Por pedro.logato

Minas Gerais - Na distante Volkach-Far, pequena vila do sudeste alemão, a 9.400km de Belo Horizonte, o coração da mineira Cida Stumpf, 48 anos, bate mais forte no dia da semifinal entre Brasil e Alemanha. Do outro lado do Oceano Atlântico, perto do Mineirão, a alemã Helga Bogee e a filha Vivian também estão com os nervos à flor da pele. Com o coração apertado e saudosas do país natal, apostam na classificação e revelam que nem o fato de serem minoria, em meio a uma gigantesca torcida rival, vai impedi-las de gritar mais alto o nome da pátria amada.

“Moro há 15 anos na Alemanha e ainda estou me adaptando”, brinca Cida Stumpf. “Os alemães são fechados e sou transparente, alegre e de bem com a vida. Não estou nem aí para eles e vou torcer pelo Brasil”, avisa ela, que tenta arrastar sem sucesso para a torcida os três filhos — dois alemães e um brasileiro —, sob o olhar de provocação do marido.

Vivian Bogee é mineira%2C mas foi criada em uma cultura alemãMárcia Vieira

“Vamos ganhar de 2 a 1 e vou dar a minha mulher uma taça do melhor vinho da nossa vinícola. Ela vai beber, esquecer e apagar”, diverte-se o alemão Simon Stumpf. Minoria absoluta na vila, a mineira sabe que não terá trégua na comunidade. “Ela é minha melhor amiga e não vou exagerar, mas lamento dizer que a Alemanha vai passar”, brinca Alexandra Wirschshing.

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Em Belo Horizonte, o clima também é de expectativa na família Bogee, dona do Neckartal, um dos restaurantes mais tradicionais da culinária alemã na cidade. A começar por Vivian Bogee, 48, que vai facilmente às lágrimas horas antes do jogo. “Nasci em Belo Horizonte, mas fui criada com a língua e a cultura alemãs. Muita coisa passou pela minha cabeça. Eu me lembro da história de luta dos meus pais, da minha família que ficou, e da saudade. Há 20 anos não viajo para lá”, lamenta Vivian, que vai driblar a torcida brasileira contando com a ajuda de dezenas de alemães que prometem lotar o restaurante.

Cozinheira de mão cheia, a matriarca Helga Bogee não é fã de futebol, mas já fez sua escolha. “Sobrevivi a várias doenças, à guerra. Cheguei aqui em 1950 só com a roupa do corpo... O Brasil recebe bem as pessoas, mas vou torcer pela Alemanha, mesmo não tendo mais saudade de lá”, admite.

A pesquisadora Maria Antônia está divididaMárcia Vieira

Com o coração dividido

Especialista na colonização alemã em Minas Gerais, a pesquisadora Maria Antônia Kohnert, 68 anos, não sabe por quem torcer. Apesar de ter nascido no Brasil, no fim da Segunda Guerra Mundial, suas origens germânicas falam alto.

“Conversei com a minha filha Vitória e ela me propôs o seguinte: no primeiro tempo, a gente torce para a Alemanha e, no segundo, para o Brasil. Mas disse a ela que não vai dar certo, pois é jogo para prorrogação e pênaltis”, prevê Maria Antônia.

Ela vai lançar em breve o livro ‘Kolonie’. A obra tenta refazer o caminho de 117 famílias alemãs, que chegaram a Minas Gerais no início dos anos 1920. O estado recebeu mais de 27 colônias alemãs no período.

Christian vai torcer pela AlemanhaMárcia Vieira / Agência O Dia

Um mineiro engrossa o coro rival

Apesar de ser brasileiro, o escritor e empresário mineiro Christian Rolf Gurtner, 33 anos, vai engrossar a torcida rival. Filho de alemão, ele é um dos proprietários de conhecida cervejaria artesanal na cidade de Nova Lima (MG) e espera comemorar a classificação para a final bebendo várias jarras de chope. Apesar do otimismo, prevê um jogo muito equilibrado.

“Não será fácil, mas a Alemanha vai ganhar de 2 a 1, com um gol de Klose, para que supere Ronaldo na artilharia das Copas, e outro de Özil”, aposta Christian, garantindo não ter nada contra o país. “Torço contra o time, pois o Brasil não tem o direito de fazer essa festa com tantas pessoas não tendo o mínimo, faltando saúde e educação. Isso me revolta.”

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