As captações das companhias brasileiras cresceram 17,9% no primeiro semestre do ano, para um total de R$ 138,6 bilhões, ante R$ 117,6 bilhões no mesmo período de 2013. A aceleração das captações com valores mobiliários em junho impactou positivamente o resultado do período, o mais alto dos últimos sete anos, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima). Embora o resultado tenha crescido a diretora da instituição, Carolina Lacerda, lembra que a base de comparação é baixa, já que em 2013 o setor registrou uma performance fraca. Para o segundo semestre, a executiva acredita que será um período de baixa atividade, do ponto de vista das emissões. “Este é um ano de cautela e os emissores estão no compasso de espera”, disse durante teleconferência com jornalistas.
Carolina lembra que no início do ano o pessimismo era generalizado, mas que hoje existe uma visão mais positiva sobre o País. Hoje, o sucesso da Copa do Mundo, com exceção do time brasileiro, pode ajudar a melhorar à visão dos investidores estrangeiros sobre o Brasil. No entanto, ela chama atenção para a questão política e o nível da taxa de juro no País. “Estamos em um ano eleitoral e as decisões de investimentos serão em função do que vai acontecer após as eleições e, se as políticas econômicas serão alteradas”, avalia. Além disso, a falta de perspectiva de queda para a taxa Selic, atualmente em 11% ao ano, é outro inibidor das operações. “Como não há perspectiva de queda, as empresas estão captando com prazos mais curtos, pois não querem ficar expostas a essas taxas por muito tempo. Só empresa que precisa de capital de giro ou tem algum compromisso imediato vai emitir, deixando para frente os investimentos grandes”, disse. Esses fatores, segundo ela, devem deixar o mercado cauteloso, com os emissores à espera de definições no cenário político e, consequentemente, da taxa de juro.
Diante disso, as notas promissórias devem seguir sendo a opção mais procurada pelas empresas. Segundo a Anbima, de janeiro a junho, as emissões de CRIs, FIDCs e Notas Promissórias cresceram em relação ao ano passado. Neste último, o volume ficou em R$ 11,7 bilhões, ante R$ 9,2 bilhões registrados em igual período de 2013. No caso dos CRIs, o avanço se deu em razão de uma operação da Petrobras. “O resultado do CRIs foi impacto por uma operação grande (cerca de R$ 4 bilhões) relacionada à Petrobras, o que acabou distorcendo um pouco os números. A empresa está com grande necessidade de financiamento e tem feito operações diferentes para levantar capital”, explica.
Por outro lado, o total de ofertas de debêntures e de ações no mercado doméstico recuou em relação ao mesmo período do ano passado. As debêntures passaram de para R$ 30,1 bilhões, ante R$ 35,8 bilhões e, as ações, ficaram em R$ 14,9 bilhões contra R$ 17,7 bilhões.
Enquanto a captação de recursos com ações se mantém relativamente constante - média de R$ 14 bilhões desde 2008 -, as operações com títulos de dívida domésticos e externos têm apresentado crescimento consistente. As captações locais de renda fixa no período, de R$ 51,1 bilhões ficaram aquém apenas das realizadas em igual período de 2011 e 2012 e foram concentradas no setor de energia (31,4% das debêntures). Já as efetuadas no mercado internacional apresentaram crescimento de 42,8%, para R$ 72,5 bilhões e foram concentradas no segmento de óleo e gás — 43,3% do volume total.
Considerando apenas junho, as ofertas se concentraram no segmento de renda fixa, tanto no mercado doméstico como no internacional, e foram impulsionadas pela ocorrência de um elevado número de operações - 40 no mercado local e sete no mercado externo - e por algumas captações com volumes significativos.
No mercado local, as ofertas com títulos de dívida somaram R$ 13 bilhões no mês, o maior volume de 2014, e foram lideradas pelas debêntures, que chegaram a R$ 7,9 bilhões - também o maior volume do ano. Ao todo, foram realizadas 24 operações com debêntures, 23 delas distribuídas com esforços restritos e uma, da Petrobras com volume de R$ 800 milhões, com dispensa de registro. Vale destacar que desde 2002 a Petrobras não acessava o mercado doméstico com a distribuição de debêntures. As demais operações com volumes elevados foram a da Cemig Geração e Transmissão, de R$ 1,4 bilhão, e da Rio Petróleo SPE, de R$ 2,4 bilhões.
No mercado internacional, as captações com bonds somaram US$ 5,5 bilhões e também foram impactadas por operações com volumes expressivos, como a oferta do Banco do Brasil, de US$ 2,5 bilhões em títulos perpétuos. Outras seis companhias também realizaram captações em junho, elevando para US$ 31,5 bilhões o total das captações externas com títulos de dívida no semestre.
Associação prevê manutenção Selic a 11% até o fim do ano
O comitê de acompanhamento macroeconômico da Anbima manteve a projeção da Selic em 11% até dezembro, mas revisou a estimativa para 2015, de 12,25% para 12% ao ano. O presidente do comitê, Marcelo Carvalho, ressalta que a dúvida é se a autoridade monetária irá realizar alguma alteração ou não no comunicado divulgado após a decisão. "Há debate se muda o comunicado ou e muda a frase ‘neste momento’”, disse o executivo se referindo ao documento da reunião anterior. Já para o Produto Interno Bruto (PIB), houve uma alteração relevante. A perspectiva de expansão para este ano passou de 1,5% para 1,01%, puxada pela expectativa de fraco crescimento da indústria. Para 2015, o número caiu de 1,80% para 1,50%.
Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção para este ano foi mantida em 6,5%, mas para 2015 subiu para 6,35%, de 6,26% da estimativa anterior. Carvalho explicou que a indexação na economia e os preços administradores preocupam. “Nos preços administrados há grandes incertezas sobre a intensidade e a velocidade das correções em 2015. Essas incertezas dificultam a queda das projeções”, disse.