Alexandre Henderson é apresentador do Expedição Rio, da GloboManoella Melo/Globo

Rio - Alexandre Henderson, 46 anos, apresenta o "Expedição Rio", programa exibido nas tardes de sábado na TV Globo e que estreou recentemente a quarta temporada. Ao lado da jornalista Daniella Dias, ele explora paraísos e cantinhos pouco conhecidos dos cariocas, incluindo na Baixada Fluminense e na Costa Verde.
O repórter também aparece volta e meia no "Bom Dia Rio" e "RJTV", mostrando desenvoltura e improviso em pautas culturais. Tudo isso tem um motivo. Além de jornalista, ele é ator e estreou na emissora no seriado "Brava Gente", em 2001. Depois, assumiu o comando do "Globo Ciência", em 2007.
Nascido no Rio Comprido, Zona Norte do Rio, Alexandre se diz cria da "ZN" e ama samba. Ao Meia Hora, ele contou um pouquinho sobre sua infância e os bastidores do programa "Expedição Rio". Confira! 
Conte um pouco sobre sua relação com o Rio? Onde passou sua infância?
Eu sou carioca da gema, nasci no Rio Comprido e morei uma boa parte do tempo na Tijuca. Estou há quase oito anos no Flamengo, mas sou cria da Zona Norte. Passei uma boa parte ali no meu Rio Comprido, no clube Helênico, que era Minerva antigamente, e estudei em algumas escolas do bairro. Tive uma vida feliz ali.
Fui criança de vila, soltava pipa, jogava bolinha de gude... A vila ficava na rua Itapiru e ia até a Barão de Petrópolis, tinha muita criança, e eu fui criado nessa pegada que todo mundo se conhecia. Eu não fui menino de condomínio. Catei muito saquinho de São Cosme e Damião pelas ruas.
O que curte fazer na cidade nos momentos de lazer?
Adoro samba, escolas de samba. Eu sou portelense, fui criado ali, frequentei muito o Salgueiro, que era na Tijuca, e frequentava as roda de samba do Helênico, era do lado da vila onde eu morava. Então, desde pequeno, vi ali tocar Bebeto, Jovelina Pérola Negra... Eu a com família, fui acostumado com roda de samba.
Como surgiu a paixão pela Portela e pelo samba?
Hoje é engraçado quando eu chego na Portela. Eu não tenho nenhuma relação de moradia com Madureira, mas sou portelense, meu tio-avô foi portelense. Quando eu entro lá é como se eu fosse criado ali, as tias da Velha Guarda me conhecem, Tia Surica, a falecida Tia Doca… Comecei a frequentar no final de adolescência, mas eu tenho meu tio-avô, que frequentou lá. Meu tio, inclusive, ganhou uma homenagem recentemente, porque ele foi um dos fundadores da Renascença, onde também vou.
Então, não é a família inteira que é ligada ao samba. Esse meu tio-avô, ele era muito... É uma história belíssima. Meu tio-avô, chamado Juvêncio Jacinto de Oliveira, foi casado com a sobrinha do Grande Otelo. E ele, aos 26 anos, negão, passou no Ministério Público e se tornou promotor em Minas Gerais.
O Renascença foi formado naquela época, por negros e negras, muitos militares, tinha médico também, que tinham uma certa dificuldade de criar um ambiente. Era difícil o negro entrar num clube. Na verdade, eles se reuniram e pensaram "vamos todos juntar e formar um clube", que não era nesse formato do Renascença que a gente vê hoje. Mas eram negros e negras que estavam ali crescendo e que fundaram aquele clube que era voltado para isso. "Onde não nos aceitam, onde não somos bem recebidos, a gente cria a nossa estrutura" e ele faz parte daquela leva inicial do clube. Foi uma emoção. Eles me homenagearam no Renascença no ano passado e fizeram uma homenagem em memória para ele. 
Você estreou na Globo em 2001 na série 'Brava Gente'. Conte um pouco sobre sua carreira de ator e como e quando aconteceu sua transição para o jornalismo?
O "Brava Gente" foi um trabalho importante porque fiz o mestre-sala da história que, na trama, era um papel de destaque. A história foi uma adaptação de Othelo e do conto "A morte da porta-estandarte", com direção do saudoso Herval Rossano. Fiz participações especiais também em produções como "Malhação" e na novela "Sinhá Moça".

No teatro, dentre os trabalhos, destaco o espetáculo "Ai Ai Brasil", musical dirigido por Sérgio Britto no ano 2000. E "Jornada de um poema", com direção de Diogo Vilella, em 2002. Viajei pelo Brasil e tive a honra e alegria de dividir a cena com Glória Menezes.

Em 2005 me formei em jornalismo, pela UFRJ e estreei como apresentador no programa "Nota Dez", que integrava o projeto "A cor da Cultura", no Canal Futura. Dali em diante não parei. Fui convidado para ser âncora do semanal "Globo Ciência", um dos programas de divulgação científica mais antigos da TV Brasileira.

Quando houve mudança na grade das manhãs de sábado da Globo e foi criado o "Como Será?", fui chamado para apresentar o quadro "Hoje é dia de". A dobradinha com Sandra Annenberg foi um sucesso. Viajei o Brasil e fui para o exterior para gravar o programa.

