Por thiago.antunes

Rio - Passava das 19h30 quando o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), 59 anos, reeleito com 55% dos votos válidos, apareceu no salão de convenções do Hotel Flórida, no Flamengo. A imprensa o aguardava para o pronunciamento da vitória. Mantido no Palácio Guanabara, ele agradeceu ao seu tutor, ex-governador Sergio Cabral.

Pezão recosta numa pastelaria pouco antes de seguir para votar%3A críticas à mistura entre religião e políticaErnesto Carriço / Agência O Dia

Com 4.344.298 votos, Pezão transformou sua fala num desagravo ao ex-governador, a quem creditou sua reeleição. Em tom emocional, afirmou ter ganhado um irmão e “uma fonte, a quem sempre vai consultar a partir de agora”. É a primeira vez desde que assumiu o governo, em abril, que ele trata Cabral desta forma.

“Quero agradecer muito ao ex-governador Sérgio Cabral. Foi ele que me lançou como candidato. Todo mundo achou que era ousadia, e ele acreditou”, agradeceu Pezão, que estava rouco e com aparência de cansado dos quatro meses de campanha. Cabral estava no mesmo hotel, mas não desceu para falar com a imprensa. Ele, porém, recebeu um caloroso abraço do governador. “As pessoas duvidavam da escolha que ele fez. Devo essa vitória ao Cabral.”

O ex-governador deixou o governo em abril com forte rejeição e, desde então, evita aparecer publicamente, preferindo atuar nos bastidores. Na disputa eleitoral, seu papel era o de analisar e avalizar ou não os programas de TV do seu sucessor. A estratégia deu certo. Adversário do segundo turno, o senador Marcelo Crivella (PRB) até tentou associá-lo a Cabral durante a campanha. Entretanto, votos do senador para o governo do estado representaram 44% dos válidos (3.442.713).

O número de brancos e nulos representaram 3,39% (311.823) e 13,96% (1.315.356), respectivamente. No primeiro turno, foram 6,12% de brancos e 11,44% de nulos — 2.713.771 eleitores não compareceram às urnas neste domimgo. Na entrevista, Pezão ainda agradeceu o “empenho” do seu vice, o senador Francisco Dornelles, do PP, que estava ao seu lado.

Dali, todos seguiram para a festa da vitória — um rega-bofe na Barra da Tijuca, no comitê de campanha, com direito a show de grupo de pagode. Lá, Sergio Cabral subiu ao palco, onde foi festejado com fogos de artifício.

Luiz Fernando Pezão defendeu o legado recebido pelo padrinho. Disse que Sergio Cabral e sua equipe fizeram com que o Rio de Janeiro voltasse ao protagonismo de novo. “Voltamos a ser o farol do país.” O governador reeleito, porém, afirmou que quer descansar e que não pensará em nomes para as secretarias do governo até dezembro. “É algo que só vou pensar a partir de dezembro. Neste momento, eu quero descansar”, explicou ele, tentando afastar especulações sobre substituições no secretariado. A principal preocupação é com quem ficará na Segurança.

Pastel, torresmo e orgulho em Piraí, sua cidade natal

Piraí amanheceu orgulhosa de seu filho mais ilustre, e confiante na vitória que se confirmaria mais tarde. Aproveitando a presença do ex-prefeito na cidade para votar, festejou Luiz Fernando Pezão enquanto ele esteve nas ruas. “Ele será como sempre foi aqui: um grande político, sempre voltado para os mais necessitados”, comentou o eletricista Fernando de Souza, 47 anos.

Pezão manteve a rotina simples que costuma ter na cidade. Acordou por volta de 9h, tomou um cafezinho com bolo de laranja ao lado da esposa, Dona Maria Lúcia e, sempre cercado de amigos, seguiu a seu lado para vê-la votar na Escola Estadual Lucio de Mendonça, a um quilometro de casa. Por volta das 11h, após percorrer o Centro a pé, parou para comer um pastel e votou na Escola Municipal de Lajes, no bairro onde nasceu.

Governador e candidato do PMDB à reeleição do Governo do Rio%2C Luiz Fernando Pezão%2C chega no bairro de Ribeirão das Lajes%2C em Piraí%2C para votarFoto%3A Agência O Dia / Ernesto Carriço

Na saída, posou para fotos e se disse otimista com as pesquisas “porque elas refletem o trabalho feito.” E voltou a criticar Marcelo Crivella, ao ser questionado sobre porque atacou o adversário. "Apenas me defendi de acusações infundadas, feitas por ele e os demais concorrentes”, argumentou. A mistura entre religião e política, que na sua opinião contribuiu para acirrar os ânimos em período eleitoral, foi criticada mais uma vez. "Todos viram o que ocorreu sábado, quando várias igrejas (referindo-se à Universal) foram lacradas com farto material que denegria minha imagem", comentou.

Depois de almoçar feijoada — antes, em companhia de amigos, tomou cerveja e comeu torresmo no ‘Rei do Torresmo’, restaurante no Centro de Piraí —, o governador seguiu de helicóptero para o Rio, onde acompanhou o resultado das eleições num hotel da Zona Sul. "Chegar a governador foi um dos melhores sonhos que pude ter", afirmou.

?Segurança é a prioridade

A segurança pública sempre foi a prioridade do governo Pezão, e isto era explicitado na campanha. A grande questão agora diz respeito à permanência ou não do secretário José Mariano Beltrame, idealizador do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora.

Beltrame declarou algumas vezes que precisa descansar, mas o governador Luiz Fernando Pezão conta com sua permanência. Tanto que ainda não tem um substituto na manga. A cúpula do PMDB acredita que um eventual substituto tem de ser um nome com reputação ilibada e que conte com a confiança, inclusive, de José Mariano Beltrame, para seguir com o projeto das UPPs.

Outra secretaria que está no foco das atenções é a de Transportes, hoje a cargo de Tatiana Carius, que substituiu Júlio Lopes, eleito deputado federal. A figura de Lopes está muito desgastada, mas o ex-secretário conta com um apoio de peso para voltar ao cargo: o do vice-governador eleito Francisco Dornelles.

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