Dedé Santana, Alexandre Borges e Fioravante Almeida na peça 'Palhaços' - Mario Camelo
Dedé Santana, Alexandre Borges e Fioravante Almeida na peça 'Palhaços'Mario Camelo
Por BRUNNA CONDINI

Rio - E o palhaço, o que é? Na definição de Dedé Santana, que está estreando o espetáculo quase homônimo, 'Palhaços', no Teatro Clara Nunes, na Gávea, é: "Um artista como outros, que também tem suas dificuldades na vida, suas tristezas, embora sempre faça rir. Essa peça mostra esse outro lado".

Dedé está em cena, ao lado de Fioravante Almeida, dirigido por Alexandre Borges, encarnando o protagonista da história de Timochenco Wehbi, um palhaço que tem a sua rotina alterada ao se deparar com um espectador em seu camarim. "Fui convidado e me encantei com a proposta. Fiz algumas peças, mas sempre em defesa do circo, para ele não acabar", conta o humorista, que antes de chegar ao Rio, fez temporada em Brasília e São Paulo.

"Topei na hora porque pensei: 'Legal, vou fazer o que sei, vou fazer rir'. Mas quando peguei o texto, não era o que pensava. Na verdade, é sobre esse lado que ninguém exalta do palhaço, as dores, o fim de carreira. A peça também é um pouco o retrato do fim do circo. O circo brasileiro está acabando. Quem está com uma lona levantada é herói. É preciso ajuda pública. Não gostaria que o circo acabasse. Grandes atores vieram dele, como Lima Duarte, por exemplo". 

Espetáculo 'Palhaços' - Tatiana Coelho

Cria do circo

Apesar da comédia não ser o gênero dominante na montagem, ele é íntimo do universo do personagem. "Nasci no Circo, que era do meu pai. Minha mãe foi a maior contorcionista da América do Sul", conta ele, que pertence à oitava geração de artistas circenses na família e é um embaixador do circo.

"Estreei no picadeiro com 3 meses de vida, entrei numa cena com minha mãe no lugar do boneco. Com 7 anos, eu já era palhaço. Sei fazer de tudo num circo, trapézio, até armar e desarmar lona. Vim pro Rio com 17 anos, passei dificuldades e até fome. Fui fazer limpeza num teatro e, um dia, um ator faltou, me aproximei e comecei a trabalhar".

Desafio

Manfried Sant'Anna, o Dedé Santana, comenta que seus sonhos iniciais nada tinham a ver com o circo ou a comédia, e que tudo foi um caminho natural. "Sonhava em ser piloto de avião, o que era inviável, um universo caro, e também queria fazer cinema", lembra o ator, que iniciou o grupo que o eternizou no imaginário de gerações, 'Os Trapalhões', ao lado apenas de Renato Aragão, o Didi, em 1960. Mais tarde, se juntariam aos dois Mussum e Zacarias. Eles fizeram juntos 21 filmes e foram responsáveis por recordes de bilheterias, garantindo o sonho de Dedé se tornar artista de cinema.

Espetáculo 'Palhaços' - Tatiana Coelho

Aos 83 anos, ele conta que a rotina no tablado é puxada, mas isso não o assusta. "Nem eu sei de onde tiro energia. Quando entro no palco, me sinto um garoto", diz.

"Já achava o Alexandre talentoso, mas estou gostando muito de ser dirigido por ele. Em cena, está o Dedé palhaço que não tem nada a ver comigo. Não é o Dedé cômico, que leva torta na cara. É completamente diferente de tudo que já fiz, um desafio. É um trabalho para o público se emocionar, pensar. É lindo o texto".

VERSÃO DO DIRETOR

Alexandre Borges rege o encontro entre Careta (Dedé Santana) e Benvindo (Fioravante Almeida), um vendedor de sapatos. Em cena, ambos questionam a própria existência de uma maneira espirituosa, opondo o palhaço profissional ao da vida. "Temos a visão do palhaço como de quem nos transporta para a fantasia sempre, e a curiosidade de saber como ele é na intimidade. Na peça, os dois saem transformados", observa o ator, que também está no ar em 'Verão 90', na Globo.

Alexandre Borges, Dedé Santana e Fioravante Almeida na peça 'Palhaços' - Tatiana Coelho

Alexandre, que está em sua quarta direção teatral, exalta o talento desconhecido de Dedé. "O desempenho dele como ator dramático é fantástico. E ao mesmo tempo, tem o politicamente incorreto. O Dedé, como outros atores brasileiros, são exemplos de profissionalismo, de amor à arte. Estamos falando de pessoas com 60 anos de carreira", elogia o diretor. "Dirigir o Dedé está sendo uma emoção muito grande, e o personagem não tem nada a ver com ele. É amargurado, sente muita raiva do que está acontecendo com o circo, com a arte. O Dedé é um gentleman". 

Você pode gostar
Comentários