Por monica.lima
São Paulo - O fortalecimento da economia dos Estados Unidos e o processo de normalização monetária do país está alimentando a valorização do dólar frente a diversas moedas no mundo e de forma mais acentuada em relação a moedas de países atingidos por problemas locais, como desaceleração da atividade econômica motivada pela queda dos preços das commodities, como os emergentes. Segundo levantamento da Austin Rating, neste ano o dólar já acumula valorização de 81,2% ante o rublo, 31,3% sobre o peso argentino, 20,5% sobre o peso colombiano, 16,7% sobre o peso chileno e 13,9% sobre o real.
Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, Brasil e Chile têm maior exposição em dólar porque receberam muitos investimentos nos últimos anos e, agora, o movimento reverteu em razão da aversão ao risco e da expectativa de alta do juro dos EUA. Ele avalia, no entanto, que as moedas emergentes devem seguir pressionadas em 2015 mas em menor intensidade, porque boa parte dos ajustes aconteceu ao longo deste ano.
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“Os países emergentes têm tendência maior de desvalorização porque são mais frágeis. A China, por exemplo, tem trilhões de reservas, enquanto os emergentes são frágeis nos instrumentos de controle de fluxo cambial porque também têm controle de inflação frágil, o que mexe com o câmbio”, afirma Agostini, ressaltando ainda que esses países não têm condições de adotar medidas heterodoxas.
O economista-chefe da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, ressalta ainda que cada país ainda foi influenciado pelas suas particularidades. Ele destaca que Argentina tem os números, como inflação, controlados pelo governo, o que passa muita insegurança para empresários e investidores, que deixam de pensar no país como opção de alocação de recursos. Em relação ao Chile, ele lembra que embora a economia seja organizada, o cobre é um importante produto para exportação do país. “Todos os países têm inflação alta e déficit em conta corrente não financiado”, avalia.
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Bandeira avalia ainda que a Rússia pode voltar a gerar um movimento de aversão ao risco. “A questão da Rússia ainda não acabou, pode ter outros lances de ataque especulativo e contaminar outros países”, diz. “A tensão continua, os emergentes vão seguir pressionados precisando acertar suas economias”, avalia.
Mas para o diretor executivo e chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities International em Nova York, Tony Volpon, a desvalorização da moeda, em especial do real, não é, necessariamente, ruim. De acordo com ele, seria bom que o real caminhasse para R$ 2,85 o quanto antes, patamar projetado pela Nomura para o final do próximo ano, para ajudar “muito” o processo de ajuste das contas externas. “O Brasil tem déficit na balança comercial e nas contas públicas. Num momento global como o que estamos vivendo a moeda neste patamar contribuiria”, diz, ressaltando ainda, que o Banco Central brasileiro não deve impedir que a moeda atinja este nível.
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“O BC está agindo corretamente (as operações diárias de swap cambial). A estratégia está correta e ele não vai impedir o real de ir para este nível”, diz. Para Volpon, a partir do momento que os EUA começarem a subir o juro pode haver uma saída de recursos dos emergentes. “O investidor internacional sempre fica na dúvida: fica em casa ou passeia? Nos últimos anos ele passeou muito e o Fed está dando uma mãozinha para ele voltar”, diz.
Sobre quando o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) irá subir o juro, todos os profissionais avaliam que isso não deve acontecer no primeiro semestre do ano. A presidente da autoridade monetária, Janet Yellen, afirmou que é “improvável” que isso ocorra antes de abril. Na ata do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) divulgada na semana passada, o banco indicou que será “paciente” na hora de determinar quando será o momento de elevar os juros, que estão, desde dezembro de 2008, entre 0% e 0,25%.
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