Jorge Aragão em feijoada em Bangu - Marcos Hermes
Jorge Aragão em feijoada em BanguMarcos Hermes
Por RICARDO SCHOTT

Os setenta anos, Jorge Aragão completou em março. Mas a comemoração acontece mesmo é a partir de agora. O cantor e compositor sobe hoje no palco do Vivo Rio para dar o pontapé inicial na turnê 'Jorge 70', que faz jus ao nome: vai percorrer setenta cidades, trará uma média de setenta canções (a serem exploradas show após show) e, pelo menos no que depender da vontade do sambista, vai ter uma média de setenta convidados.

Setenta convidados? O autor de 'Coisa de Pele' diz que isso pode rolar, mas vai ser na total informalidade, como numa roda de samba. Para o show do Vivo Rio, de qualquer jeito, Alcione já está confirmada.

"A gente vai circular pelo país e ver quem está na disposição. De repente a gente vai para o Nordeste e vê se a Elba Ramalho pode, ou algo assim. Tem gente que vai ter show no mesmo dia que o meu, então não vai dar. É uma celebração, não é exatamente um espetáculo, é quem estiver podendo ir lá me dar um abraço!", conta Jorge. "Eu vou receber as pessoas e quem puder lá para cantar uma coisinha, tomar um caldinho de feijão, vai ser ótimo. Mutos convidados vão ser surpresa. Mas te falo que vai ter de tudo: do Zezinho das Couves ao Zeca Pagodinho!", brinca.

Madrinha

A turnê 'Jorge 70' vai ter muitos nomes do samba, e uma ausência que não tem como ser preenchida. Beth Carvalho, uma das primeiras pessoas a dar atenção para o som dos músicos do bloco Cacique de Ramos (que originou o Fundo de Quintal, grupo do qual Jorge fez parte), morreu em abril. A sambista seria naturalmente uma das primeiras a serem lembradas para a lista de convidados. Jorge, saudoso, diz que não é no show que ela vai fazer falta.

"Beth vai fazer falta enquanto eu viver. Nunca mais vou ter a coisa física, de poder ver a Beth, dar um abraço, conversar sobre música. Mas no palco, numa roda de samba, a Beth sempre vai estar, sabe?", conta o co-autor de 'Coisinha do Pai', sucesso imortalizado pela cantora. "Ela não vai sair de cena nunca. A musicalidade dela ficou entranhada no meu autoral".

Repertório

Os shows vão ter repertórios variáveis, mas sempre tem os clássicos. De uma vez só, Jorge solta alguns sambas indispensáveis que vão estar nas apresentações: 'Eu e Você Sempre', 'Lucidez', 'Moleque Atrevido', 'Alvará', 'Malandro', 'Vou Festejar', 'Coisinha do Pai', 'Enredo do Meu Samba', 'Coisa de Pele', 'Terceira Pessoa', 'Do Fundo do Nosso Quintal', entre outras.

"Meu repertório surgiu na minha frente de uma vez só. Estou cantando músicas de cinco décadas atrás, como se tivesse gravado esse material agora", garante o sambista.

Normalmente artistas com estrada longa reclamam que seu público quer ouvir músicas antigas e não liga para as novas. Se há um compositor que não perde uma noite de sono por causa disso, esse artista se chama Jorge Aragão da Cruz.

"Tem uns dez anos que não lanço disco de inéditas. Não me faz falta", garante. "Graças a Deus sempre tenho casa cheia, os shows ficam tão lotados que, quando chego para cantar, parece que tô levitando. O melhor já tá feito, não adianta ficar inventando: 'Ah, vou gravar isso, fazer música nova'. As pessoas querem ouvir o que eu já fiz e ouvem até com certa saudade. Eu canto para quem já é avô e hoje estou cantando para os filhos e netos", diz.

Saúde

Portando 20 stents no coração, Jorge Aragão cai na estrada, mas se cuida como pode. "Vivo dentro dos conformes que o gasto normal do organismo permite. Preciso caminhar mais, mas cadê que eu consigo? Moro de frente para a praia e vejo todo mundo caminhando ali, daí fico querendo dar cabeçada na parede. Tenho que fazer exercício e estou me programando até agora", brinca. "Mas fora isso, é cuidar da música".

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