Renato Ritto é o autor de ’Marketing do Amor’Divulgação

Rio - O que você faria caso se envolvesse com um estrangeiro maravilhoso em uma festa e depois descobrisse que ele é seu novo chefe? Essa situação embaraçosa é exatamente o que acontece com Thiago, protagonista do livro "Marketing do Amor" (Ed. Intrínseca), do autor Renato Ritto. Na trama, Thiago trabalha como diretor de arte na caótica Agência Brilho. Ele acaba se envolvendo com Vlado, mas tudo vira de cabeça pra baixo quando descobre que sua empresa está sendo vendida para uma multinacional e que aquele cara incrível que ele conheceu por acaso vai se tornar seu novo chefe. 
"Marketing do Amor" é todo narrado através de trocas de emails, mensagens de texto, notícias de jornal e até mesmo cupons fiscais. O autor Renato Ritto conta que a ideia para o divertido romance surgiu durante a pandemia. "Tive a ideia pra escrever o livro um dia fazendo uma caminhada logo no início da pandemia. Mas como não tinha certeza se as pessoas aceitariam o formato, se isso daria certo, antes de me propor a escrever o romance todo, decidi escrever o conto 'Brilhante'. Como deu muito certo, quis me propor a escrever a história longa que eu já tinha pensado. Deu um trabalhão, mas no fim deu certo", revela o escritor, fazendo referência ao conto "Brilhante", que lançou de forma independente. 
Depois que descobrem que trabalham na mesma empresa, Thiago e Vlado arrancam boas gargalhadas dos leitores com as situações inusitadas com as quais têm que lidar em sua relação profissional. "A ideia de se apaixonar pelo chefe e do tom um pouco 'vergonha alheia', mas facilmente identificável, tirei dos romances da Sophie Kinsella, uma autora por quem eu fui apaixonado durante a adolescência. Tem um livro dela delicioso, 'O segredo de Emma Corrigan', que tem uma proposta de contar coisas que não deveria para um homem aleatório num avião e, depois, descobrir que na verdade ele era seu chefe o tempo todo. É incrível, me inspirei nesses conflitos", revela.
Formato
O formato inovador com o qual "Marketing do Amor" foi escrito deixa a obra ainda mais dinâmica e divertida. Renato conta como foi seu processo de criação e confessa que foi bastante trabalhoso conceber uma história inteira através de trocas de mensagens. "Nossa, esse processo foi muito difícil! Envolveu muito pensamento na forma, todas as vezes, antes mesmo de eu decidir o que iria narrar... Não dá pra narrar qualquer coisa num livro que se propõe a ser contado todo em formato de redes sociais e mensagens de texto. Tem coisas que você não fala ou não mostra propositalmente pela internet, mas eu precisei criar maneiras de que os personagens fizessem isso com naturalidade. De forma mais prática mesmo, escrevi o livro como um grande roteiro", explica. 
"Coloquei indicações do que precisaria ser diagramado na página já pensando no produto final e as minhas editoras de texto dentro da Intrínseca conversaram com o estúdio pra pensar no projeto gráfico em cima do que eu tinha escrito. Decidi contar a história dessa forma porque percebi que a gente cria narrativas nas nossas interações online. É claro, eu já sabia disso porque já tinha lido livros assim. Mas eu queria uma história que não fosse heterossexual narrada dessa forma. Sinto que faltam comédias românticas ao estilo 'chick lit' pra gente", afirma. 
Romance LGBTQIA+
E por falar em romances LGBTQIA+, Renato reconhece que hoje em dias existem muito mais livros com representatividade do que antigamente. No entanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
"Eu reconheço o meu privilégio de ser um autor branco e homem, mesmo sendo gay, dentro do mercado. Isso fala bem mais alto. Acho que avançamos um pouquinho sim, mas não dá para desconsiderar que ainda temos um longo caminho a percorrer até que outras pessoas da sigla, e principalmente pessoas pretas, amarelas, indígenas, estejam lançando livros e tenham mais espaço", analisa.
"É muito difícil encontrarmos romances com protagonismo lésbico sendo publicados no Brasil, ou livros com personagens trans como protagonistas. É um caminho que começou a ser percorrido, mas a passos lentos e só... sei lá, só uns 500 metros", lamenta. 
O autor também ressalta a importância do apoio das editoras nesse percurso a ser percorrido. "Achei muito legal que a Intrínseca embarcou nessa comigo sem restrições. A capa do livro pra mim é uma grande fofura, e eu sei que muitas editoras não fariam dessa forma pra evitar um possível boicote, mas a Intrínseca comprou a briga. É um exemplo pra que outras editoras também apostem em minorias sexuais e, principalmente, étnicas. Fiquei muito feliz com o anúncio de que alguns colegas também vão publicar pela Intrínseca, como a Olívia Pilar, o Fábio Kabral e o Franklin Teixeira, além do Jim Anotsu, que também já é da casa. Espero que venham cada vez mais e que a gente consiga democratizar, um pouquinho que seja, esse mercado tão fechado". 
Leveza
É muito comum que obras que abordam sexualidade sejam focadas em aceitação e preconceito. Em "Marketing do Amor", Renato Ritto fala sobre o relacionamento amoroso entre dois homens de forma natural. O autor acredita que é, sim, importante falar de questões conflituosas. Mas também é preciso que esse público se veja representado em romances mais leves ou que abordem outros temas do cotidiano.  
"A gente cresce e continua sendo gay. Eu, pelo menos, sou gay e continuo sendo gay enquanto adulto. Esses conflitos (aceitação e preconceito) são importantes, a gente precisa tratar deles e de maneira nenhuma diminuo a importância de livros que tratem deles. Mas também precisamos de livros que falem sobre outras questões. Acho que conflitos familiares, escolhidos ou de sangue, e no trabalho são coisas que a gente enfrenta diariamente quando adulto. Claro, o preconceito faz parte da nossa vida, mas temos outros conflitos também. E a naturalidade (de 'Marketing do Amor') parte da necessidade de contar mais sobre o nosso cotidiano. (O livro é sobre) Quem nós somos de verdade, não quem projetamos ser ou uma cartilha pra educar os outros de quem somos. É só mais real", afirma. 
Sucesso
Fato é que a resposta do público foi muito positiva e, desde que lançou o livro, Renato tem recebido muitas mensagens de leitores. "Os leitores têm me mandado mensagens empolgadas! Já recebi algumas que me fizeram chorar (risos). Eu respondo todo mundo nas redes sociais. Tem sido uma troca muito, muito boa. É sempre legal de ver que o que você escreve ressoa nos outros. Amo quando me mandam mensagens dizendo o que sentiram ao ler o livro", avisa.