Com o fim do programa passei a integrar a editoria Rio de Jornalismo da Globo. Participei de coberturas importantes e tive a oportunidade de fazer projetos especiais lá dentro. Sou só alegria! Ano passado fui à África para gravar o "Vim de lá", projeto que mostrou os laços entre o Rio e Angola, desde o período da diáspora africana na nossa cidade.

E celebro a quarta temporada do "Expedição Rio", que a cada ano, vem ganhando o carinho dos telespectadores.
Conte um pouco sobre a experiência de gravar a quarta temporada do 'Expedição Rio', que explora lugares e experiências pouco conhecidas entre a maioria dos cariocas.
Tem muita novidade, é o Rio que o Rio não conhece, né? É o Rio que os cariocas e os fluminenses não conhecem, ou pouco conhecem. Essa temporada tem uma novidade que telespectadores pautam também, isso é muito legal, porque aproxima. A gente criou uma hashtag e eles mandaram várias sugestões, depois a gente tem um carro adesivado com um QR code. Aí, as pessoas se aproximavam lá com o telefone e mandavam as sugestões.
A outra novidade é que é a primeira vez que a gente entra na Região dos Lagos e na Costa Verde. É muito interessante a "Expedição" porque a gente foge do roteiro turístico tradicional. Então, a gente traz lugares e culturas inusitados.
Que tipo de experiência inusitada o público verá nessa temporada?
A gente gravou o arroz anã. Eu sou carioca e nunca tinha ouvido falar do arroz anã, que é lá de Cantagalo, de um lugar chamado São Sebastião da Paraíba. É muito legal porque é uma atividade que vai passando de geração para geração. Lá, as pessoas não comem arroz em saco. Todo mundo consome o arroz anã, que é um misto de arroz indiano, de arroz japonês, com produção local, que já vem lá do bisavô... Enfim, várias gerações que aprenderam a cultivar e muitos cultivam no quintal da casa.
Também tem a relação com o Rio Paraíba do Sul, que irriga aquilo ali, e poucas pessoas conhecem. É muito legal, porque não é só um lugar inusitado, é uma atividade inusitada, é uma gastronomia com uma ligação ancestral, envolvendo aquela memória do avô e da avó. É muito legal porque você dá visibilidade aos lugares, mas o programa também dá protagonismo a essas pessoas.
A gente faz uma homenagem aos artistas do nosso estado que não são conhecidos e que produzem artes nas formas variadas. É arte de ciência, é arte da fotografia. Você coloca essas pessoas no pedestal e isso inspira outras também.
O programa tem momentos de emoção também?
Teve uma situação que gerou uma emoção profunda em mim, e na Dani também. A gente estava fazendo uma pauta de comida na Zona Oeste, que era um pastel de polvo feito em uma panela de um fogão à lenha. E naquele momento a gente descobriu a figura de uma rezadeira. A mãe da menina que fez o prato, ela é rezadeira, a avó também foi. E lá ela nos reza. Aquilo acessou uma memória minha de infância, porque eu tive uma avó que foi rezadeira, que rezava a gente com barbante. Então, são situações que, assim, são essas pessoas simples, que, de certa forma, elas trazem, em nossas memórias, algum momento da infância.
Tiveram muitos momentos de perrengue? 
Vários, porque a gente anda no meio de mato. O primeiro perrengue é a mosquitada. A gente já tem cheiro de repelente. Teve uma trilha que a gente tinha que fazer para dar acesso a uma caverna. Essa caverna não tem uma história definida. Existe uma versão de que foi um local onde escravizados se refugiavam. E aí essa trilha já era um perrengue. E a caverna, quando acenderam a luz, ela estava repleta de morcegos. Foi uma situação onde a gente ficou: "E aí? Vamos entrar? Não vamos?" E grito pra cá e grito pra lá.
Teve outra situação de um lugar de mangue. A gente foi no Saco do Mamanguá, em Paraty, você tinha mar, mar, mar, mar e, no finalzinho do Saco, uma região de mangue. O barco vai até um determinado lugar porque a maré tá baixa. A gente foi fazer a maré, e quando a gente volta ela sobe. E aí foi um perrengue para a equipe inteira poder voltar porque o barco estava muito longe. Mangue tem de tudo: caranguejo, siri, cobra... E gritam daqui, gritam dali, quando enrolam algum negócio na perna, acham que é um bicho...
Mas, assim, é muito legal, tem essas situações trépidas, mas é a quarta temporada, é um trabalho que vai sendo cada vez mais aceitado, é uma equipe que é apaixonada por esse projeto. Eu e Dani, a gente tem uma sinergia, porque a gente, além de ser companheiro de trabalho, se tornou amigos, as nossas famílias se conhecem, então, só no olhar, a gente já se fala.
Tem algum episódio que você destaca no programa? Algum lugar que te chamou mais a atenção?
Eu destaco a Costa Verde. E a gente também vai pela primeira vez para lá. Percorrer a Ilha Grande e Paraty vale super a pena e foi muito revelador. E, ali, eu vi o quanto aquele pedacinho que está do Rio não deixa desejar a nenhum outro cenário lindo, maravilhoso ao mundo. Eu consegui ver paisagens que eu não conhecia. Eu ia gravar e pensava "meu Deus do Céu, que privilégio, que alegria estar aqui. Obrigado".