Dandara Queiroz, atriz de origem tupi-guarani que é sucesso na novela "No Rancho Fundo"Reprodução
Fui criada no interior do Estado do Mato Grosso do Sul, na cidade das águas, Três Lagoas. Vivi uma infância brincando nas ruas de terra da casa da minha avó e no rancho que a gente ia na beira do Rio Sucuriú. Minha família me criou muito solta, eu amava brincar na rua, comer frutas do pé. Deve ser isso que somou na minha essência de liberdade e aventura.
Antes de ir embora de casa, eu trabalhava como voluntária em uma ONG de proteção animal e, posteriormente, desenvolvi um gatil com a minha irmã para abrigar os animais resgatados em situações difíceis.
É uma honra poder usar minha voz para trazer assuntos tão importantes. No meu estado, tive a oportunidade de ser embaixadora do Projeto Coração Rosa, que fala sobre a conscientização e prevenção do câncer de mama.
Também trabalhei em conjunto com as lideranças indígenas que conheço para conectar as necessidades das comunidades indígenas e o que podemos contribuir para sociedade colonizada.
Atualmente, como apresentadora, estou mergulhando no mundo da sustentabilidade e quero ir fundo nessa, pelo amor e respeito que tenho pela natureza.
A minha religião é a espiritualidade e meus templos são as matas. Tenho uma conexão muito forte com o xamanismo, curandeirismo e com a umbanda. Posso dizer que tudo isso rega a minha intuição, que me trouxe até aqui.
Eu já tinha pensado em ser atriz, mas foi um sonho muito desmotivado pela realidade que eu vivia, assim como a moda também era. Só que tudo conspirou, e quando tive a oportunidade de fazer meu primeiro teste como atriz, entendi que muito daquela profissão fazia parte do meu jeito comunicativo e expressivo de ser, então me dediquei aos estudos e oportunidades que foram surgindo.
Meus próximos passos para esse ano de 2025 serão começar com o cinema. Em breve vou poder falar mais sobre o filme que vou protagonizar no primeiro semestre do ano.
Fazer a novela No Rancho Fundo foi como uma faculdade para mim. Diariamente, aprendendo e pratico com grandes nomes da dramaturgia brasileira, que antes eu assistia da televisão da minha casa enquanto sonhava.
É uma alegria diária quando percebo que faço parte dessa história encantadora.
A minha ancestralidade é a minha base, eu tenho muito respeito e admiração pela sabedoria dos meus ancestrais, cultuo diariamente com meus cantos, grafismos, pensamentos, rituais e vivências.
Existe sim um preconceito, mas que na maioria das vezes é alimentado por uma alienação étnica e cultural. Como eu também quero ser uma boa ancestral, uso da minha visibilidade e representatividade para quebrar esses preconceitos e criar uma realidade melhor para as próximas pessoas que irão ocupar esse espaço.
Agora, com os meus 27 anos, eu estava pensando muito sobre o que é ser mulher. Tenho uma alma de criança que gosta de brincar até hoje, e me questionava se ser assim me deixava “menos mulher”. Mas com as vivências do meu dia a dia, minhas responsabilidades, atitudes, ideias e forma de ver o mundo, eu comecei a enxergar a grande mulher que sou e estou me tornando a cada desafio. O autoconhecimento fez com que eu me definisse como um mulherão!
Poder dizer que hoje sou uma modelo, atriz, ativista, cantora, apresentadora, artesã, arquiteta e mulher indígena é um grande combustível para inspirar mulheres que também pensavam que esses lugares estavam longe demais para se alcançar.
Eu sou uma menina do interior que, anos atrás, estava com um isopor cheio de sorvetes que eu mesma fazia e vendia no centro da minha cidade.
A primeira coisa que eu precisei fazer para seguir meu caminho foi acreditar que eu era capaz, ter coragem, ter fé. Isso me guiou para realidade que tenho hoje. Espero do fundo do meu coração que possa de alguma forma inspirar e servir para colorir sonhos.
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