Rio - O sofrimento dos servidores estaduais parece não ter fim. Enquanto o salário atrasado de abril é pago ‘pingado’ a 207 mil funcionários, eles tentam quitar dívidas também em parcelas. Ontem, o governo informou que depositaria mais uma parte de apenas R$ 300 dos vencimentos daquele mês, depois de ter creditado R$700, na semana passada.
Em janeiro, a coluna mostrou a situação de diversas pessoas que dependem da renda do estado para sobreviver, como a assistente administrativa da Clínica Piquet Carneiro, Thaisi Andrade, 28.
Ela diz que, até hoje, o cenário só piorou: acumula dívidas do cheque especial e da parcela do carro, e depende de ajuda da sogra e da mãe para garantir a alimentação dos dois filhos (um menino de um ano e uma menina de três).
Agora, ela e o marido — que é professor do setor privado e ficou desempregado — fazem ‘bico’ para garantir algum recurso. “Vendemos hambúrguer por aplicativo de comida, mas estamos no começo e não tivemos lucro ainda”, afirmou.
“Isso tudo tem afetado muito minha saúde. Minha imunidade está lá embaixo. Estou na terceira gripe só este mês”, lamentou a servidora, que juntou as parcelas depositadas, no total de R$ 1 mil, para fazer compras no mercado e quitar algumas contas atrasadas de maio.
Janete Oliveira, professora assistente de Japonês e Português da Uerj, 49 anos, também lamenta a situação de penúria a que chegou: “Já completei os requisitos exigidos pela universidade para passar a professora adjunta, mas por conta da crise do estado não consigo assumir”.
“É muito triste, porque eu tenho uma história de mais de 20 anos na Uerj. Nunca vi uma crise dessa maneira... E é a universidade que sempre foi mais ativa no Rio, com projetos voltados para a comunidade. Com essa crise, todos nós ficamos sem perspectiva”, completou.
Funcionários da Uerj fazem protesto hoje
Os servidores da Clínica Piquet Carneiro — que pertence à Uerj — farão um protesto hoje, às 8h30, em frente à unidade, na Avenida Marechal Rondon, 381. Os técnicos, enfermeiros e demais profissionais da clínica querem denunciar o caos a que chegou o espaço. Faltam materiais hospitalares até e condições dos servidores para irem ao trabalho.
E, ontem, os funcionários do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), também da Uerj, protestaram em frente à unidade contra os salários atrasados e também pela falta de condições de trabalho no local.
Ontem, o Hupe começou a reduzir pela metade o número de cirurgias e atendimentos ambulatoriais. A unidade faz o atendimento gratuito de pacientes da cidade e de outros municípios.
De acordo com a direção do hospital, os 200 leitos para internação serão reduzidos a 100, progressivamente, até que os problemas financeiros do hospital sejam resolvidos. O Hupe informou que, mesmo no atual cenário de crise, ainda são feitos 100 mil procedimentos ambulatoriais e 500 cirurgias por mês. Os números devem ser reduzidos em 40%.