Por pedro.logato
Rio - Van der Heijden, Vehrle-Smith, Duncker, Rost Onnes, McPherson e Rickenbach. Pelo sobrenome, dificilmente alguém diria que se trata de uma equipe brasileira. Mas eles não apenas fazem parte, como têm sido importantes para a evolução verde-amarela no hóquei sobre a grama. Ao todo, são sete estrangeiros entre os 18 jogadores que formam a Seleção masculina que disputou até sábado o Torneio Internacional, em Deodoro.
País com muita tradição no hóquei, a Holanda tem quatro representantes na seleção brasileira. A Inglaterra conta com dois, e a Alemanha, um. Todos moram na Europa e só vêm ao Brasil para participar de torneios ou de treinos. Apesar de muitos terem dificuldade para falar o português, seis desses “forasteiros” nasceram no Brasil e apenas um se naturalizou: o inglês Chris McPherson, que é casado com uma brasileira.
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“São brasileiros que jogam fora. São muito importantes porque agregam valor, disputam partidas para valer todo fim de semana e estão se modernizando. Trazem novidade técnica, qualidade de passe e nos ensinam a parte tática, que funciona muito com eles”, diz o jogador Bruno Mendonça.
Dezoito jogadores formam a Seleção masculina de hóquei sobre a gramaMárcio Mercante

O objetivo de todos é o mesmo: fazer história ao defender a Seleção na primeira participação do país no esporte em uma Olimpíada. As histórias para que chegassem até esse ponto são as mais variadas. Os irmãos Patrick e Yuri Van der Heijden têm a mãe brasileira, por exemplo. Já Stephane Vehrle-Smith nasceu em Recife. Como sua mãe biológica não tinha condições de criá-lo, foi adotado aos seis meses por um inglês e uma francesa. Na Inglaterra, conheceu o hóquei, até ser convidado, em 2012, para defender o Brasil. Duas semanas após o contato, desembarcou pela primeira vez no país onde nasceu e entrou para a Seleção.

“Todo mundo é brasileiro no time. Eu não falo muito bem português, mas vou aprender. Eu gosto do Brasil, é meu primeiro país e tenho prazer por isso. Será muito importante para mim jogar em casa na Olimpíada de 2016”, afirma Stephane.
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Os casos dos jogadores com dupla nacionalidade no hóquei se assemelham um pouco com o dos brasileiros no futebol, que optam por defender outra seleção por achar que não terão oportunidade pelo Brasil. O pensamento em disputar torneios internacionais seduziu Paul Duncker, de apenas 17 anos. O adolescente, que ainda está na escola na Holanda — se forma em maio de 2016 —, vem de uma família apaixonada por hóquei. Os pais, que estavam em São Paulo a trabalho quando ele nasceu e voltaram à Holanda um ano depois, praticam o esporte, assim como os três irmãos. Paul seguiu o mesmo caminho. Então, resolveu mandar um e-mail, em 2014, para o técnico brasileiro Claudio Rocha pedindo para jogar pelo Brasil. Fez um teste de quatro meses e foi convocado.
“Sou brasileiro, só não vivo no país. Queria jogar internacionalmente e é possível na seleção brasileira. Na Holanda, o nível é muito elevado e nem todos conseguem chegar até a seleção. Aqui é mais fácil”, explica Paul, em inglês, porque sabe pouquíssimas palavras em português.
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Além de precisar da liberação do técnico de seu time na Holanda para vir ao Brasil, Paul também tem que negociar as faltas na escola. Nada que o desanime a seguir o sonho de jogar por uma seleção: “É difícil porque precisa vir para o Brasil treinar. A distância complica um pouco, mas não é problema É preciso equilibrar tudo, porque vale a pena. A escola me ajuda muito e me libera.”
Seleção masculina de hóquei conquistou título do Torneio InternacionalDivulgação

Homens conquistam o título

A Seleção masculina de hóquei conquistou ontem o título do Torneio Internacional, evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2016. Na decisão, o Brasil empatou em 2 a 2 com o Chile, mas levou a melhor no shoot out, como é chamada a decisão por pênaltis.
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Na primeira fase, os brasileiros estrearam com empate em 1 a 1 com Trinidad e Tobago, e venceram México e Chile, ambos por 2 a 0, garantindo o primeiro lugar do grupo.
Já a seleção feminina, que não disputará a Olimpíada por causa da baixa colocação no ranking mundial, ficou em quarto e último lugar depois da derrota por 2 a 1 para o Paraguai. Na primeira fase, as brasileiras não venceram nem uma partida sequer. Foram duas derrotas (Barbados e Peru) e um empate (Paraguai).
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PAUL DUNCKER
Zagueiro da Seleção de hóquei
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‘É possível crescer muito’
1. Como é jogar pela seleção brasileira?
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Eu me sinto em casa, todos são legais comigo e me tratam bem, são calorosos, é muito bom. Gosto do país e estou tentando me adaptar, aprendendo o português na Holanda.
2. Desde quando começou a jogar?
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Sou de uma família do hóquei. Aos 4 anos fui assistir a uma partida, e aos 6 comecei a jogar. Na Holanda, é cultural ver hóquei.
3. É possível ajudar a desenvolver o esporte no Brasil?
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Espero contribuir. É possível crescer muito com a Olimpíada, vai ganhar mais visibilidade.
4. E seus amigos de escola, o que acham de sua aventura?
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Acham sensacional e me apoiam. Sempre perguntam como é o Brasil e digo que é uma atmosfera espetacular. As pessoas são otimistas, sempre dizem que vai ficar tudo bem, enquanto na Europa são mais estressadas. Eles acham ótimo.