Por pedro.logato

Rio - Em 1962, Amarildo tinha 23 anos, um a mais do que o principal jogador da Seleção na época: Pelé. Porém, o Atleta do Século se machucou na Copa do Mundo do Chile e coube ao "Possesso" a responsabilidade de comandar o time já no segundo jogo. E o craque não decepcionou. Formou com Garrincha uma dupla infernal que levou o Brasil ao bicampeonato mundial. E se a situação de o principal jogador do Brasil se machucar neste ano? Na sequência da série "Pitaco de campeão", o ex-atacante, hoje com 74 anos, não vê substituto à altura de Neymar.

Amarildo crê que Brasil pode encontrar dificuldades na CopaCarlos Moraes / Agência O Dia

"Não tem. Se tivesse creio que eles estariam juntos e não como apenas o Neymar como titular. Enxergo uma carência grande de craques na Seleção. A diferença do Neymar e o meu caso com o Pelé é que eu joguei em um time que era muito qualificado. Do goleiro ao ponta-esquerda. Não só na Seleção, como no Botafogo. Tínhamos Manga, Nilton Santos, Didi, Garrincha e Quarentinha. Por isso era reserva. Isso falta muito à seleção brasileira, faltam craques na seleção brasileira atual. Antes, tinha muito mais quantidade e qualidade", afirmou, que fez elogios a Neymar, mas ressaltou que a pouca idade pode prejudicar o atleta:

"Eu acho que o Neymar é um jogador que demonstrou ter muita qualidade, mas é muito jovem. Não tem a experiência para dar essa resposta que querem. Vai ter de se superar. Acho que toda a responsabilidade que tem sido colocada sobre ele é muito pesada. Acho que isso pode fazer com que ele sinta e pode dificultar não só o rendimento dele como também de toda a seleção brasileira. Mas só poderemos ver quando ele entrar em campo e disputar um jogo oficial de Copa do Mundo", disse.

O olhar do "Possesso" não é sóbrio apenas com o grande astro do time de Felipão. Para Amarildo, apesar do título da Copa das Confederações, a Seleção ainda sofre uma crise de identidade. Por conta disso, muitas modificações foram feitas e o Brasil ainda não tem uma escalação na ponta da língua de seus torcedores.

Amarildo e Seedorf%2C dois ídolos do BotafogoCarlos Moraes / Agência O Dia

"Acho que ainda não encontramos o caminho. Já deveria ter encontrado. Está muito em cima, falta pouco tempo. Temos de escolher algumas peças. O jogador que era o ideal para o ataque, o Fred, não está muito bem, então é uma dúvida que o treinador vai ter de dar um jeito de resolver. Perdemos alguns jogadores importantes que abreviaram a carreira e que poderiam ser importantes, como Kaká, que não tem como ir, pois não está no nível de antes. Acho que ninguém sabe a escalação da seleção brasileira. Nem a imprensa, nem nós, os torcedores, então acho que isso é um dificultador. Faltam alguns ajustes, principalmente lá na frente. De certo tem o Neymar, mas o resto é uma dúvida que paira para completar a equipe. Também acho que temos problemas na defesa e no meio-campo", opinou.

Sobre os adversários, Amarildo foi direto e apontou Argentina, Espanha e Alemanha como as principais equipes que podem estragar a festa do Brasil. Porém, ele acredita que algumas surpresas também podem pintar.

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"A Alemanha é uma seleção que se apresenta muito bem. Depois vêm Espanha e Argentina, que são times muito perigosos. A Holanda sempre é um time forte tecnicamente. A Bélgica pode ser uma surpresa. Tem alguns inimigos bem perigosos aqui do continente. Tem equipes mais prontas do que a nossa por jogarem há mais tempo juntos", disse.

Apesar de não estar tão otimista com a Seleção, Amarildo quer ver os brasileiros apoiando a equipe para a conquista do hexa. Para o ídolo, a função dos torcedores é incentivar, sobretudo em momentos delicados.

"Depende somente do nosso torcedor. Não podemos vaiar, a seleção brasileira vai precisar, vai ter momentos de dificuldades, e esse é o momento de apoiar, reequilibrar as forças e mudar o jogo. A vaia só atrapalha. Nossos torcedores têm de incentivar mesmo jogando bem ou mal, porque temos de ganhar a Copa juntos", afirmou.

Amarildo(Último a direita) ao lado dos craques Pelé e GarrinchaArquivo

No clima da Copa, Amarildo não se esquece da época em que defendia as cores do Brasil.

"A minha lembrança é fantástica. Eu era um sonhador. É muito bom poder jogar pela Seleção. Pude estar com muitos craques tanto no Botafogo quanto no Brasil. Fiquei paralisado ao encontrar os meus ídolos e poder jogar com eles. Eu não poderia desejar coisa mais bonita do que o passei como jogador de futebol", concluiu.

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