Por monica.lima
São Paulo - A Caixa Econômica Federal rebateu ontem análises da agência de classificação de risco de crédito Moody’s sobre a qualidade de seus ativos e o risco das operações. O relatório foi divulgado na sexta-feira a analistas, investidores e emissores de títulos, e suas principais conclusões foram publicadas na edição de ontem de Brasil Econômico. A instituição foi procurada para comentar o relatório na sexta, mas não havia executivo disponível.
“As margens líquidas não caíram”, disse ontem Alexsandra Braga, vice-presidente de riscos da Caixa. “A nossa política é sempre manter as margens estáveis, não é aumentá-las. O recente aumento das taxas de algumas linhas do crédito imobiliário vieram exatamente para recompor as margens”, explicou. Ao mesmo tempo, Alexsandra diz que o conceito de margem líquida é gerencial e estratégico, ou seja, o banco não divulga.
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O relatório da Moody’s trazia um gráfico mostrando que as as margens líquidas de juros (Net Interest Margin, conhecido como NIM, na sigla em inglês) está abaixo da Selic desde meados de 2013. “Desde 2011, as margens líquidas da Caixa tem sido cada vez menores por causa da crescente parcela de empréstimos subsidiados em seu portfólio, em meio a crescentes custos de financiamento”, diz o relatório.
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Alexsandra discorda. Ela acredita que o cálculo feito pela Moody’s simplesmente subtrai o custo dos passivos, o funding, do que rendem os ativos (os empréstimos). Procurada, a analista da Moody’s não estava disponível ontem para comentar.
Sobre a qualidade dos ativos, Alexsandra está confiante no volume de garantias. “No crédito imobiliário, que é 60% da nossa carteira, o valor das garantias que temos é hoje cerca de 30% maior do que o volume do que temos emprestado. O mesmo ocorre com empréstimos para infraestrutura, que representam outros 7% da carteira”. Dos 33% restantes, há 10% em consignado e apenas 22% é crédito comercial de maior risco. “O perfil da nossa carteira não mudou no tempo”, diz, acrescentando que em duas modalidades que entrou recentemente - veículos e crédito agrícola - não somam juntas nem 2% da carteira total.
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Alexsandra admite que a rentabilidade caiu, mas acrescenta que a Caixa agora tem uma posição patrimonial mais sólida. “Em agosto do ano passado o Banco Central autorizou a incorporação de R$ 28 bilhões em recursos captados no mercado de dívida ao capital. Ao dividir o lucro por uma base de capital maior, a rentabilidade cai”.
Já em relação às taxas de inadimplência, Alexsandra explica que em 2014 elas subiram pelo menor ritmo de concessões. “Em 2012 e 2013, os índices haviam melhorado pelo efeito do aumento da base de empréstimos. Com a base crescendo muito menos, mesmo controlando a inadimplência os índices sobem”. Ou seja, é matemático. “Mas em setembro eles já voltaram a cair e devem ficar entre 2,6% e 2,8% ao ano, para atrasos acima de 90 dias”, diz.
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Procura do consumidor por crédito cai 7,8% em 2014
A demanda do consumidor por crédito caiu 7,8% no ano de 2014, segundo o indicador calculado pela Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito). A queda é a mais acentuada apurada na série histórica da instituição, que tem cálculos realizados desde dezembro de 2011.
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Em dezembro, a procura por crédito recuou 1,9% na análise mensal, em relação a novembro. Já na comparação de dezembro de 2014 contra dezembro de 2013, a queda alcançou 14,6%.
Considerando os segmentos que compõem o indicador, na análise acumulada do ano, a demanda por crédito nas instituições financeiras caiu 8,3%, enquanto para o segmento não-financeiro houve queda de 7,6%.
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Para o economista da Boa Vista SCPC Flavio Calife, o mercado de crédito vivenciou nos últimos meses diversos tipos de medidas de fomento ao crédito, mas mesmo assim, o crédito continuou desacelerando e sinalizando uma maior cautela do consumidor em tempos de incerteza econômica.
“A alta das taxas de juros também contribui para a diminuição da demanda de crédito. Levando em consideração o cenário macroeconômico para 2015, acredito que a reversão do processo somente se concretizará com a melhoria da confiança na economia, cenário factível após a consolidação dos ajustes de política monetária e fiscal, atualmente em curso”, explica o especialista. <MC>Mariana Pitasse
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