Sistema de Consórcios registrou, no segmento de eletrônicos e outros bens móveis duráveis, um crescimento de 52,6%Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Com o aumento no preço dos smartphones e o desejo de adquirir um modelo de ponta, muitos brasileiros têm recorrido ao consórcio como alternativa para conquistar um celular novo. Tradicionalmente usada na compra de imóveis e veículos, essa modalidade surge como uma alternativa para evitar o parcelamento e não comprometer o limite do cartão de crédito.
De acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac), o Sistema de Consórcios registrou, no segmento de eletrônicos e outros bens móveis duráveis, um crescimento de 52,6% no total de cotas vendidas entre janeiro e novembro de 2024, em comparação ao mesmo período de 2023. O aumento da procura mostra que, apesar de ser mais recente, essa forma de comprar smartphones tem ganhado espaço. A advogada Aline Oliveira, especialista em consórcios e direito do consumidor, fala sobre esse avanço.
“Essa tendência reflete não apenas a evolução do mercado, mas também as dificuldades econômicas enfrentadas pelos consumidores, que buscam alternativas financeiramente mais acessíveis para a aquisição de bens de alto valor agregado, como o caso dos aparelhos de telefonia”, afirma Aline.
Aline Oliveira, advogada especialista em consórcios e direito do consumidor - Arquivo pessoal
Aline Oliveira, advogada especialista em consórcios e direito do consumidorArquivo pessoal
Como funciona o consórcio?
Tiago Velloso, economista especialista em planejamento financeiro e investimentos, explica que o consórcio, já conhecido dos brasileiros como uma opção para a aquisição de veículos e imóveis, no caso dos smartphones segue a mesma lógica de outros bens, permitindo a compra do aparelho por meio de parcelas mensais, sem juros e sem entrada.
“Um grupo de pessoas se reúne para adquirir um bem — neste caso, um smartphone —, sem a necessidade de pagamento à vista. Os participantes contribuem com parcelas mensais, formando um fundo comum que é utilizado para contemplar, por sorteio, os membros sorteados. As cartas de crédito recebidas pelos contemplados podem ser usadas na compra do celular desejado”, diz o economista.
Tiago Velloso, economista especialista em planejamento financeiro e investimentos - Arquivo pessoal
Tiago Velloso, economista especialista em planejamento financeiro e investimentosArquivo pessoal
Quando o consorciado é sorteado, ele recebe a carta de crédito, que permite a aquisição do produto que desejava ao entrar no consórcio. Mas contar com a sorte não é a única maneira de ser contemplado. Para antecipar o recebimento do celular, também é possível dar um lance. Neste caso, o participante deve entrar em contato com a administradora e registrar o interesse em adiantar um valor, que será analisado e pode ser aceito ou não.
Vantagens e desvantagens do consórcio
A especialista em consórcio Aline Oliveira pontua algumas das principais vantagens e desvantagens desse modo de pagamento.
“Essa modalidade de aquisição caracteriza-se por oferecer algumas vantagens em comparação a outras formas de financiamento, destacando-se pela ausência de juros, com a cobrança restrita às taxas administrativas. Em contrapartida, alternativas como cartões de crédito e crediários costumam apresentar condições financeiras menos vantajosas. Além disso, o consórcio favorece um planejamento financeiro mais consistente, evitando endividamentos relacionados a taxas elevadas”, destaca.
Das desvantagens do consórcio, a especialista cita o tempo de contemplação do aparelho, as taxas administrativas e a rigidez contratual.
“Diferentemente da compra imediata em lojas físicas ou virtuais, o consórcio demanda um período de espera para a contemplação, que pode se estender por meses ou até anos, dependendo das regras estipuladas pela administradora. Embora não haja cobrança de juros, as taxas administrativas configuram um custo que impede a conversão integral dos valores pagos na aquisição do bem", aponta.
"Além disso, a rigidez contratual inerente aos contratos de adesão pode representar um ônus significativo, sobretudo em casos de desistência ou cancelamento, que frequentemente acarretam multas e só permitem a devolução dos valores pagos após a dissolução do grupo de consórcio."
De acordo com a especialista, alguns consórcios oferecem prazos totais de até 36 meses, tornando possível que a contemplação seja realizada em aproximadamente nove meses, dependendo da administradora. As taxas administrativas, por outro lado, costumam variar entre 10% e 20% do valor da cota, além do fundo reserva, que é destinado à cobertura de inadimplências, e do seguro, que é eventualmente incluído nos custos administrativos.
