O Ginásio Cláudio Coutinho, na Gávea, possui um mural em homenagem às medalhistas olímpicasGabriel Salotti / Agência O Dia

Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Flávia Saraiva, Lorrane Oliveira e Julia Soares. O público brasileiro que está acompanhando as Olimpíadas decorou estes nomes e se emocionou com as suas histórias e apresentações na ginástica artística, modalidade que rendeu quatro medalhas à delegação do Brasil. Entretanto, o legado olímpico, neste caso, não é apenas a premiação material. A inspiração que estas mulheres servem a uma geração de novas ginastas é valiosa para o desenvolvimento deste esporte no país.
Das cinco medalhistas, quatro são atletas do Flamengo: Rebeca, Jade, Flávia e Lorrane. Uma vez por semana, elas utilizam o centro de treinamento do clube, o Ginásio Cláudio Coutinho, localizado dentro da Sede da Gávea, Zona Sul do Rio. Mesmo que a maior parte dos treinos delas aconteça no CT da seleção brasileira, na Barra da Tijuca, elas não deixam de marcar presença no espaço rubro-negro, o que é suficiente para cativar dezenas de jovens que usam o mesmo ambiente para praticar o esporte e buscam percorrer o mesmo sonho.
Uma delas é Larissa Machado. Com apenas 15 anos, ela se interessou por ginástica ao assistir a modalidade nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. "Eu vi a Flávia fazendo e fiquei pensando 'nossa, que incrível', e pedi para a minha mãe me inscrever. Eu tinha seis anos", afirmou ao DIA. Hoje em dia, ela faz parte dos juvenis do Flamengo, mas realiza treinos junto aos adultos e, portanto, com os seus ídolos.
"Elas são bem legais. Às vezes, elas nos dão dicas de como fazer as coisas. Elas são bem legais. Acho que somos amigas, sim", menciona Larissa, que afirma gostar muito de fazer solo e salto. "Sou uma das melhores no salto", opina a jovem, que foi campeã de salto no Sul-Americano em 2023. A atleta se inspira em todas as quatro ginastas rubro-negras, com um destaque especial para Rebeca Andrade.
A sua rotina é de profissional. Ela marca presença em dois períodos no clube e faz fisioterapia, preventivo, academia em dias específicos da semana, com duas seções de treino ao dia, mas sem deixar os estudos de lado.
As jovens esportistas participam de campeonatos juvenis nos âmbitos estadual, nacional, sul-americano e mundial. No entanto, elas já possuem a permissão para participar de torneios da categoria adulta. Atualmente, elas estão treinando para o Estadual Adulto, que será disputado na Gávea no final deste mês de agosto. Em setembro, elas também vão participar do Brasileiro na categoria adulta.
Em meio à integração das categorias diferentes, o apoio das mais experientes no dia a dia é essencial, corrigindo erros e motivando as ginastas das categorias abaixo. Larissa lembra de quando as representantes da seleção brasileira a fizeram levantar a cabeça após erro cometido em um campeonato. "No Troféu Brasil, a última competição que a gente participou, quando eu fiz a paralela, eu acertei, mas a minha série acabou não sendo tão boa. Eu fiquei chateada, mas elas conversaram comigo e falaram que foi importante eu ter continuado a série depois do que tinha acontecido, porque era bem difícil", afirmou.
Larissa segue focada em busca do seu sonho e se inspirando nas conquistas das medalhistas. No dia da conquista do bronze por equipes, em Paris-2024, todo o ginásio, que possui ginastas de todas as categorias, acompanhou a prova e foi tomado pela vibração. "Estávamos acompanhando [a prova], o ginásio estava bem agitado. Quando elas ganharam a medalha, foi só gritaria, só animação, todo mundo se emocionou. Eu fiquei bem emocionada", disse.
Estrutura e inspiração
Além de Rebeca, Jade, Lorrane e Flávia, o Flamengo também possui, em seu repertório, grandes nomes deste esporte, como Diego e Daniele Hypólito. O investimento do clube na modalidade, envolvendo infraestrutura, comissão técnica, equipamentos e acompanhamento médico é o grande responsável por este sucesso, na opinião de Ângelo Sabino, técnico rubro-negro de ginástica artística.
"Somos quatro treinadores, um coreógrafo e uma estagiária, e mais a nossa coordenadora. Então, somos numerosos. Por isso, conseguimos ter uma quantidade de ginastas muito grande e o alto rendimento é isso, vai afunilando. Por ter muitas, nós conseguimos tirar muitas. Nós trabalhamos com 50 a 60 meninas aqui, e damos a elas psicólogo, nutricionista, preparador físico, médico, fisioterapeuta… acredito que nenhum clube tenha isso para as categorias de base, só o Flamengo, e isso faz uma diferença muito grande a longo prazo", argumenta.
A delegação brasileira de ginástica volta de Paris com quatro medalhas. A visibilidade que este esporte está tendo é importante para que mais pessoas se interessem em praticá-lo e, portanto, surjam novas revelações da modalidade, coloca Ângelo.
"A ginástica, nesse momento, está tendo uma visibilidade que eu nunca vi. No auge da Daiane, também foi uma visibilidade muito alta, mas como está agora com a Rebeca, principalmente, capitaneando essa equipe campeã… a Rebeca é um ídolo mundial hoje. Ela extrapolou algumas barreiras que eu acredito que no Brasil, a ginástica não tinha extrapolado. E não só no Flamengo. Tenho certeza que no Brasil inteiro, a procura está muito grande. Aumenta o número de praticantes, e com isso, temos mais probabilidade de achar esses talentos", afirmou.
Sabino também aponta que mesmo o objetivo do esporte não é apenas ser de alto rendimento. "Essa popularidade da ginástica é muito rica. Está proporcionando mais crianças fazerem ginástica e terem essa vivência super positiva para a vida toda delas", concluiu.