A inflação acumulada nos últimos 12 meses tem pesado no bolso do brasileiroDaniel Castelo Branco/ Agência O DIA

O primeiro Dia das Mães após o fim da emergência sanitária de covid-19 no Brasil terá casa cheia, segundo a pesquisa da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj). O levantamento aponta que haverá mais comemorações do que no ano passado e o gasto médio do almoço será de R$ 370, divididos para a família. O prato principal, segundo os dados coletados pela entidade, será a carne bovina, mesmo com a alta do valor do produto.

O presidente da Asserj, Fábio Queiróz, comenta que em 2022 haverá uma retomada nos gastos para datas especiais. "Apesar da inflação, mesmo que precise fazer um esforço, dividindo a conta entre os familiares, o consumidor está mais propenso a retomar as comemorações", comentou.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do mês de março fechou com um aumento 1,62%. Já o acumulado de 12 meses chegou a 11,30%, o maior desde o início do plano real, em 1994. Na mesa dos brasileiros esse aumento pode ser visto no tomate que ficou 27,22% mais caro, e no preço da cenoura, que subiu mais 31,47%.
A contadora Ana Vogt, de 58 anos, diz que está empolgada com o almoço de domingo e vai receber os filhos, a mãe e a irmã, mas que a alta no preço dos alimentos não dá para ignorar. "Este ano fazer o almoço do Dias das Mães vai ser um desafio, devido a alta dos preços em todas as direções. Os produtos estão um absurdo de caros. Já há muito tempo nós tivemos que aprender a substituir nossa alimentação para que coubesse nos nossos orçamentos", desabafa.
Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) baseada no índice de Preços ao Consumidor - Mercado (IPC-M), do mês de abril mostra que a carne bovina demonstrou variação acumulada de 11,82% nos últimos 12 meses. O prato feito, com alface, tomate, batata inglesa, cebola, arroz, ovos e frango está 23,53% mais caro do que no mesmo período de 2020, nos primeiros meses de pandemia. O economista e pesquisador da FGV do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) explica que o aumento se deu por diversos choques climáticos enfrentados nos últimos três anos.
No caso dos grãos, como arroz, feijão, soja e milho, houve uma seca entre 2020 e 2021 que encareceu os produtos. "Nessa época houve 50% de aumento e a forte estiagem influenciou até energia. Logo depois, tivemos geada que impactou outras culturas como café e depois o arroz novamente. Em seguida, houve chuva excesso que é o que vivemos. Esse problema de chuvas em excesso atacando a lista de hortifruti, no alface, na batata e no tomate, sobretudo", explica.
Segundo ele, houve um choque na oferta pois enquanto um setor se recuperava o outro era afetado. Já o caso das carnes, há um problema maior e que também está correlacionado a alta dos grãos que servem de ração para o gado, sendo assim, o valor gasto na alimentação do bovino, acaba sendo repassado ao consumidor final.
Além disso, a desvalorização cambial, que fez o dólar beirar os R$ 6 durante o período de pandemia, inflou as vendas para o mercado externo, já que o Brasil é um país agroexportador. Sendo assim, a carne é um dos principais artigos vendidos e por esse motivo houve uma menor disponibilidade interna que aumentou o preço do produto.
"Com o dólar mais caro, temos mais incentivo para dirigir o produto para o mercado externo porque você ganha mais renda com a moeda em alta então, isso incentivou a exportação. Há também a demanda da China principalmente pós pandemia. Tanto que ano passado quando o embargo das carnes, tivemos uma queda da inflação e assim que a China suspendeu, a inflação voltou no mesmo patamar", exemplifica.
A boa notícia, segundo Matheus, no caso dos hortifrútis é que esses choque climáticos acabam, principalmente no inverno. Por isso, há melhor previsão para o setor. Já as carnes, tem tendência a seguir no nível atual. "O dólar tem baixado, mas ainda há o problema em aberto com a guerra por conta de fertilizantes que pode impactar a cadeia a longo prazo", detalha.
O economista Bernardo Lírio, dá uma dica para o consumidor driblar a inflação não só no Dia das Mães, mas durante a rotina de compras. A regra é, substituição e pesquisa, seja no caso de carnes ou outros artigos. 
"Sempre tentar pesquisar o máximo que puder. Ir em diferentes mercados e se possível, comparar questões de produtos substitutos, por exemplo: um determinado tipo de carne como file mignon substituir por um corte mais barato, ou até mesmo por um frango. A mesma coisa vale pra legumes e salada, alguns itens como cenoura e salada, que tiveram choque de oferta", concluiu.