, principalmente o nome, já venho idealizando ele há mais de três anos, desde quando fui intimado. Queria que as pessoas olhassem a gente como um roteirista mesmo da favela, com histórias reais. Então, cada música ali conta uma história, algumas explícitas e outras de superação. E a interpretação tem que ser sempre como se a gente fosse um roteirista da nossa própria história, da história que a gente presenciou, viu de perto.
- Tem uma música desse trabalho que você curta mais?
Difícil escolher, mas vou ficar com "Saudade 2019", que ali eu estou representando pessoas que perderam entes queridos e tiveram a vida transformada radicalmente por causa da pandemia. É um desabafo de muita gente, muitos adolescentes que sentem falta dos anos anteriores a 2020. Ali sei que eu estou representando muita gente ou até mesmo algumas coisas não faziam tanto sentido assim, a vida andou um pouco mais leve. Hoje, as redes sociais estão muito fortes, só vale o que tem nas redes sociais e, às vezes, as vivências, que eram para serem primordiais, acabam ficando de lado.
- Como foi ter o Major RD como parceiro em uma música do novo álbum? Vocês já eram amigos?
Major RD é um cara que sou fã da performance dele no palco. A música com a bateria mais punk que tivesse, ia chamar ele porque sou fã da performance. Acho uma parada muito viva, real, que ele faz ali no palco. Assim que acabei a música eu já pensei nele e essa é a única música que tem mais um ano que foi feita, foi uma das primeiras músicas do álbum.
- Como foi a experiência de cantar, pela primeira vez, no Rock in Rio, com os dois ritmos musicais, Funk e Rap?
Cantar no 'Rock in Rio' sempre foi meu sonho, e falei que ali só foi o início dele. Para mim, foi uma honra porque eu cheguei ali com um repertório que sempre sonhei, desde o começo. E poder ter a honra de chegar ali e cantar música do funk, do rap, dos gêneros diferentes e ver todo mundo cantando as antigas e as novas, foi uma vitória pessoal, de dever cumprido. Mas quero continuar vivendo esse sonho. Quem sabe um dia cantar no palco mundo do Rock in Rio.
- Você pretende transitar entre esses dois estilos, Maneirinho?
Não só esses dois estilos, mas muitos também. Acho que sou um exemplo da liberdade musical que a gente pode ter. Fica de exemplo para todos os artistas, para não terem medo de arriscar. Porque a música é isso aí. É arte. E a arte é grátis para todo mundo. Basta a gente querer, sonhar, correr atrás. Então, o que eu idealizar na minha cabeça é possível de ser realizado. Não vou me limitar só a um, dois, três gêneros, não. Quero participar de todos que eu me sentir confortável para poder executar.
Você é cria do Morro do Serrão, Niterói. Ainda frequenta a região?
Sempre vou na minha comunidade, sempre vou no Serrão. Ali é onde eu lembro das minhas raízes. Estou sempre lá para não esquecer quem eu sou, minha origem. Além de uma gratidão eterna que eu tenho, ali é uma lugar que me faz bem, é uma terapia que me coloca de volta (no eixo), me faz sempre não tirar os pés do chão, olhar para cada um que eu vi crescer e também ajudar a ser exemplo para as crianças. Serrão é sempre um lugar onde estou fazendo meus clipes, música, ajudando os artistas da comunidade, jogadores. E as coisas vão acontecendo, graças a Deus.
- Seu hit "Chefe é Chefe, né Pai" ainda é muito lembrado. Essa canção foi um divisor de águas na sua carreira?
'Chefe é chefe' que abriu portas para tudo isso que eu estou vivendo hoje. Eu já tinha estourado bastante hit, mas não nesse nível. Então tenho um carinho enorme por essa música que fez eu ser conhecido pelas crianças, adultos e mais velhos. É um hit que parece que foi feito há dois meses. E a gente já está encaminhando para dez anos.
*Reportagem da estagiária Mariana Amaral, sob supervisão de Isabelle Rosa