Por monica.lima
São Paulo - Mesmo com a expectativa de baixo crescimento da economia e ajuste fiscal, taxa de juro básica em alta e desemprego sinalizando aceleração, o Banco Central (BC) estima que as operações de crédito em 2015 devem crescer no mesmo ritmo deste ano, em 12%, puxadas, principalmente, pelo crédito privado. Segundo informou o BC, no próximo ano, os estoques de crédito dos bancos públicos devem crescer 14%, abaixo dos 17% esperados para 2014. Os bancos privados nacionais, por sua vez, vão ter expansão de 9% em 2015, acima dos 5% esperados para este ano.
Esse percentual, no entanto, não é motivo de comemoração, já que a expansão do setor vem desacelerando desde 2011. No mês passado, a concessão total de crédito atingiu R$ 307,2 bilhões, uma queda de 7% ante outubro. Na comparação com igual período de 2013 houve crescimento de 6,2%.
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O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, avalia que todos os indicadores pioraram e que esta deve ser a tendência em 2015. “Será um ano difícil. As medidas fiscais devem ser duras, levando as empresas a venderem menos, o que deve gerar aumento do desemprego. Além disso, o cenário é de alta da Selic e da inflação, com queda da atividade econômica. A perspectiva é de aumento da inadimplência”, diz.
Oliveira lembra que o governo já anunciou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) irá ter menos recursos disponíveis no próximo ano e acredita que o mesmo deve acontecer com as demais instituições públicas. Por isso, segundo ele, é natural que os bancos privados ocupem esse espaço. No entanto, ele ressalta que a tendência é de que as instituições continuem sendo bastante restritivas.
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“Ao olhar os números você percebe que o BNDES puxou o crédito, mas isso não deve se repetir em 2015. Há um espaço a mais para os privados mas, não significa que vão emprestar muito mais em 2015”, diz, ressaltando que enquanto essas instituições não vislumbrarem um cenário econômico mais positivo e a inadimplência e o desemprego em queda, haverá limitações.
Além do cenário macroeconômico pouco favorável, o executivo chama a atenção para a questão da Petrobras. De acordo com ele, muitas das empresas citadas no processo Lava Jato são companhias que demandam muito crédito no mercado e isso deve aumentar ainda mais a restrição dos bancos. “A Petrobras é um componente adicional, com um cenário que pode se agravar”, diz.
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Segundo o BC, o estoque total de crédito no Brasil subiu 1,3% em novembro ante outubro, chegando a R$ 2,963 trilhões, ou 58% do Produto Interno Bruto (PIB). O movimento foi o segundo mais intenso do ano, perdendo apenas para a alta mensal de 1,35% vista em setembro.
Em novembro, o spread bancário - diferença entre o custo de captação do banco e a taxa efetivamente cobrada ao tomador final - recuou a 21,2 pontos percentuais no segmento de recursos livres, sobre 21,4 pontos percentuais vistos em outubro. No crédito total, incluindo os recursos direcionados, o spread médio ficou em 12,6 pontos percentuais, abaixo dos 12,8 pontos percentuais vistos em outubro. “Houve saldo menor das modalidades com taxas mais elevadas, como no cheque especial, e isso influenciou o spread”, explicou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
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Em outubro, o BC deu início ao atual ciclo de aperto monetário, que já levou a Selic a 11,75% ao ano, visando combater o avanço da inflação. Esse movimento deve continuar no curto prazo para fazer a inflação convergir para o centro da meta até o fim de 2016.
Ainda segundo o BC, a inadimplência no mercado de crédito no segmento de recursos livres ficou em 4,9% em novembro, ante 5% em outubro. Considerando os recursos totais, a inadimplência ficou estável em 3%.
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Já a taxa média de juros no segmento de recursos livres fechou novembro em 33%, superior aos 32,9% em outubro. No segmento das pessoas físicas, a taxa ficou em 44,2%, a maior da série histórica do BC de março de 2011. No crédito total, os juros médios ficaram em 21,3% no mês passado, estáveis frente a outubro. Com Reuters