A importância da campanha histórica de Marrocos na Copa do Mundo do Catar vai muito além das fronteiras do país. Quando a seleção entrar em campo nesta quarta-feira, às 16h (de Brasília), para enfrentar a França no Al Bayt Stadium, terá o apoio de quase metade do planeta. É o que aponta o marroquino Houssni Eddibess, que vive no Rio de Janeiro, em entrevista ao jornal O Dia.
"Marrocos está levando a bandeira do Marrocos, da África, dos países árabes e dos muçulmanos. Quando Marrocos faz gol, quase metade do globo se levanta", disse Houssni.
"Quando Marrocos faz gol, os palestinos gritam. Torcida árabe e mulçumana. Em Israel, em Tel Aviv, também gritam, porque tem muito marroquino judeu. Então, Marrocos tem muitos torcedores. Africanos todos com certeza vão torcer pelo Marrocos. Os árabes todos. Ainda tem uma parte boa aqui no Brasil (risos)", completou.
Vale lembrar que Marrocos foi a primeira seleção árabe a se classificar para uma quartas de final de Copa do Mundo. Além disso, foi a primeira equipe africana a conquistar uma vaga numa semifinal de Mundial. Se vencerem a França, alcançarão mais um feito inédito para estes dois povos: jogar a decisão do torneio de seleções mais importante do planeta.
"Quando eles ficam mais juntos, é mais fechamento, é mais fácil. Quase todos os jogadores de Marrocos jogam na Europa, bem conhecidos. Eles jogaram juntos na Copa da África duas vezes. Duas Copas da África e duas Copas do Mundo que eles são fechamento", destacou Houssni.
"Acho que vão vencer a França. Vou te dizer 2 a 1 para Marrocos. O jeito que o brasileiro está olhando para a França não é o mesmo jeito que o marroquino está. É vizinhança, mas quando começa o futebol, é guerra. Amanhã é guerra contra a França (risos). Mas se não der certo, não tem problema. Vamos levantar a bandeira da África e dos árabes, que nunca chegaram até à semifinal", apostou.
Houssni ainda revelou quem é seu jogador favorito desta seleção marroquina: Sofyan Amrabat, que também é um dos principais nomes desta Copa do Mundo.
"Ele é guerreiro, ele é bom jogador. O irmão dele fez uma coisa muito histórica para o Marrocos em 2018. Nordin (o irmão de Sofyan) se machucou e, mesmo assim, ficou jogando, jogando e não desistiu. Quando eu vejo o irmão (Sofyan), é igual. É uma família correndo para levantar a bandeira marroquina. Admiro muito esse cara", explicou Houssni.
O episódio que Houssni citou aconteceu na Copa do Mundo da Rússia, no jogo contra o Irã. Nordin sofreu uma concussão cerebral no segundo tempo e precisou ser substituído. No entanto, ele retornou a tempo do jogo contra Portugal, válido pela segunda rodada da fase de grupos. Na época, a Fifa chegou a notificar a Federação do Marrocos, pois o protocolo falava em pelo menos seis dias de repouso se confirmada a lesão. O médico da seleção, por sua vez, rebateu e disse que o procedimento com o atleta foi perfeito e realizado conforme as regras da entidade.
"Em relação a Amrabat, é um guerreiro, queria jogar, colocou o protetor e depois tirou. Seu espírito é incrível, tenho sorte de ter um jogador como esse. Os relatórios médicos foram avaliados por pessoas competentes, não sou competente nessa área. Eles tomam a responsabilidade, e o jogador também. Ele jogou uma partida excepcional, não posso falar mais nada, não é o meu papel", disse o então técnico de Marrocos, Hervé Renard, na época.
Atualmente, Houssni é dono do "Do Marrocos", trailer na zona sul do Rio de Janeiro que vende comida marroquina. Fica localizado na saída do metrô da Glória, na rua da Glória, número 318, em frente ao Banco Santander (clique aqui e conheça a página do Instagram do Do Marrocos).
"(As pessoas) Gostam muito do cardápio de carne, porque está com tempero e toque marroquino. Mas também tem gente que come muita falafel, quem é vegano (por exemplo). Tudo fresco. Também sempre compro carne boa. Assim deu sucesso", disse.
Houssni, aliás, chegou ao Brasil em 2014, na época da Copa do Mundo. Ele revelou que sempre quis conhecer o país e, como gostou, quis ficar. Arrumou um emprego, mas decidiu fazer uma mudança importante na vida dois depois anos.
"Depois, pensei que tinha que fazer alguma coisa. Trabalho é um pouco difícil aqui, e os salários são fracos. Aí, chegou em 2016, conheci famílias da Síria e abri uma barraca lá em Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Eu já trabalhava lá de recepcionista em um hotel. Abriu a barraca e deu certo. Estava vendendo maneiro, mas depois começaram a abrir mais barracas. O negócio não vai ficar maneiro. Fiquei pensando que tinha que abrir alguma coisa do Marrocos. Deixa os sírios lá, cada um segue seu lado", contou.
"Corri muito atrás, trabalhei muito. Sempre sozinho, corri muito sozinho. Aí abri o trailer (Do Marrocos). Peguei a receita com a minha mãe pelo zap. Chamei um cozinheiro marroquino. Ele me ajudou, mas depois voltou ao Marrocos, porque tem família lá. Arrumei amigos aqui do Brasil, está dando certo. Estou na correria para abrir outro logo, já está pronta. Só estou mudando o endereço e esperando o meu primo. Vamos que vamos", completou.
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