Estado do Rio de Janeiro teve a redução mais expressiva das dívidas, na qual a relação entre despesas e receitas passou de 282%, em 2019, para 197%, em 2021 Daniel Castelo Branco
Apesar de ainda alto, o endividamento dos três Estados diminuiu desde a chegada da covid ao Brasil. No Rio de Janeiro, onde a queda foi mais expressiva, a relação entre dívida líquida e receita corrente líquida passou de 282% em dezembro de 2019 para 197% em agosto do ano passado, uma retração de 85 pontos porcentuais. No Rio Grande do Sul e em Minas Gerais, os recuos foram de 224% para 184% e de 192% para 162%, respectivamente, segundo o Itaú Unibanco.
A consultoria Tendências, que atribui notas para os Estados conforme níveis de receita, endividamento e despesas, também aponta que houve uma melhora considerável durante a pandemia. As notas vão de 0 a 10 e, quanto menores, maior o risco de insolvência. O Rio Grande do Sul, que teve a menor média em 2019 - de 0,03 -, chegou a 3,48 em 2021. Em Minas Gerais, a média passou de 0,12 para 2,62 e, no Rio de Janeiro, de 2,69 para 5,18
Apesar de os três Estados terem avançado em suas agendas de reforma, que incluíram privatizações e alterações na previdência, a chave para a mudança na área fiscal foram as medidas adotadas no País no início da pandemia. Com a Lei Complementar 173, Estados e municípios do País receberam R$ 76 bilhões do governo federal para compensar a queda prevista na arrecadação em 2020 (desse total, 62% foram destinados a Estados e ao Distrito Federal). A perda que municípios e Estados tiveram naquele ano, porém, ficou em R$ 28 bilhões, ainda segundo cálculos do Itaú. Isso garantiu um saldo positivo de R$ 48 bilhões - o banco não tem dados específicos para RJ, RS e MG.
Efeito da inflação
"A lei 173 estipulou um congelamento geral de salários de servidores públicos. Então, apesar da inflação alta, não houve reajuste ao funcionalismo. Sem a lei, parte da folga (na receita) gerada pela inflação teria sido consumida", diz a economista Juliana Damasceno, da Tendências.
Juliana afirma já prever, para este ano, uma reposição do poder de compra corroído dos servidores, mas destaca que a manutenção de uma situação fiscal mais confortável nos Estados vai depender das políticas adotadas pelos governos. "Alguns governos podem contratar agora a próxima crise fiscal ao fixar gastos permanentes baseados em um momento de melhora na arrecadação por motivos conjunturais. Já vimos isso acontecer antes."
O economista Pedro Schneider, do Itaú, destaca que os Estados estão chegando ao ano eleitoral com caixa. Em 2021, o superávit primário deles ficou em 1,1% do PIB, a última vez que um patamar desses havia sido alcançado foi em 2007. "Tenho poucas dúvidas de que os governos vão aumentar os gastos. A única dúvida é quanto vão conseguir gastar", diz.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.