Por ana.grabois

São Paulo - Bancos com mais de US$ 50 bilhões em ativos podem ser grandes demais para o bem-estar da sociedade e oferecem risco sistêmico muito maior. Mas limitar seu tamanho não é a solução. É preciso manter vigilância e regras diferenciadas para essa categoria de instituição, melhorar sua governança e limitar seu raio de atuação e sua complexidade organizacional.

As conclusões são de um estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), “Tamanho do banco e risco sistêmico”, assinado por Luc Laeven, Lev Ratnovski, and Hui Tong, do seu departamento de pesquisa.

Na maior parte dos países onde esses bancos proliferaram, principalmente a partir da década de 1990, as grandes instituições tem menos capital do que os pequenos, confiam demais que serão resgatados pelo governo por serem “grandes demais para quebrar”, estão envolvidos em muitas atividades fora do seu “core business” – empréstimos -, tem fontes menos estáveis de financiamento e estruturas organizacionais muito complexas.

Existem hoje 127 bancos no mundo com ativos acima de US$ 50 bilhões, segundo o estudo – dos quais apenas dois deles no Brasil – Itaú e Bradesco, os dois 100% nacionais de controle 100% privado. A maioria, 28, está nos Estados Unidos. E 22 estão no Japão.

O Financial Stability Board (FSB) vem divulgando anualmente uma lista dos bancos que considera “sistemicamente importantes” globalmente. Desses, o Bank of International Setlements (BIS) exige um percentual maior de capital para bancar os ativos, em uma progressão que varia com o grau de risco. No Brasil, essa lista de bancos ainda não foi divulgada pelo Banco Central (BC). Na semana passada, o diretor de política monetário do BC, Aldo Mendes, disse em um evento em São Paulo que as regras para determinar quais bancos são sistemicamente importantes para o mercado bancário nacional ainda estão em discussão e só devem ser estabelecidas no ano que vem. É preciso lembrar, porém, que o critério do BIS não vincula necessariamente o critério de “sistemicamente importante” ao tamanho dos ativos do banco.

Segundo o documento dos pesquisadores do FMI, o avanço da tecnologia da informação e da desregulamentação que levou a uma proliferação de mercados financeiros pode ter sido o principal motor deste processo de criação de bancos grandes demais. Para eles, os grandes bancos podem ter um modelo de negócio mais frágil.

“Eles são mais arriscados, com mais potencial de criar risco sistêmico, quando têm capital mais baixo e fontes de financiamento menos estáveis”, diz o estudo. “Falhas de grandes bancos tendem a ser mais prejudiciais para o sistema financeiro do que as falhas de pequenos bancos, geram mais estresse de liquidez no sistema bancário, pois atividades que dependem de economias de escala não podem ser facilmente substituídas por bancos de pequeno porte”.

Mas eles dizem que apesar de toda essa discussão é impossível dizer que um banco é grande demais. Os bancos grandes estiveram no centro da última grande crise financeira, em 2008. O desânimo público com o caro porém necessário resgate de bancos como o Citi, nos Estados Unidos, detonou um ativo debate sobre o qual seria o tamanho ideal e o escopo de atividade para um banco. O debate segue inconclusivo, dizem os pesquisadores, “em parte porque as vantagens desse 'tamanho ideal' está longe de ser esclarecido; a melhor política não é limitar o tamanho de um banco mas melhorar a governança – além de mais exigências de capital".

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