Por marta.valim
No seminário do BC, o consultor Benjamim Tabak disse que regime de meta de inflação propicia estabilidade do sistema bancárioCarlo Wrede / Agência O Dia

O IPCA mais enxuto não tira a necessidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentar a Selic em seu próximo encontro, nos dias 27 e 28 de maio. Esse é o entendimento do economista Márcio Garcia, professor de Economia da a PUC-Rio, que participou ontem do XVI Seminário Anual de Metas para a Inflação promovido pelo Banco Central.

Embora não acredite que o aperto monetário seguirá, dada as últimas declarações de dirigentes do BC, Garcia entende que a busca pelo centro da meta de inflação se faz necessária no momento em que as expectativas dos agentes econômicos estão se distanciando dos 4,5% de inflação, atual objetivo do Copom.

“Se o objetivo é o centro da meta, o Copom tem de continuar subindo a Selic. Mas não acho que ele o fará”, disse Garcia. Perguntado se a motivação para o fim do ciclo era a proximidade das eleições, o professor preferiu apontar um dilema. “O que é mais importante nesse momento: juro elevado ou inflação alta?”. O especialista, no entanto, admitiu que o período eleitoral afeta todas as decisões políticas. “Um ajuste mais forte poderia ser feito agora. Mas como tudo depende da eleição, penso que teremos mais altas no ano que vem. Independentemente de quem ganhar, o próximo presidente deverá levar a inflação para o centro da meta”.

Para Garcia, as declarações recentes de membros do BC indicam que o ciclo já parou. Na semana passada, o diretor de assuntos internacionais da autoridade monetária, Luiz Awazu Pereira, disse que os reflexos do aperto monetário sobre a inflação são defasados, dando a entender que os próximos meses ainda trarão os efeitos da alta de 3,75 pontos percentuais na taxa básica de juros arbitrada pelo Copom desde abril de 2013. O presidente Alexandre Tombini e o diretor Carlos Hamilton Araújo também deram declarações na mesma linha nas últimas semanas.

Apesar da distância entre o que acha que ocorrerá e o que deveria ser feito em relação aos juros, Garcia elogiou o trabalho feito pelo BC, durante evento no Rio de Janeiro em comemoração aos 15 anos do regime monetário de metas para a inflação.
“O sistema de metas é um importante ganho para o Brasil. Dessa forma, conseguimos manter sob controle uma variável que já foi a mais perigosa para a saúde da nossa economia. O período de hiperinflação transformou o país numa espécie de alcoólico, que deve sempre se manter vigilante para não recair no vício inflacionário”.

O professor da PUC do Rio lembrou que, no combate à inflação, o BC tem feito a sua parte – aumentar os juros. Falta o restante do governo controlar a parte fiscal.
A probabilidade, aventada por candidatos de oposição e por economistas ligados a eles, de baixar a meta de inflação caso vençam a eleição não emociona Garcia. “Mais importante do que redefinir, é cumprir a meta atual. Mas se for uma decisão de longo prazo, anunciada ano que vem para que começasse a valer em 2018, por exemplo, seria algo razoável. Contanto que fosse para ser cumprida”, ressalvou.

Sobre as perspectivas da inflação, Garcia não se anima com o recuo apresentado pelos indicadores nos últimos dias. “Alimentos in natura é algo sempre extremamente volátil. Então, como subiu muito no passado, se esperava que, com a volta à normalidade, baixasse. Isso era o que se esperava que acontecesse. O preocupante da inflação não é isso, mas serviços. Como é que você vai fazer isso (a inflação de serviços) voltar. Como você vai chegar para o motorista de ônibus que recebeu 10% e dizer para ele que vai ganhar só 4,5%? Se o objetivo é conter a inflação, deveria elevar os juros, mas acredito que não vai subir, porque eles anunciaram muito claramente. Agora, o que é pior? Ter um juro extremamente elevado ou uma inflação que está saindo do controle, no sentindo que está saindo da meta?”, repetiu Garcia.

“É claro que, como bem diz o Banco Central, isso (alta dos juros) não pode ser feito sozinho. Isso tem que ser feito junto com outras políticas. Mas as outras políticas que vão apoiar isso, a principal delas sendo a política fiscal, tão pouco são políticas palatáveis politicamente. Então, obviamente, ninguém vai fazer isso antes das eleições. E, depois da eleição, a gente tem que rezar para que seja feito”, concluiu o professor da PUC-RJ

Para o consultor Benjamin Tabak, que foi um palestrantes do Seminário do BC, o regime de metas de inflação vai além do controle de preços. Em estudo que analisou casos de outros países do mundo que aplicaram modelo semelhante, Tabak concluiu que a previsibilidade trazida pelas metas traz outras consequências saudáveis ao mercado. A mais perceptível delas é a estabilidade do sistema bancário, ao evitar escaladas de preços e possíveis bolhas em alguns setores.

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