Nesta sexta-feira, a Petrobras anunciou a queda de 5,5% do GLP (Gás Liquefeito de Petróleo)Agência Brasil

Após a Petrobras anunciar lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre nesta quinta-feira, 5, o presidente Jair Bolsonaro veio a público reclamar do número, que considerou um "estupro" ou um "crime". Mas, como o governo federal é o maior acionista da empresa, talvez o mais correto fosse comemorar, já que, quanto melhor o desempenho da empresa, mais dinheiro entra nos cofres públicos.

Entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos. Os números constam dos relatórios fiscais da companhia.
Nesse período, o lucro líquido foi de R$ 200 bilhões. Se a conta considerar o faturamento (R$ 1,16 trilhão), o valor transferido corresponde a 38,5% do total.

Considerando ainda o que a empresa paga a estados e municípios, o montante que entra nos cofres públicos chega a R$ 675 bilhões. Somente o valor pago à União corresponde a aproximadamente cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil previsto para este ano, em torno de R$ 89 bilhões. O dinheiro também chega perto do desembolso feito pelo governo em 2020 com gastos relacionados à covid-19, de R$ 524 bilhões.

O diretor executivo interino da Instituição Fiscal Independente (IFI), Daniel Couri, afirma que, dado o tamanho da contribuição da Petrobras, é muito relevante sua importância para a saúde das contas públicas do País. O cálculo, por alto, é de que, sozinha, a Petrobras responda por algo entre 1% e 2% do total da arrecadação federal, sendo o maior contribuinte individual.

"Provavelmente, sozinha, a Petrobras consegue pagar todas as despesas de saúde no Brasil", diz o especialista. Couri lembra ainda que parte desses recursos vindos da estatal não é dinheiro carimbado, ou seja, que já tem destinação obrigatória. 

A Petrobras foi a petroleira que registrou, em dólares, o maior lucro líquido no primeiro trimestre no mundo. Segundo levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economática, o lucro da Petrobras, de US$ 9,405 bilhões, foi quase o dobro dos US$ 5,480 bilhões registrados pela americana ExxonMobil, a maior petroleira do mundo em valor de mercado.

Ao rebater as críticas que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao tamanho do lucro da estatal, ainda na noite de quinta-feira, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse ontem que a disparada das cotações internacionais do petróleo turbinou os resultados de todas as petroleiras e que o lucro da estatal brasileira está no "mesmo patamar" do das demais empresas.

Entre as dez maiores companhias que já divulgaram resultados, o lucro da Petrobras foi maior do que o registrado por petroleiras que faturaram mais, como Chevron, BP, PetroChina, CNOOC e Eni Spa - a anglo-holandesa Shell ainda não divulgou o balanço.
A maior receita do mundo ficou com a PetroChina, que faturou US$ 122,929 bilhões no primeiro trimestre. Mesmo assim, a chinesa teve lucro líquido de US$ 6,161 bilhões, segundo os dados da Economática.

Todas as principais petroleiras do mundo viram suas receitas saltarem na comparação com 2021. A maioria também experimentou uma disparada no lucro líquido. Foi o caso da Exxon Mobil (100,7% a mais), Chevron (alta de 354,5%), Conocophillips (mais 486,5%), PetroChina (46% mais) e CNOOC (avanço de 1.315,9%). Mesmo nesse quesito, a Petrobras foi destaque absoluto, com disparada de 4.492% ante o primeiro trimestre de 2021.

O bom resultado é um efeito direto da guerra na Ucrânia, que fez disparar a cotação do barril de petróleo no mercado global, para um patamar acima dos US$ 110 o barril.
José Mauro Coelho após as críticas feitas pelo presidente disse que a empresa vai manter sua política de preços atrelada à variação do petróleo no mercado internacional.
"Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado", afirmou Coelho, em reunião com analistas de bancos para detalhar o balanço da Petrobras no primeiro trimestre, quando fechou com lucro de R$ 44,5 bilhões.

Segundo ele, quanto melhor o resultado da empresa, maior o volume de impostos que são recolhidos para a União, o que beneficia a sociedade.
"A arrecadação de R$ 70 bilhões em impostos no primeiro trimestre promove mais empregos, permite que Estados e municípios façam investimentos", afirmou.

Durante entrevista coletiva, Coelho falou especificamente sobre as críticas de Bolsonaro. Segundo o executivo, a preocupação de Bolsonaro com os preços dos combustíveis é "legítima", mas há uma "confusão" em relação aos principais "vetores" do resultado financeiro da companhia.

"Não há relação significante entre os resultados da Petrobras e o reajuste dos preços dos combustíveis. Para os senhores terem uma ideia, 80% dos ganhos do período (o primeiro trimestre) foram provenientes das atividades de exploração e produção de petróleo e apenas 20% de todos os demais segmentos", disse.

Segundo Coelho, a diretoria da Petrobras não é "insensível" aos elevados preços dos combustíveis nos postos. Tanto que a empresa "acompanha preços de mercado", mas não repassa a "volatilidade momentânea de imediato" para os preços. Só que, em determinados momentos, os reajustes devem ser feitos, para manter a saúde financeira da companhia.

Coelho também ressaltou que o aumento das cotações do petróleo é um fenômeno global, turbinado pela guerra na Ucrânia. Por isso, "a elevação do preço dos combustíveis acontece em todo o mundo e é uma preocupação de todos os líderes governamentais."