Haddad disse nesta quinta-feira que não é preciso causar uma recessão no Brasil para debelar a inflaçãoReprodução/YouTube
"Eu não acredito que você precisa de uma recessão para baixar a inflação no Brasil, não acredito nisso", disse Haddad, no programa "Bom Dia, Ministro", da EBC. "Eu acho que você consegue administrar a economia de maneira a crescer de forma sustentável, sem que a inflação saia do controle."
O ministro afirmou que as equipes do governo e do BC fizeram um esforço grande para construir uma relação institucional. Ele disse que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou por uma "experiência inédita" com uma transição de dois anos no BC, devido à autonomia operacional da autarquia.
"É uma experiência inédita que aconteceu, e eu acredito que nós procuramos fazer da melhor maneira possível, com todas as divergências que surgiram e tudo mais, nós procuramos fazer da maneira mais civilizada possível, e concluímos esse processo de maneira êxito", disse.
A lei de autonomia da autoridade monetária estabeleceu mandatos para presidente e diretores, sendo que o do chefe da autarquia só termina dois anos depois de iniciado o mandato do presidente da República. Por isso, Roberto Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, comandou o BC até dezembro do ano passado.
"Agora, nós temos uma diretoria que ainda conta com dois diretores do governo passado. Então é uma transição que, na verdade, não é nem de dois anos, é maior", acrescentou, referindo-se aos diretores do BC de Política Econômica, Diogo Guillen, e de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e cujos mandatos vão até dezembro deste ano.
As declarações de Haddad fazem referência ao atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, que assumiu o cargo em janeiro e foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em dezembro, o Copom aumentou a Selic em 1 ponto e indicou mais duas altas da mesma magnitude, em janeiro e março. Nesta quarta, o comitê elevou os juros a 14,25% e sinalizou pelo menos mais um aumento, "de menor magnitude", em maio.
O ministro acrescentou que tanto a diretoria do BC, quanto os técnicos da autarquia são "muito respeitáveis", qualificados e "vão fazer o melhor pelo País." Disse, ainda, que o governo aprovou um ajuste fiscal relevante no fim de 2024 e está cumprindo o arcabouço fiscal e buscando cumprir a meta de resultado primário, assim como o BC tem de cumprir a meta de inflação.
"Assim como eu tenho a meta fiscal para cumprir, que é aprovada pelo Congresso Nacional, o Banco Central tem a meta cumprir, que é a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional", disse. "São metas sempre exigentes, mas que nós temos que buscar."
"Dizer que isso é uma pesquisa é dar um nome muito pomposo para uma coisa que deve ter sido feita em 15 minutos ali, num bairro", disse Haddad, no programa "Bom Dia, Ministro", da EBC. "Uma pesquisa com 100 pessoas, não dá para dar o nome de pesquisa. Isso você faz em uma mesa de bar."
O levantamento da Genial ouviu 106 fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro entre 12 e 17 de março, tendo como público-alvo gestores, economistas e analistas. Segundo a pesquisa, 88% desse público avalia o governo Lula negativamente, e apenas 4% têm visão positiva.
Segundo Haddad, uma pesquisa como essa teria mais peso se realizada no Congresso Nacional, por exemplo, já que são pessoas com mandato.
O ministro disse que, na vida pública, há "altos e baixos" e que "consertar o País é difícil". Ele argumentou que é difícil fazer com que diferentes pessoas convirjam para um mesmo projeto, e que a solução para a economia brasileira é fortalecer as instituições e chegar a um acordo dos Poderes da República.
"Nós temos que admitir que governos erram, muitas vezes. Governos erram. E, às vezes, a coisa descalibra um pouquinho. Se não for um erro grave, você consegue corrigir rapidamente", disse Haddad.
Haddad afirmou que há incertezas no cenário externo, cujas variáveis o governo não controla. Como exemplo, citou que no fim de 2023 havia a expectativa de redução dos juros americanos ao longo de 2024, que acabou não se confirmando.
"Quando isso descarrilhou, não foi bonito o que aconteceu no Fed Federal Reserve, BC americano nos Estados Unidos, no final do governo Biden, embora lá também o Fed seja autônomo, independente, as coisas mudaram muito", disse o ministro. "O dólar se valorizou no mundo inteiro, isso trouxe preocupação para o mundo inteiro."
O ministro ponderou que quando variáveis não controláveis, como o clima e o cenário externo, se sobrepõem, pode haver a impressão de que a economia está indo para o caminho errado. Mas argumentou que, agora, esse não é o caso, e que o País pode crescer e colocar ordem nas contas públicas.
"Ele não precisa fazer um ajuste recessivo para colocar ordem nas suas contas. Ele consegue fazer um ajuste gradual que não coloque em perigo a expansão do emprego e da renda", disse. "Nós não podemos cair no erro dos anos anteriores a esse governo, em que nós imaginamos que, crescendo pouco, nós íamos colocar ordem nas contas."
Haddad comentou sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros para 14,25% ao ano. "Subiu para 14,25% ao ano, o que eu considero uma taxa elevada. Você considera, eu considero, todos que nos ouvem consideram", disse.
"Quando você faz um projeto como esse crédito consignado, você está estendendo para o trabalhador celetista aquilo que já é direito do aposentado e do servidor público. O crédito pessoal sempre foi muito caro no Brasil, mas muito caro. Mesmo quando o juro era baixo, o crédito pessoal sempre foi caro", disse o ministro.
Ele defendeu o projeto do consignado privado, que poderá ser contratado a partir de uma plataforma do governo que deve entrar em operação na sexta-feira, 21. "Apesar do aumento da Selic, nós estamos abrindo um caminho para permitir que você renegocie as suas dívidas a taxas mais civilizadas", disse.
Haddad ainda argumentou que essa medida vai inibir o superendividamento, ao permitir a migração de um crédito caro para outro mais barato, com taxa de juros menor. "Nós estamos inibindo o superendividamento, porque muitas vezes o superendividamento é uma decorrência do juro alto, e não do fato de que o cara tomou muito dinheiro. Porque o pouco dinheiro a juro alto se transforma no montante impagável. Agora, se você dar condições para o trabalhador administrar a sua carteira, os créditos que ele está tomando a um juro razoável, você impede o superendividamento", pontuou.
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