Rio - Os cabeças do PMDB do Rio estão divididos se a estratégia de atacar a Igreja Universal tem dado certo para a campanha do governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB). Enquanto o presidente do partido no Rio, Jorge Picciani, defende que ela deve focar na ligação de Marcelo Crivella (PRB) com o seu tio, Bispo Edir Macedo, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) acredita que Pezão tem perdido votos com os ataques ao adversário.
Mesmo depois de uma reunião do partido, na segunda-feira, em que políticos demonstraram insatisfação com a estratégia, Pezão voltou a fazer ataques ontem à cúpula da Igreja Universal, em um debate com Crivella na rádio CBN e em seu horário eleitoral na televisão. Para Picciani, reforçar a relação entre os dois é válida “porque o estado é laico”. “Defendemos a liberdade de expressão, de imprensa, de religião. Por isso, o estado tem que ser laico”, disse.
Picciani também afirmou que Crivella não deveria se sentir ofendido com a campanha de Pezão e, sim, orgulhoso. “Assim como tenho orgulho dos meus filhos, Crivella também deve sentir orgulho de seu tio. Ter vergonha do seu grau de parentesco é até uma afronta a sua própria mãe”, disparou. Evangélico da igreja Sara Nossa Terra, Eduardo Cunha defende que a campanha de Pezão não ataque nenhuma instituição.
Cunha criticou o horário político do governador, na semana passada, que mostrou uma reportagem exibida pela TV Globo, em 1995, em que o Bispo Macedo, líder da Universal, ‘ensina’ pastores a receber dinheiro de fiéis. “Não tem que exibir aquele vídeo de novo, faz a gente perder voto. O ataque sobre Crivella deve ser pessoal, focado em sua ação como senador e ministro”, argumentou.
Na sabatina ontem na TV Globo, Pezão evitou fazer ataques ao seu adversário e aproveitou o tempo apenas para falar sobre programas de seu governo, mesmo quando questionado sobre denúncias ocorridas durante sua gestão. Ao ser provocado sobre o esquema de corrupção no batalhão da Ilha do Governador, que levou à cadeia o coronel Dayzer Corpas, ex-comandante da unidade, e outros 15 militares, Pezão afirmou que isso mostra que seu governo e a corregedoria militar investigam, além da independência da Secretaria de Segurança. Quando foi questionado sobre os casos Amarildo e da mulher arrastada morta pelo carro da Polícia Militar, o governador afirmou que tem investido para melhorar a formação dos PMs.
Clima esquenta entre os candidatos no debate da CBN
O clima de guerra entre os candidatos que disputam o Palácio Guanabara teve novo capítulo no debate ontem na Rádio CBN. Pezão trouxe à tona o suposto desvio de dinheiro para paraísos fiscais e a participação de Crivella na compra de uma televisão em São Paulo. Crivella ameaçou processar Pezão.
O governador questionou sobre o envolvimento do senador com empresas nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal, e em New Jersey. O adversário rebateu dizendo que o processo foi arquivado há 15 anos e reafirmou: “Você sabe que eu sou ficha limpa”.
Pouco depois Pezão questionou como Crivella poderia participar da compra de uma TV em Franca (SP), com salário de diretor da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro. Crivella se defendeu. “Não é você, Pezão, é o Cabral que fica influenciando você a tentar ganhar as eleições com injúrias. A TV de Franca foi comprada com um empréstimo e o valor dela foi muito baixo”, afirmou.
Ao falar sobre os problemas na Saúde, Crivella lembrou o episódio de integrantes do governo Sérgio Cabral que apareceram com guardanapos na cabeça na Europa: “Um dos mais assanhados lá em Paris era o secretário de Saúde, enquanto o povo aqui sofria”, lembrou. “A única coisa que Pezão tem para me acusar é a Igreja a que pertenço. Acusações ele faz, injuriosas, pesadas e vai responder na Justiça por isso, mas isso é choro de quem sabe que vai perder”, concluiu o senador Marcelo Crivella.