A atriz Simone Zucato enfrentou um câncer e decidiu largar a medicina para se dedicar ao teatroDivulgação
A arte é um aprendizado contínuo. Minha estreia profissional no palco foi com a peça: “De Corpo Presente”, com texto e direção de Mara Carvallio em 2007, em São Paulo. Eu interpretava Lilia, a filha caçula de um casal de artistas que era homossexual. Foi algo muito emocionante e importante para mim, pois além de finalmente realizar meu sonho em fazer arte, também estava dando voz para questões essenciais e tão necessárias até hoje, como o combate ao preconceito. E eu acredito que como artista, esse é o meu papel.
Eu posso dizer que foi muito tranquilo. Natural. Eu atuo desde a minha infância. Eu comecei com aulas de teatro no ensino primário e essa é a minha paixão desde então. Eu nunca pensei em ser outra coisa que não uma atriz na minha vida. Quando fui para a faculdade de medicina, eu pensava “Meu Deus, como eu vim parar aqui?”. A vontade do meu pai em ter uma filha médica era muito grande e eu sempre quis agradá-lo. No início, para pagar meus estudos como atriz, trabalhei muito como médica. Com o surgimento de trabalhos como atriz fui diminuindo minhas horas como médica até que um dia fui diagnosticada com câncer de mama. Foi então que eu vi que a vida é muito rápida para fazermos aquilo que não amamos. Por algum motivo a vida me fez ser a atriz que teve que ser médica também. E eu me orgulho disso. Me orgulho da minha formação e sou extremamente grata à educação que meus pais me deram com muito sacrifício. Por outro lado, a medicina permitiu que eu me formasse como atriz. Nunca foi fácil. E não só isso! A medicina me ensinou muito como ser humano! Eu sempre fui uma médica muito cuidadosa e muito responsável. Ser médica no Brasil requer mais do que amor à profissão. Vi muitas situações difíceis. Mas preferi ajudar a mudar essa realidade através da arte e hoje eu entendo que eu sempre serei a atriz e também sempre serei a médica. Meus pacientes iam me ver no teatro e como eu ficava feliz em poder proporcionar isso a eles.
Fui criada por uma família mexicano-americana durante minha infância e adolescência. As pessoas que me conhecem bem dizem que eu falo melhor o inglês e o espanhol do que o português. Sem falar que eu vejo o mercado de trabalho para o ator se expandindo muito nos últimos anos. Com o crescimento de serviços de streaming, o aumento das produções, a possibilidade de se fazer um teste de casa, pelo celular, eu acredito que as chances em trabalhar em outro país aumentaram também. A pandemia desacelerou um pouco isso, mas as produções estão sendo retomadas aos poucos e estão voltando a acontecer. Eu adoraria passar um tempo trabalhando fora do país porque atuar é diferente em cada país e isso é um exercício e tanto para um ator.
Minha experiência como produtora infelizmente me fez ver que o brasileiro frequenta muito pouco o teatro. Não é apenas uma questão cultural. É muito mais complexo do que isso. É uma questão educacional somada a uma questão socioeconômica. Muitas pessoas não vão ao teatro porque mal conseguem pagar suas contas. E mesmo sabendo que existem estratégias para dar um maior acesso ao teatro, mesmo oferecendo ingressos gratuitos, muitas vezes nos deparamos com a falta de uso dessa cota de ingressos.
Pisar em um palco é sempre uma alegria imensurável para qualquer ator. Eu nem pensei em doença quando subi aos palcos com “Sylvia - Uma Comédia Romântica”. Eu tinha acabado de fazer uma novela e já estava curada da doença. Quando a gente faz o que gosta, a gente fica tão preenchido que não tem espaço para pensar em coisas negativas, coisas ruins. A gente só agradece e se entrega ao personagem de corpo e alma, para levar uma mensagem ao público.
O Vison Voador se trata de uma comédia no estilo vaudeville. Faço parte de um elenco muito bom, talentoso e que faz muito teatro em São Paulo. Tem sido uma alegria trabalhar com colegas tão talentosos. Além de ser um grande aprendizado, nos divertimos muito! E a direção está tendo o cuidado de fazer a comédia para que ela seja com verdade, sem caricaturas, sem exageros. Com um estudo minucioso sobre os personagens, sobre essa história. Acredito que vamos ter um resultado muito elegante e divertido para o público e espero que seja um sucesso. O maior desafio que tenho nesse trabalho, como atriz, é o de interpretar uma personagem bem mais jovem, fútil e que precisa mostrar o oportunismo de uma forma muito verdadeira e discreta. Porém, como também sou produtora, vejo que a produção tem dois desafios maiores. O primeiro é que o texto é datado da década de 80. A peça estreia no dia 10 de fevereiro, no Teatro Raul Cortez.
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