Por felipe.martins

Rio - O Brasil que vai às urnas neste domingo se divide em nome, sobrenome, cor, número, símbolo, discurso e propostas. Há o Brasil de Dilma Rousseff, da estrela vermelha, do número 13. E há o Brasil de Aécio Neves, do tucano azul, do número 45. Até no futebol os dois candidatos resgatam uma rivalidade clássica: Aécio é Cruzeiro; Dilma torce pelo Atlético Mineiro.

Há o Brasil de Igor Moura, de 22 anos, estudante de jornalismo que espera do PT um segundo passo em políticas sociais e a promoção de reformas necessárias, como a tributária e a política. “O PT já organizou a casa e rompeu barreiras, como a expansão da universidade pública e a criação do Mais Médicos. Agora tem que avançar em pontos essenciais. Nas universidades, por exemplo, tem que melhorar a assistência estudantil”, avalia Igor.

Há também o Brasil do pedagogo Pablo Guimarães, 30, que vê na candidatura de Aécio um chamado para a mudança. “Espero que ele passe a governar com os melhores, com pessoas competentes que não sejam indicações políticas, que olhe para quem produz e reduza impostos para que as pessoas possam trabalhar”, afirma Pablo.

Eleitores do PT de Dilma Rousseff%2C de vermelho%2C em encontro democrático com militantes do PSDB de Aécio%2C de azul%2C na Cinelândia%3A disputa acirrada entre partidosFernando Souza / Agência O Dia

O confronto não é novidade. Será a sexta vez que os dois partidos se enfrentam nas urnas, ambos com uma feição diferente daquela que traziam em 1994, quando o PSDB ascendeu ao poder com Fernando Henrique Cardoso e a rivalidade das duas legendas explodiu em torno do Plano Real, na época rejeitado pelo PT.

Alguns estereótipos das duas legendas se mantêm em pesquisas de opinião: um Nordeste fortemente favorável ao PT e um Sudeste que tende a Aécio Neves. Este racha é visto como um embate entre uma elite que simpatizaria com os tucanos e a classe pobre, que seria mais favorável à candidatura de Dilma Rousseff.

O PT chega ao pleito com um avanço sólido em políticas sociais, mas desgastado pelo baixo crescimento e por denúncias de corrupção. O PSDB reaparece com uma mensagem de arrumação de casa e de uma racionalização das práticas econômicas, mas ainda não conseguiu explicar claramente como vai dar a guinada “contra tudo isso que está aí”.

REDES SOCIAIS

Se a polarização PT-PSDB não é nova, chama a atenção o clima bélico que emergiu nos últimos 20 dias e contaminou candidatos, dirigentes partidários, militantes e, é claro, eleitores.
As redes sociais foram a caixa de ressonância para a agressividade, amplificando a tensão. “É um espaço de debate completamente sem controle e livre. Há páginas e páginas de comentários, termos pejorativos, palavrões, agressões. É um espaço de guerra”, critica o cientista político Antônio Alkmim, professor da PUC-Rio.

Não vamos permitir que nada, nem ninguém, nem crise, nem pessimismo tire o que você conquistou. Dilma Rousseff, PTReprodução Internet

Em muitos casos, a confrontação online extravasou para o mundo real. Pablo conta que um ex-professor se recusou a cumprimentá-lo na rua por divergências ideológicas. “Todos em volta ficaram olhando sem entender exatamente o que tinha acontecido. Ele falou um monte de palavras de baixo calão”, lembra o eleitor de Aécio.

Igor foi ameaçado na Lapa quando andava com um adesivo de apoio a Dilma com as cores LGBT. “Um grupo se dirigiu para mim com uma ironia misturada com ameaça, perguntando se eu tinha visto como era a tortura. Só pararam de me reprimir quando viram minha namorada”, conta o estudante, eleitor da petista.
Neste domingo, toda esta tensão terá um desfecho. Que vença o melhor.

Para além dos partidos

Para os eleitores do Estado do Rio, o Fla-Flu político se estende à disputa entre Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivela. São 12 milhões de votos em jogo, que levarão à reeleição de Luiz Fernando Pezão, chancelando a continuidade do PMDB no poder, ou à vitória de Marcelo Crivella, representante do PRB, um partido nanico que alçou voo solo sem se fazer coligações.

Porém, ao contrário da polarização no nível federal, em que as plataformas dos partidos, PT e PSDB, tiveram grande protagonismo, no Rio de Janeiro a batalha se trava em torno de dois nomes. “É uma disputa mais pessoal. As pessoas não estão discutindo continuidade ou mudança, estão discutindo a figura dos dois”, afirma o cientista político Paulo Baía, professor da UFRJ. Para ele, os programas de ambos não são bem delineados: “Não tem essa discussão propositiva, é um tentando descaracterizar o outro”.

“ Chego ao final da campanha de pé. Sou o candidato da mudanca que você e sua familia querem ver no país". Aécio Neves, PSDBErnestto Carriço/ Agência O Dia

O termômetro eleitoral chegou ao grau máximo no segundo turno. Pezão partiu para a ataque tendo como mote a Igreja Universal, responsável pela projeção de Crivella e cujo fundador, Edir Macedo, é tio do candidato. Já o senador reacendeu escândalos da era Cabral/Pezão, como a viagem do primeiro para Paris com o sócio da construtora Delta Fernando Cavendish.

Baía lembra que há uma fatia expressiva que não se convenceu com nenhum dos dois discursos. “A média de nulos é de 15%. No segundo turno estou prevendo que pode chegar a 30%.”


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