Bruna Aiiso interpreta a psiquiatra Laurita, na novela Terra e PaixãoRafael Mollica / Divulgação

Rio - Bruna Aiiso, de 36 anos, tem chamado atenção ao interpretar a médica Laurita, na novela "Terra e Paixão", da TV Globo. Na trama de Walcyr Carrasco, a atriz vive uma psiquiatra extremamente antiética e é uma das responsáveis por ter provocado a dependência em medicamentos controlados da amiga, Petra (Débora Ozório). Em conversa com o DIA, a artista dá detalhes sobre a construção de sua personagem, ressalta a importância de retratar temáticas que perpassam a ética médica e ainda fala a respeito dos desafios enfrentados por mulheres amarelas na indústria cultural. 
"Eu a vejo como uma personagem de muita responsabilidade social, quase que de serviço público, sabe?", inicia a artista sobre a relevância da médica Laurita na trama das 21h. "Eu arrisco dizer que pela primeira vez estamos tratando não só do assunto da dependência dos remédios controlados — que é muito importante e muito mais presente na nossa sociedade do que eu imaginava —, mas também da questão da ética, né? Da falta da ética médica, no caso, um assunto que precisamos falar cada vez mais", pontua.
Bruna afirma que por mais que este seja um tema "delicado", também poderá contribuir para a humanização dos profissionais de saúde e fomentar uma reflexão sobre sua atuação. "Não é um assunto confortável e talvez a classe médica não se sinta tão prestigiada ao vê-lo retratado nas novelas. No entanto, antes de construir a personagem, uma médica psiquiatra me disse que ficava feliz ao me ver abordando o tema, pois entendia que colocar uma personagem médica nessa situação poderia fazer com que as pessoas pudessem humanizá-los", relembra a atriz, que participou de várias consultorias com psiquiatras e psicólogos para construir a personagem.

"Com humanizar eu quero dizer que podemos reconhecer que essas pessoas são seres humanos, que falham, que erram, que coisas erradas também existem, como também, obviamente, existem bons profissionais. Eu interpreto essa personagem como uma responsabilidade social mesmo, de passar mensagem, informação, mostrar que essas coisas existem e acontecem, por mais absurdas que pareçam", pondera.
Questionada sobre o futuro de Laurita, a artista admite torcer para que ela pague judicialmente pelas consequências de seus atos. "Eu sempre digo que novela é entretenimento, mas é entretenimento com responsabilidade. Acredito que, para gostarmos de uma história, é necessário que acreditemos nela. Por isso, torço para que ela sofra essa espécie de retaliação e, inclusive, acredito que o público também", revela Bruna, que diz receber vários retornos sobre a personagem no Twitter.
"Eu recebo mensagens das pessoas dizendo que querem muito que o CRM dela seja cassado, que a Polícia Federal bata no consultório dela… Eles querem muito que ela seja presa, desmascarada e eu acho que seria muito interessante vê-la passar por isso, já que daria uma sensação de 'justiça sendo feita', sabe? O público sempre espera que os vilões sejam punidos e desmascarados e eu acredito que esse momento vai chegar…", reflete. 
Ao falar sobre quão desafiadora é a conquista de espaços na mídia brasileira sendo uma atriz de ascendência japonesa, Bruna Aiiso reconhece que artistas amarelos sofrem com uma intensa invisibilidade nas obras audiovisuais. "Na dramaturgia, nós [amarelos] somos extremamente excluídos, apagados. Então, muita gente acha que não existem muitos atores amarelos hoje no Brasil, mas isso é uma mentira absurda, porque nós somos muitos, mas muitos mesmo", garante.
"Só temos essa impressão porque falta gente, né? Você liga a televisão e eles não estão lá. Assiste a um filme em uma plataforma de streaming, eles dificilmente estão lá. Vocês [não-amarelos] não veem, mas eles existem. Então, assim, o que falta é a oportunidade", finaliza a artista.
Reportagem da estagiária Esther Almeida sob supervisão de Tábata Uchoa
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