Rio - Treinar, comer e dormir. Essa é, na bem-humorada análise de Terezinha Guilhermina, a rotina da velocista brasileira, uma das grandes estrelas da equipe que disputará os Jogos Paralímpicos Rio-2016. Formada em Psicologia desde 2013, ela diz que não tem tempo para qualquer outra atividade que não seja voltada para os treinos.
“Não tenho tempo e nem agenda para isso”, afirma a mineira, bicampeã paralímpica dos 200m (Pequim-2008 e Londres-2012) e campeã dos 100m, também em Londres.
Na reta final de preparação para o Rio, Terezinha treina de três a seis horas por dia, num ritmo muito intenso. A tranquilidade que atingiu no estágio atual da sua carreira foi graças à dedicação aos treinos, que lhe trouxe resultados e, consequentemente, apoio financeiro.

“Meus patrocinadores são Nissan, Caixa Econômica Federal (CEF), Visa Brasil, Time SP do governo do Estado de São Paulo e o Bolsa Pódio, programa do Governo Federal”, diz. São eles que permitem a Terezinha viver exclusivamente do esporte.
Mas nem sempre foi assim. Quando começou, ela precisava participar de corridas de rua em busca de premiações que lhe garantissem algum trocado. “No início, eu não tinha dinheiro. Tinha de correr na rua para conseguir ganhar. Fazia corridas de longa distância, de até 20km. Isso impedia o treinamento adequado das provas de velocidade. Oferecia riscos, mas eu não tinha dinheiro suficiente”, lembra.
A situação mudou a partir da medalha de bronze nos Jogos Paralímpicos de Atenas, em 2004: “Foi um marco. Já em 2005 recebi o Bolsa Atleta do Governo Federal e depois veio o patrocínio da Caixa”.
Terezinha virá ao Rio nos próximos dias para participar do evento-teste no Engenhão, onde serão disputados os Jogos. Feliz, ela lembra que já são dois sonhos realizados pela Nissan, seu patrocinador. “Pude correr com o Bolt e conduzir a tocha olímpica na minha cidade, em Belo Horizonte”, diz, orgulhosa.
UM EXEMPLO PARA O PAÍS
Portadora de uma deficiência visual congênita, a retinose pigmentar, Terezinha sabe que é exemplo para jovens.
“Tenho responsabilidade e uma imagem a zelar. Cuido do que digo, da mensagem que tento passar”, explica. Segundo ela, conhecer o caminho das pedras é um privilégio. E poder ensinar é outro ainda maior.
“Vou a locais com deficientes jovens e muita gente se emociona. Mas minha vida é tão normal quanto a de qualquer ser humano. O que eu faço qualquer um pode fazer”, diz.
E conclui: “Eu não corro só por mim. Tem um País que se espelha e sofre junto comigo”.