Por bferreira

Rio - Com a subida meteórica de Marina Silva nas pesquisas, muita gente passou a se perguntar o que a candidata do PSB quer dizer com “nova política”. O que isso significa exatamente? Na tentativa de desgastar a imagem da adversária, PT e PSDB estão pondo em dúvida a expressão criada pela ex-ministra e a acusam de incoerência já que deu início à vida parlamentar há mais de 20 anos. Apesar das boas intenções de Marina, não existiria nada de novo no horizonte. Pode ser. Mas, mesmo que a tal da “nova política” não passe de um sonho, é espantoso como alguns candidatos recorrem a práticas ultrapassadas, que afrontam os eleitores de boa fé e a própria Justiça Eleitoral. Comportam-se como coronéis nordestinos do século passado. Um exemplo que chama atenção no Rio de Janeiro é o de Anthony Garotinho. O ex-governador é um símbolo da “velha política”.

Embora esteja na frente na corrida pelo Palácio Guanabara, com 28% das intenções de votos, Garotinho também é líder na taxa de rejeição. E um dos motivos, sem dúvida, é seu modo anacrônico de buscar votos. Em outras campanhas, ele foi processado por infração às regras do jogo eleitoral e só escapou graças a recursos nas instâncias superiores. Na atual eleição, numa expressão cunhada por Leonel Brizola, Garotinho voltou a costear o alambrado, atuando no limite da lei. Na sexta-feira, a Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) pediu a cassação do registro da candidatura e sua inelegibilidade por abuso de poder político e econômico. É acusado de promover um evento em Caxias em que cada participante receberia R$ 30. Ficaria caracterizado também o pagamento de aluguéis do ginásio, de dez ônibus e do sistema de som, além de R$ 8.960 com a compra de 200 fardos de água. O advogado do ex-governador, era de se esperar, diz que ação está fadada ao insucesso.

Porém, como o uso do cachimbo deixa a boca torta, já surgem indícios para abertura de novos processos. Na última quarta-feira, fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) apreenderam no Complexo da Maré 200 formulários do Cheque Cidadão, dois mil exemplares do informe “Palavra da Paz” (da empresa de Garotinho que leva o mesmo nome), cem caixas de remédio e cinco mil panfletos do ex-governador e sua filha, Clarissa, candidata a deputada federal. O Cheque Cidadão é um programa assistencialista da prefeitura de Campos, chefiada por Rosinha Garotinho, que beneficia cerca de 20 mil famílias com R$ 200 por mês. No mesmo dia, eleitores do Rio receberam mensagens de telemarketing responsabilizando Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão pelo aumento da criminalidade e pedindo votos para o candidato do PR.

A Justiça Eleitoral do Rio faz sua parte e está atenta às irregularidades. Daniela Assumpção, juíza responsável pela fiscalização das eleições, avisa que não vai dar trégua aos infratores. Considerada dura na queda, ela comemora o aumento das denúncias de 222 casos em julho para 844 em agosto e faz uma advertência: “O candidato tem de se eleger respeitando a lei”. Garotinho, portanto, deve tomar cuidado. Mas não só com a juíza Daniela. Tudo indica que haverá segundo turno, no qual, pela tendência das pesquisas, ele deverá enfrentar o governador Pezão. Se insistir nas práticas clientelistas da “velha política”, Garotinho dificilmente vai atingir a maioria absoluta. Corre o risco de morrer na praia.

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