O confronto entre Fluminense e Al-Hilal é inédito, mas os dois já tiveram suas histórias entrelaçadas algumas vezes ao longo dos últimos 47 anos, desde a surpreendente transferência de Rivellino. Do craque da Máquina Tricolor à idolatria de Thiago Neves, passando pelo sucesso de Digão e Eduardo, os dois times agora têm um objetivo em comum: vencer o jogo desta sexta-feira (4), às 16h (de Brasília), para chegar à semifinal do Mundial de Clubes.
E para Thiago Neves, a emoção desse confronto é ainda maior. Ídolo das duas torcidas, o ex-camisa 10 vê um antigo sonho se realizar, que é o jogo de despedida que desejava. Apesar de não poder estar em campo, ele vai ao estádio, junto à família, para curtir esse momento especial.
"Esse jogo é um sonho pra mim, porque era a despedida que eu queria fazer depois que eu me aposentei. Queria atuar um tempo em cada clube, e fazer esse jogo no Maracanã. Cheguei a discutir com um pessoal do Fluminense e do Al-Hilal. Uma pena que não deu, quem sabe no futuro", disse Thiago Neves a O Dia.
"Estou feliz por estar junto à minha família, no momento especial dos dois clubes. Vai ser uma data inesquecível, e com certeza vai ficar marcado na minha vida. Os dois clubes me marcaram muito".
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Thiago Neves foi campeão pelos dois clubes, assim como Digão. Inclusive os dois jogaram juntos nas conquistas do Brasileirão e do Carioca, de 2012, e da Supertaça da Arábia Saudita, em 2015. E assim como o antigo companheiro, o ex-zagueiro e atualmente dirigente do Bangu se mostra dividido para o confronto desta sexta.
"Fico muito feliz de ver dois clubes numa prateleira tão seleta. Confesso que o coração vai ficar um pouco mais acelerado, porque eu tenho muito carinho e gratidão pelos dois. Fluminense foi onde cresci, e tudo que eu tenho hoje eu devo ao clube. E o Al-Hilal tenho no meu coração, porque fui bem recebido e muitos feliz . Os árabes são muito carinhosos comigo até hoje", disse.
Digão ainda revelou que conversou com parte da delegação do Al-Hilal por vídeo, durante o Mundial, na semana passada. Mas não se arrisca a apostar num vencedor.
"Queria ver os dois na final, não agora nas quartas, mas faz parte do futebol. Tenho certeza de que vai ser uma grande partida, muito difícil para os dois", disse o ex-zagueiro.
Rivellino, o primeiro brasileiro do Al-Hilal
Ao todo, são sete nomes que passaram pelos dois adversários das quartas de final do Mundial. Quatro deles foram diretamente das Laranjeiras para a Arábia Saudita. A mais impactante dessas transferências é a de Rivellino, em 1978, logo após disputar a Copa do Mundo.
O dono da 'Patada Atômica' e tricampeão com a seleção brasileira em 1970 foi escolhido pelo príncipe saudita Khaled bin Al Saud como principal nome da primeira leva de estrangeiros para desenvolver o futebol no país. Segundo o livro 'Rivellino', do jornalista Mauricio Noriega, foram 700 mil dólares para o jogador e outros 700 mil dólares para o Fluminense.
Na época, um valor astronômico para o futebol. Chamado de Rivo pelos árabes que não conseguiam pronunciar seu nome, Rivellino tornou-se ídolo com seus gols de falta, elásticos e bom futebol, além de títulos.
As idas e vindas de Thiago Neves
Anos depois, outro jogador tricolor virou ídolo. Antes de ir para o Al-Hilal, Thiago Neves foi vendido ao Hamburgo em 2008, mas ficou apenas seis meses até ser comprado pelos sauditas. Como parte do acordo, o então meia foi cedido por empréstimo ao Fluminense no primeiro semestre de 2009.
Depois, seguiu para a Arábia, onde ficou um ano e meio, passou pelo Flamengo em 2011 e retornou ao Tricolor em 2012, até ser negociado novamente ao Al-Hilal por R$ 18 milhões, em 2013. O clube das Laranjeiras ficou com apenas 20% do valor, cerca de R$ 3,6 milhões, com o restante indo para a patrocinadora Unimed.
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Já Digão foi vendido em outubro de 2015, por R$ 6,5 milhões (o Tricolor ficou com R$ 3,25 milhões). Foram três temporadas e 74 partidas no time saudita, até retornar ao clube que o revelou, em 2018, para jogar por mais dois anos e meio.
Outros jogadores do Fluminense que passaram pelos dois
Roni também deixou Laranjeiras para jogar na Arábia Saudita, numa passagem relâmpago em 2000. Além dele, Somália, Leandro Ávila e Carlos Eduardo, hoje conhecido como Eduardo, ex-Botafogo e atualmente no Cruzeiro, também têm passagem pelos dois clubes, mas não foram diretamente de um para o outro.
Desses quatro, o meia é quem mais brilhou por lá, mas teve passagem apagada no Tricolor, em 2009. Inclusive, Eduardo entrou para a história ao superar Thiago Neves, em 2019, como estrangeiro com mais gols à época (74). A marca já foi superada pelo francês Gomis.
Bate-bola com Digão
O que motivou a mudança do Fluminense para o Al-Hilal?
"Acredito que o fato de a proposta ter sido muito boa para ambas as partes. Foi, também, uma forma de retribuição por tudo que o Fluminense fez por mim desde os 13 anos de idade. Tinha o sonho de jogar fora do país também. Não tinha como recusar. Pesou muito na decisão".
Como foi a experiência na Arábia e o que mais impactou?
"Foi sensacional. Às vezes a ficha não cai por tanta muita coisa boa que vivi no Al-Hilal e na Arábia Saudita, dentro e fora de campo. Só tenho a agradecer o carinho que tiveram comigo e com a minha família. O fato de dois jogadores e o treinador falarem português fluente facilitou muito na minha adaptação, já que eu não falava inglês nem árabe. Isso me ajudou muito na chegada, porque o processo de adaptação não é fácil."
Análise da campanha do Fluminense no Mundial
"Minha avaliação é muito positiva. Contra a Inter de Milão, todos sabíamos da dificuldade, mas o Fluminense estava concentrado e mereceu a vitória. Na próxima sexta, tem mais uma pedreira, mas acredito que tem grandes chances de chegar à semifinal e, quem sabe, à final. Não vai ser fácil, mas, tratando-se do Fluminense, um clube que vem quebrando paradigmas, acredito que tudo é possível".
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