Por douglas.nunes

O Brasil é um dos países emergentes mais sensíveis à política monetária dos Estados Unidos. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os juros dos títulos públicos brasileiros subiriam 380 pontos-base com alta dos juros americanos e com a volta da volatilidade global ao nível de junho do ano passado. De uma amostra de 14 países emergentes analisados pelo FMI no Relatório de Estabilidade Financeira Global (GFSR, na sigla em inglês) divulgado ontem, só Turquia e Indonésia reagiriam de forma pior que o Brasil, com alta de 490 e 390 pontos-base na remuneração dos títulos dos seus governos. A estimativa está na página 41 do relatório, supondo alta de 100 pontos-base dos Treasuries de 10 anos. Em relação à volatilidade, foi considerado a volta do índice MOVE, da Merrill Lynch, para o nível de junho de 2013.

O Relatório de Estabilidade Financeira Global do FMI, dividido em três capítulos, trouxe ainda outra importante constatação em relação ao Brasil: as empresas aqui estariam muito alavancadas, ou seja, com dívidas equivalentes a 79% do seu patrimônio. Entre o mesmo grupo de 14 emergentes, só a Índia, com um indicador de 66%, e a Argentina, com 64%, tem alavancagem próxima à brasileira. Mas o FMI não está preocupado: segundo o relatório, de modo geral “a alavancagem não parece estar em níveis críticos”.

Segundo Jose Vinals, diretor de mercados de capitais e financeiro no FMI, está mais preocupado com duas questões: o aumento do risco e para ele, a política monetária é necessária para fomentar o fraco crescimento mas não pode andar sozinha: “É preciso o apoio de medidas micro e macroprudenciais para que as baixas taxas de juros não alimentam a tomada excessiva de riscos o que é bom para o crescimento mas pode afetar a estabilidade do sistema financeiro”, diz o diretor. “Muita gente não sabe mas o ‘shadow banking’ tem tomado espaço dos bancos tradicionais e os ativos que eles carregam não tem liquidez suficiente para enfrentar situações de estresse de mercado”, diz Vinals.

Segundo ele, quando os investidores estão complacentes é quando a autoridade monetária tem que estar atenta e agir, por isso é importante fortalecer políticas macroprudenciais antes que as distorções ocorram e fiquem difíceis de administrar e causem estragos a estabilidade.

“Muitos bancos hoje no mundo não são lucrativos o suficiente, de forma sustentável, para conceder empréstimos necessários para fomentar o crescimento — e essa é uma das razões pelas quais a política monetária não é mais tão eficiente para estimular o crescimento”, diz Vinals.

O relatório nota que enquanto as grandes instituições financeiras tornaram-se mais saudáveis depois de limparem seus balanços e reforçar o capital, também carregam o fardo de empréstimos vencidos e despesas processuais, enquanto enfrenta uma concorrência aguda. E também se afastaram das atividades de risco que geram retornos mais altos.

Para Vinals, os bancos precisam de um novo modelo de negócio, para se adaptar à realidade econômica da era pós-crise e ao novo ambiente regulatório. Os bancos precisam reprecificar os ativos migrar de negócios menos rentáveis para mais rentáveis, realocando capital através das atividades e geografias — ou recuando por completo”, afirma, indicando que há espaço para mais consolidação no setor. Com Bloomberg

Você pode gostar