Cuidados ao escolher um consórcio
Atualmente, é possível encontrar uma ampla variedade de opções de consórcio para celulares oferecidas por diversas empresas. Mas, antes de escolher, é fundamental adotar alguns cuidados. Entre eles, Aline cita:
- Verificar a idoneidade da administradora, consultando sua autorização junto ao Banco Central;
- Desconfiar de promessas de vantagens excessivas ou contemplações rápidas;
- Analisar os custos totais da operação;
- Ler o contrato de forma minuciosa, especialmente as cláusulas que tratam de prazos, taxas e penalidades, com eventual auxílio profissional, se necessário.
Saiba os planos disponíveis no mercado
Se você pretende comprar um celular por consórcio, O DIA trouxe algumas opções para te ajudar.
Consórcio Magalu
O Consórcio Magalu, empresa do grupo Magazine Luiza, informou que os créditos variam de R$ 5 mil a R$ 18 mil, com prazos de até 48 meses para pagamento. Nos planos, as parcelas começam em R$ 139,17 e a taxa de administração em 0,58% ao mês. Para todos os grupos, há um fundo de reserva de 4% do valor total.
Para participar, é necessário que a renda do consorciado seja, no mínimo, três vezes maior que o valor da parcela paga durante o plano.
A inscrição pode ser feita pelo site (https://consorciomagalu.com.br/ver-eletro-moveis/), aplicativo, lojas do Magazine Luiza ou até mesmo em escritórios exclusivos do Consórcio Magalu. Se feita pelo site, após o cadastro, um representante da companhia entra em contato para finalizar a transação.
Em 2024, o Consórcio Magalu registrou mais de 1.500 cotas no segmento de eletro, que abrange produtos como celulares, TVs, notebooks e outros.
Klubi
O Klubi também oferece uma série de opções para quem deseja comprar o tão sonhado aparelho celular por consórcio. Em nota ao O DIA, o Klubi informou que os planos oferecem variedades de crédito entre R$ 1 mil e R$ 10 mil, com mensalidades a partir de R$ 58.
O consorciado pode optar por pagar o valor em 24 ou 36 meses. Com o modelo de compra planejada oferecido pela empresa, ao atingir metade do prazo escolhido, ou até antes, por meio da antecipação de parcelas, o consumidor receberá o valor total do crédito para adquirir o celular de sua preferência. A taxa de administração varia de acordo com o plano escolhido.
Banco do Brasil
Para quem prefere uma instituição mais tradicional, o Banco do Brasil é uma alternativa. O BB oferece planos no setor de eletrônicos de R$ 3 mil até R$ 6 mil. O consorciado também pode escolher o valor das parcelas, que, nos planos de R$ 6 mil, por exemplo, variam de R$ 216 a R$ 608.
A contemplação ocorre por sorteio, lance livre (maiores lances) ou lance fixo (valor predefinido). Entre a 1ª e a 3ª parcela, é cobrada uma taxa de administração de 1% ao mês e um valor de fundo reserva de 0,28% ao mês. Entre a 4ª e a 16ª parcela, a taxa de administração é de 2,99% ao mês e o fundo reserva de 0,28% ao mês. No total, a taxa de administração soma 41,90% e o fundo reserva 4,50%, sendo o percentual total de 46,40%.
É possível ter acesso a essas e outras informações ao fazer a cotação do plano no site do Banco do Brasil.
Ao O DIA, o BB informou que "o consorciado tem liberdade para escolher o produto que deseja quando estiver com a carta de crédito em mãos”. O Banco também destacou que, em 2024, a instituição registrou mais de 18 mil adesões nessa modalidade.
Vivo
A Vivo oferece planos com crédito de R$ 1.000 a R$ 10.000, que podem ser contratados em prazos de 24 ou 36 meses. A operadora também disponibiliza um desconto progressivo na primeira mensalidade, começando em 20% para a carta de R$ 1.000 e indo até 80% para a carta de R$ 10.000. Para ocorrer a contemplação, é necessário que o cliente tenha três meses de permanência e 25% das parcelas pagas.
A empresa ressalta que o processo é realizado de forma on-line e descomplicada. “O cliente simula o valor da carta de crédito desejada; preenche seus dados e realiza o pagamento da primeira parcela no ato da contratação.”
O pagamento da primeira parcela pode ser feito via boleto, Pix ou cartão de crédito. As demais parcelas são pagas via boleto ou Pix.