Por pedro.logato

Rio - Composto por Hélio Matheus e Luiz Vagner, o samba ‘Camisa 10’ gravado por Luiz Américo fez muito sucesso em 1973. Como Pelé decidira deixar a Seleção, a canção perguntava: “Quem é que vai no lugar dele?” Preocupados com a falta de alguém capaz de armar as jogadas ofensivas, os autores diziam que os responsáveis pela convocação do time haviam esquecido “o arco” capaz de lançar a flecha, o atacante.

Hoje, a música revela-se profética, olha só este trecho: “E esse meio-campo fica perigoso/Parece que desliza nesse vai não vai” — os compositores adivinharam o estilo de jogo armado por Felipão. Nesta Copa, a 10 foi do craque Neymar, o problema é que ele não é um 10 “de ofício”, como virou moda dizer.

Neymar não é um camisa 10 clássicoAndré Mourão

Em clubes, ele usa a 11. A carência de um 10 ficou evidente numa equipe com tantas dificuldades para se organizar (faltava também um 8 de verdade, outra página da mesma história). Pior é que não havia ninguém, entre os jogadores brasileiros, capaz de cumprir a função celebrizada por Pelé, criador da mística da camisa. Nos últimos anos, os 10 que se destacaram no Brasileirão foram estrangeiros: Petkovic, Seedorf e Conca. Entre os nativos, o melhor tem sido Zé Roberto, de 40 anos, um a menos que o tal samba. Kaká e Ronaldinho Gaúcho perderam o prazo de validade; a ausência de Ganso não chegou a ser lamentada.

Na Copa, ótimos camisas 10 desfilaram pelos campos, entre eles, James Rodríguez (Colômbia), Giovani dos Santos (México), Sneijder (Holanda), Bryan Ruíz (Costa Rica), Modric (Croácia) e, claro, Messi. Não dá pra crer em falha no GPS de cegonhas, na entrega, em outras bandas, de futuros camisas 10 despachados para o Brasil.

É mais razoável acreditar na possibilidade de a nossa receita ter sido jogada fora, e recuperada pelos gringos. Não temos um 10 porque o país parou de produzi-los, prefere apostar na formação de zagueiros e de cabeças de área, jogadores capazes de destruir jogadas, não de criá-las. Revelar novos camisas 10 deveria constar do programa de todos os candidatos à Presidência.

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