Por monica.lima

São Paulo - No ano que vem, 7 bilhões das 47 bilhões de transações financeiras realizadas por “mobile” — os pagamentos móveis — serão liquidadas fora do sistema bancário convencional. O volume é 1.160% maior do que em 2011, quando totalizava 600 milhões de transações. Na época, esses 600 milhões representavam 8,5% do total de transações por mobile, que estavam em 7 bilhões. Em 2015, representará 15%. Ou seja, a parte realizada por “não-bancos” — empresas como Pay Pal, PagSeguro, MercadoPago e outros — cresceu duas vezes mais no período.

Os números e previsões são da consultoria francesa Capgemini, e estão na 10ª edição do World Payments Report, obtido em primeira mão por Brasil Econômico. O estudo, com 56 páginas, analisa o cenário e aponta as principais tendências globais para pagamentos feitos sem dinheiro em espécie — seja por cartões, cheques, transferências de crédito ou débitos diretos.

Rodrigo Corumba, vice-presidente de Financial Services da Capgemini, diz que não há previsão equivalente realizada apenas para o Brasil. “Como protagonista no uso de telefones celulares, com certeza o país estará liderando esse crescimento”, diz.

Mas não são apenas os pagamentos móveis que estão tirando terreno dos bancos. O surgimento de novos meios de pagamento e novos modelos de negócios em meios eletrônicos, que não passam necessariamente pelo sistema financeiro convencional (como o novo Apple Pay) também contribui, explica Corumba. A Amazon e o Google já atuam como “agregadores”, fazendo a intermediação entre os consumidores e os varejistas. A Apple Pay, por enquanto só um facilitador (ou subadquirente), também se prepara para funcionar dessa forma. No Brasil, algumas experiências já estão sendo realizadas, revela. Essas empresas de tecnologia oferecem o serviço financeiro a partir da “nuvem”, explica Corumba.

Mas o executivo lembra que esses modelos inovadores totalmente baseados em tecnologia ainda tem que aperfeiçoar a segurança. Eles estão fora da regulação formal, mas é possível que os órgãos reguladores comecem a atuar sobre o segmento em breve. Ou que bancos incorporem esses serviços nos seus negócios — por exemplo, já existem vários com projetos de mobile payment e “wallets” em parceria com bandeiras e outras empresas, mas ainda em fase piloto em teste com poucos clientes, para medir a segurança e usabilidade para o cliente final.

“Tecnologia para usar o o mobile payment já existe e está madura mas o que está em teste são os modelos de negócios. É preciso se adaptar e analisar os prós e contras de permitir micropagamentos, como uma passagem de ônibus, por exemplo. Mas o mobile payment é via de mão dupla para as empresas: rastreia informações que as permitem ser proativas na oferta para os clientes”, diz o executivo da Capgemini.

A “mobile wallet” também não precisa de banco no meio, mas pode ter — e os bancos estão tentando participar. A Mastercard, por exemplo, já tem a sua MasterPass — e acaba de fechar acordo com a rede de varejo eletrônico Nova.com, segundo informou o vice-presidente de aceitação da empresa, Alexandre Brito. “É preciso ampliar a quantidade de estabelecimentos que aceitam o instrumento”, diz.

Cartões pré-pagos também são outro bom exemplo de transação sem dinheiro vivo que pode passar ao largo dos bancos — principalmente quando os emissores são grandes redes varejistas, como o Walmart. “O pré-pago nada mais é do que uma conta corrente no cartão”, lembra Corumba.

Considerando o total das transações sem dinheiro vivo, a taxa de crescimento vem caindo no mundo — e também no Brasil. Aqui, a taxa anual entre 2008 e 2012 ficou em 13,5% mas, considerando apenas o período de 2010 a 2012, caiu a 8% ao ano. Operações com cheques continuam caindo 7% ao ano, taxa que acelerou em 2012 para 9%. O crescimento mais forte no Brasil vem das operações com cartões, que vem aumentando 17% ao ano desde 2010. Mas o débito desacelerou, enquanto o crédito continua em alta. As transferências de crédito crescem 8% ao ano e os débitos diretos, 5% desde 2011.

Em 2012, 37% das transações no Brasil eram feitas com cartões, ante 33% em 2008; a participação dos cheques caiu de 14% para 6%; débitos diretos, ao contrário, cresceram de 6% para 19% do total das transações sem dinheiro vivo; e as transferências de crédito recuaram de 47% para 38%. O Brasil continua, porém, o terceiro maior no ranking global, em termos de movimentações financeiras sem dinheiro — atrás dos Estados Unidos e Europa.

Segundo Corumba, em 2021 os emergentes serão responsáveis por volume de transações eletrônicas de pagamento equivalente a EUA e Europa — atualmente, são responsáveis por 25% do total global.

No mundo, as transações com cartões de crédito e débito chegaram a 366 bilhões em 2013. Atualmente, uma em cada cinco pessoas que usam serviços bancários móveis vive na China. Europa Central, Oriente Médio e África vem logo atrás, com 23,8% de alta.

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