Por karilayn.areias

São Paulo - A ascensão da candidatura à Presidência de Marina Silva (PSB) nos últimos dias já ameaça a liderança de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno. Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta, com dados colhidos no próprio dia e na quinta-feira, mostra as duas candidatas empatadas com 34% das intenções de voto. Aécio Neves (PSDB) aparece na terceira posição, com 15%.

Clique na imagem acima para ver o infográfico completoArte%3A O Dia

Os demais candidatos somaram, juntos, 3% das intenções. Os votos brancos e nulos seriam 7% e outros 7% estão indecisos. Na comparação com a pesquisa anterior, divulgada em 18 de agosto, Marina disparou 13 pontos percentuais, absorvendo votos principalmente de Aécio, que caiu cinco pontos percentuais. Dilma oscilou dois pontos para baixo.

Na simulação do segundo turno entre Marina e Dilma, a primeira seria eleita com 50%, contra 40% da presidenta. No embate com Aécio, Dilma seria vencedora, com 48% dos votos. O tucano teria 40%..

Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada nesta sexta, Marina vence Dilma caso haja segundo turno Reprodução

O Datafolha também avaliou as taxas de aprovação do governo Dilma. Os entrevistados que julgam sua administração boa ou ótima somam 35%. Na pesquisa anterior, o índice era de 38%. Os conceitos ruim ou péssimo foram dados por 26% dos eleitores, ante 23% na última pesquisa. A avaliação regular oscilou de 38% para 39%.

O Datafolha ouviu 2.874 eleitores em 178 municípios. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Desde que a candidatura de Marina foi oficializada, após a morte de Eduardo Campos em um acidente de avião, seu desempenho tem assustado as campanhas adversárias. Até agora, o candidato Aécio Neves é o mais prejudicado. Se ele não conseguir reverter a queda nas pesquisas, ficará fora do segundo turno.

DESPESA DO AVIÃO: “DOAÇÃO”

A Procuradoria-Geral Eleitoral irá investigar a prestação de contas do PSB para verificar se houve irregularidades no uso do avião Cessna 560XL, que transportava Eduardo Campos e Marina na campanha. A aeronave caiu em Santos no dia 13 de agosto, matando o candidato e outras seis pessoas.

O procedimento foi instaurado pelo procurador-geral eleitoral, Rodrigo Janot. O órgão também quer saber da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a quem pertence a aeronave. Há suspeitas de que ela foi paga por empresas fantasmas.

Ontem, os coordenadores da campanha de Marina Silva afirmaram que o jato e todos os gastos relacionados, como combustível e remuneração dos pilotos, foram “doados” pelos donos do avião e não serão ressarcidos.

O coordenador da campanha, Walter Feldman, confirmou que trata-se de uma doação. “Essa expressão ‘ressarcimento’ foi abandonada. Foi uma doação e estamos acompanhando tudo. Na segunda-feira, daremos o recibo”, disse.

Nesta semana, em entrevista ao ‘Jornal Nacional’, Marina afirmou que o jato foi emprestado para Campos e seu uso seria declarado à Justiça Eleitoral até o fim da campanha .

Presidenciável defende temas polêmicos

A falsa notícia de que Marina Silva reduziria a importância do pré-sal e que isto constaria no seu programa de governo virou fato político, levando a presidenta Dilma Rousseff (PT) a classificar a concorrente como “fundamentalista, retrógrada e obscurantista”. Também serviu de munição ao candidatos ao governo do estado Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB).

Entretanto, nas 260 páginas do programa de governo da ex-senadora — basicamente são as diretrizes traçadas por Eduardo Campos — nada consta neste sentido, falando, apenas, da formação de um “painel de especialista para discutir a fundo a tecnologia de segurança utilizada na exploração do pré-sal”. Fala ainda da necessidade de investir em “fontes renováveis de combustíveis”.

“É óbvio que o Brasil precisa se preparar com alternativas ao petróleo, mas não existe nada de tirar a importância da exploração do pré-sal. Bilhões de reais já foram investidos, há contratos, um marco regulatório, parte dos royalties vai para a Educação. Não seria inteligente nem possível, agora, um negócio desses”, afirmou ao DIA Maurício Rands, um dos coordenadores do programa. Mais cedo, durante o evento de lançamento das diretrizes, em São Paulo, a própria Marina Silva reformou o discurso. “Não há nenhum país do mundo que viva sem combustível fóssil. O pré-sal é uma riqueza do povo brasileiro”, defendeu ela.
No documento, Marina, encampa as bandeiras do PSB, como a criminalização da homofobia, tema que enfrenta forte resistência da igreja evangélica, da qual a ex-senadora faz parte.

O programa anunciado ontem prevê ainda a defesa do agronegócio, a possibilidade de descriminalização do usuário de drogas e o uso da energia nuclear “ para que o país se torne um ator relevante no setor de energia elétrica” — defesa histórica do PSB que a fez, quando ministra do Meio Ambiente durante o governo Lula, ter fortes desentendimentos com o hoje presidente nacional de seu partido, Roberto Amaral. À época, Amaral era ministro da Ciência e Tecnologia.

O documento afirma que Marina combaterá a “violência institucional” aos usuários de drogas, tratando a questão do viciado como problema de saúde pública; não de polícia. O programa de Marina prevê ainda a aprovação de lei que garanta independência ao Banco Central. Nas diretrizes, a ex-senadora propõe o fim da reeleição e a adoção de único mandato de cinco anos. Não está claro, porém, se a mudança já valerá para seu governo. Marina tem dito em entrevistas que não concorrerá novamente. O programa estabelece também uma menor participação do Estado na economia.

Repaginando velhas ideias

Apontada como ‘fundamentalista’ por seus detratores, Marina Silva tem um programa de governo considerado progressista. Mesmo assim, as propostas apresentadas ontem podem significar um avanço ainda maior em relação às suas antigas convicções pessoais.

No documento lançado em São Paulo, Marina defende o atendimento às demandas da comunidade de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e transgêneros (LGBTTs). Duas das principais bandeiras postas nas diretrizes anunciadas estão o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e a equiparação da homofobia ao crime de racismo.

O tema é caro a alguns líderes evangélicos que engajam-se fortemente contra o projeto de lei 122, parado no Congresso há oito anos. Nas eleições de 2010, ela alimentou a discussão, que levou à suspensão do programa Escola sem Homofobia que, agora, incorpora a seu programa.

O aborto é mantido nos termos legais atuais — em caso de estupro e risco de vida à mulher. Ela, no entanto, se diz contra qualquer tipo de interrupção da gravidez.

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