Por parroyo

O plano de Mario Draghi para canalizar até €1 trilhão (US$ 1,3 trilhão) para a economia da zona do euro está se deparando com um obstáculo: algumas companhias nos países mais afetados pela crise da dívida não querem o dinheiro.

“Estamos recebendo ligações de credores todos os dias”, disse Miquel Fabré, 34, cuja empresa familiar de produtos de beleza, a Fama Fabré, emprega 43 pessoas em Barcelona. “Eles podem ver que vão se beneficiar outorgando um empréstimo porque estamos fazendo bons negócios e devolveremos o dinheiro. Se isso também é do nosso interesse é outra questão”.

Muitas empresas pequenas e médias mostram cautela diante das ofertas dos bancos. Draghi, presidente do Banco Central Europeu, está se preparando para injetar mais dinheiro no sistema financeiro a fim de impulsionar os preços e estimular o crescimento. A reticência na Espanha sugere que a demanda por crédito talvez seja um problema tão grande quanto a oferta.

O fluxo mensal de novos empréstimos de até €1 milhão por até um ano – um tipo de crédito normalmente utilizado por empresas pequenas e médias – continua dois terços abaixo do pico de 2007 na Espanha, segundo dados do Banco da Espanha. A carteira total de empréstimos está quase €470 bilhões, abaixo do recorde de € 1,87 trilhão registrado em 2008, mostram as cifras.

Estrela da NBA

Os bonds espanhóis subiram pelo terceiro dia consecutivo ontem, e os yields a 10 anos caíram para 2,11%, depois que surgiram mais evidências de que Draghi talvez tenha que recorrer à compra de dívida governamental para injetar dinheiro na economia. A última tentativa do BCE de levar dinheiro para o sistema financeiro com uma oferta de empréstimos direcionados, conhecida como ORPA direcionadas, foi esquivada pelos bancos no dia 18 de setembro.

Isso não quer dizer que os bancos não estejam se esforçando para atrair mutuários. Neste mês, o Banco Popular Español SA, um credor espanhol que tomou €2,85 bilhões emprestados das ORPA direcionadas, começou uma campanha publicitária com a estrela espanhola da NBA Pau Gasol almejando pequenas empresas.

A fabricante de software Vincle Internacional de Tecnología y Sistemas SA também está evitando o financiamento bancário para sua expansão na América Latina no próximo ano. A empresa utilizará recursos próprios para fornecer os 250.000 euros necessários para abrir um escritório na Colômbia e adiará investimentos extras até que os novos negócios gerados possam financiá-los, disse o vice-gerente geral, Héctor Recio.

Custos de financiamento

“O autofinanciamento nos permite ser independentes”, disse Recio, cuja empresa, com sede em Barcelona, tem entre seus clientes a Danone e a Novartis AG. “Gastar dinheiro que não tinham levou muitas empresas na Espanha a fecharem. Preferimos uma abordagem mais sustentável”.

Bancos espanhóis e italianos que buscam diminuir os custos de financiamento foram alguns dos maiores usuários das ORPA direcionadas na zona do euro e tomaram mais de 45% dos €83 bilhões outorgados pelo BCE para esse objetivo.

Contudo, as empresas espanholas têm visto pouco dessa generosidade do banco central. A taxa média de juros para um novo empréstimo corporativo de até €1 milhão foi de 4,58%  em julho, em comparação com 2,24% na França, segundo o BCE. As empresas italianas pagam 3,93%.

Em Barcelona, Fabré diz que sua empresa possui linhas de créditos bancários por cerca de 2 milhões de euros somente para cobrir necessidades entre pedidos e vendas. A empresa descartou financiar investimentos com dinheiro que não provenha de lucros reinvestidos.

“Não estamos interessados em tomar dinheiro emprestado para nos expandir”, disse Fabré, cuja empresa foi fundada por seu avô em 1946. “A demanda é limitada demais para que o risco de utilizar o dinheiro dos outros valha a pena”.

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