São Paulo - A presidenta Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) protagonizaram nesta terça-feira o debate mais acirrado desde o início da campanha eleitoral, na Band. Aécio voltou a explorar temas do primeiro turno, como a inflação e a corrupção da Petrobras. Já Dilma, além da esperada comparação entre as eras tucana e petista no governo federal, partiu para o ataque direto a Aécio, questionando vários atos da época em que era governador em Minas Gerais. Os dois também reivindicaram a “paternidade” do Bolsa Família, tema que apareceu em três blocos.
O clima do debate foi tenso e pontuado por trocas de ofensas e acusações. Os dois candidatos chegaram a se chamar de ‘leviano’. Foi quando Dilma “ressuscitou” a denúncia de que o governo de Minas construiu um aeroporto na cidade de Cláudio, onde a família de Aécio possui terras. “A senhora está sendo leviana. O Ministério Publico Federal atestou a regularidade da obra”, disse Aécio, lembrando que saiu do governo de Minas com 92% de aprovação.
A presidenta inaugurou o confronto direto falando sobre saúde e lembrou que o PSDB votou contra a CPMF, mencionando o suposto desvio de verbas da saúde mineira, quando Aécio era governador. Na resposta, o senador “lamentou que a candidata estivesse tão desinformada”, e relatou que o governo federal reduziu os investimentos nos sistema de saúde dos estados. “Seu Ministério da Saúde apontou Minas Gerais como a melhor do sudeste. Quem vê a sua campanha, acha que a senhora é da oposição, porque diz que vai fazer o que não fez” ironizou Aécio. A petista replicou na mesma moeda. “Quem o vê, acha que é da situação, já que o senhor só defende a continuidade dos meus projetos sociais”, declarou.
Na sequência, Aécio aproveitou para reiterar que não vai acabar com o Bolsa Família e acusou Dilma de o atacar com “ofensas e mentiras” sobre o programa e os bancos públicos. Ele chegou a dizer que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seria o “pai” do Bolsa-Família. A presidenta se defendeu e afirmou que Aécio fez ataques “cruéis”. “Você distorce a realidade. Querem mudar o papel da Caixa, mas sem este banco não tem o Minha Casa, Minha Vida. O povo brasileiro não acreditar que FHC é o pai do Bolsa-Família, você passou dos limites”. Em resposta, o tucano minimizou o Bolsa Família e elegeu o Plano Real como “o maior programa de transferência de renda”. “Vou avançar onde vocês não avançaram”, prometeu.
O segundo bloco começou com o tema da economia e depois foi tomado pela corrupção. Aécio pediu para Dilma “reconhecer os erros” de sua política econômica que levaram à alta da inflação e lembrou a frase desastrada de Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Na semana passada, ele sugeriu que a população trocasse a carne e vermelha por peixe e frango, que são mais baratos. Dilma afirmou que a alta da inflação é passageira, ocasionada pelo clima. “O senhor esqueceu o que ocorria no governo FHC. A presidente afirmou ainda que o governo manteve o nível de emprego elevado, lembrando o desemprego na gestão tucana. “No passado, o desemprego era extremamente grave, as pessoas davam voltas no quarteirão, como se diz em Minas”. Aécio ironizou a oponente ao defender o padrinho político. “A senhora olha para mim e enxerga o FHC. Quando ele assumiu, a inflação era de 916% ao ano e chegou a 7%”, afirmou Aécio.
A economia voltou à pauta quando Dilma teceu críticas a Armínio Fraga, anunciado como ministro da Fazenda de Aécio. “Estou impressionado com sua obsessão pelo Armínio Fraga. Eu já tenho um nome que sinaliza previsibilidade. A senhora tem apenas seu ex futuro ministro da Fazenda, que já não tinha muita credibilidade”, atacou Aécio, se referindo a Guido Mantega, cuja saída já está garantida em um eventual segundo mandato de Dilma. A presidenta contra-atacou voltando a lembrar do desemprego. “Como você quer que com a mesma receita, o mesmo cozinheiro, você vai entregar um prato diferente? Vocês gostam de cortar a sempre cortam. Cortam empregos e cortam salários”.
Um dos temas mais explorados no primeiro turno da campanha, o escândalo da Petrobras foi trazido à baila por Aécio. O candidato cobrou “indignação” da presidenta. Dilma devolveu a pergunta citando escândalos com envolvimento do PSDB.
As claques e as redes sociais
Diversos integrantes da campanha da candidata ao PLanalto derrotada no primeiro turno, Marina Silva (PSB), compareceram ontem ao debate para dar apoio a Aécio Neves. Estavam lá o coordenador da campanha da ex-senadora, Walter Feldman e o deputado federal Beto Albuquerque (PSB-RS). De Pernambuco, vieram o governador do estado João Lyra e o prefeito de Recife, Geraldo Júlio.
Do lado de Dilma, o representante do Nordeste foi o governador Jacques Wagner, da Bahia. O cabeleireiro e maquiador Celso Kamura também compareceu ao debate. Ele está com a presidenta desde a campanha de 2010.
Sentado na área da plateia destinada a convidados do PT, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) teve que deixar o assento para dar lugar ao presidente nacional do PT, Rui Falcão. Antes de desocupar o assento, o tucano cumprimentou o petista.
No Twitter, o debate entrou para os tópicos mais comentados, assim como o nome do jornalista Ricardo Boechat, que foi o mediador. As expressões carrancudas da petista em reação às indagações do tucano também entraram para os assuntos que mais bombaram na rede.
Num dos momentos mais tensos, Aécio disse que tem ouvido de eleitores pedido para que “nos libertem deste governo do PT”. A frase virou meme nas redes sociais.
No debate, Aécio citou “mar de lama”, expressão que foi usada para acusar Getúlio Vargas de corrupção, em 1954.
De um ministro de Dilma: “Se nos últimos debates parecia que se estava disputando a presidência da Petrobras, agora é o governo de Minas.”