Por monica.lima

A renúncia coletiva da diretoria da Petrobras teve efeitos positivos nas ações da empresa no Brasil e no exterior mas a mudança não foi suficiente para reduzir a desconfiança do investidor nem retira o risco de perda do grau de investimento da nota de crédito da estatal.

Depois de registrar a maior alta em 16 anos na segunda-feira, ontem os papéis da petroleira registraram forte oscilação e, no fim do pregão, as ações preferenciais encerraram com alta de 0,20%, a R$ 10,00 e a ordinária, avançou 1,12%, a R$ 9,79. Mas o American Depositary Receipt (ADR) negociado na Bolsa de Nova York fechou em baixa de 1,41%, a US$ 7,26.

Amanhã, enquanto o Conselho de Administração da empresa estiver aprovando o novo presidente e cinco diretores que renunciaram, em Nova York escritórios de advocacia ingressarão na Justiça com uma ação coletiva de acionistas minoritários da empresa nos Estados Unidos requerendo indenização por perdas sofridas nas suas ações por ações de corrupção ocorridas na companhia.

A crise de governança da Petrobras foi o tema mais discutido ontem de um evento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) para comemoração dessas práticas no Brasil. Gilberto Mifano, ex-presidente do IBGC, conselheiro da BM&FBovespa e hoje sócio da Pragma Patrimônio, disse que o escândalo da Lava Jato trouxe um estrago violento não só para a Petrobras mas para todo o país. “Nossa credibilidade não está arranhada, está amassada. O estrago é grande no mercado de capitais e no mercado financeiro porque estamos falando de uma empresa gigantesca que tem ramificações enormes. É um caso seríssimo. Não quero ser catastrófico, mas temos perigo de um efeito dominó. A cadeia é gigante, não estamos falando só de óleo e gás”, diz, acrescentando ainda que o Brasil virou piada na boca de investidores estrangeiros.

O advogado André de Almeida, que faz parte do processo de Class Action contra a Petrobras nos Estados Unidos, ressalta que a saída da presidente e dos cinco diretores da Petrobras, o rombo bilionário com corrupção, a repercussão internacional com a queda do valor de mercado da empresa, sintetiza uma reflexão sobre a importância da fiscalização das empresas de capital aberto, os balanços e as decisões dos Conselhos de Administração.

Segundo o analista da Empiricus Research Felipe Miranda, a volatilidade das ações deve continuar, pelo menos, até o balanço do terceiro trimestre ser divulgado com a chancela de uma auditoria. O profissional chama atenção para o rendimento oferecido pelo cupom cambial brasileiro (juro em dólares no Brasil) e o oferecido pelos títulos da Petrobras, que chegaram a ter que pagar cinco pontos percentuais de prêmio sobre o juro médio de Brasil. “Esse é o preço que o investidor está pedindo para ficar com o papel da Petrobras e esse juro pode subir ainda mais”, diz, acrescentando que as petrolíferas no mundo inteiro estão passando por dificuldades por causa da queda dos preços do petróleo.

Para o profissional, um dos grandes desafios do novo presidente da Petrobras é gerar caixa e reduzir o endividamento. Ele lembra que o tamanho da dívida da companhia hoje não condiz com o tamanho dela. “É uma dívida velha de uma nova Petrobras, deteriorada, que não comporta esse endividamento”, diz. Segundo levantamento da Economatica, o valor de mercado da empresa em reais estava em R$ 128,8 bilhões no dia 3, muito abaixo dos R$ 295,5 bilhões verificado em agosto do ano passado.

Para Miranda, a principal alternativa para a companhia aumentar seu caixa e conseguir honrar seus compromissos é através de aumento de capital, já que a empresa não conseguirá captar recursos enquanto o seu balanço auditado não for divulgado. “O fato é que a essa altura o aumento de capital é o mais provável”, diz.

O analista da Clear Corretora Raphael Figueredo, também concorda que a volatilidade vai continuar ditando o ritmo dos papéis da estatal aqui e lá fora, mas pondera que a tendência continua sendo de baixa. “A nova diretoria precisa dar sinais claros de que está entrando nos trilhos, com eficiência para conter os gastos e, mas do que nunca, fazer um programa que possa diminuir a alavancagem da empresa”, afirma.

Para Figueredo, isso pode ser feito via lançamento de novas ações no mercado, o mais provável, mas também pode haver desinvestimento. “Agora, precisa saber se o governo está disposto a perder participação na empresa. Outra alternativa é a empresa buscar financiamento com elevado custo”, diz, ressaltando ainda que se o endividamento continuar no atual patamar a empresa corre o risco de perder o grau de investimento. “Se isso acontecer, vira uma bola de neve”, avalia.

CVM tem sete processos em aberto contra Petrobras

Uma semana após a Petrobras divulgar dados financeiros, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu mais um processo para analisar informações da companhia. De acordo com a autarquia, o processo foi aberto na última segunda-feira a pedido da Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da CVM. Tudo indica que o objetivo da ação seja apurar informações do balanço, divulgado após dois meses de atraso e sem o aval da auditoria.

Ao todo, a CVM tem sete processos em aberto para analisar questões envolvendo a Petrobras. Um deles foi instaurado em 2013, para investigar reclamação de investidor sobre política de preços da Refinaria Abreu e Lima e do Comperj.

Outros cinco foram abertos ano passado. O primeiro deles, para apurar mais uma reclamação de investidor sobre a política de preços. Há também, em outras duas ações, apuração de reclamação de membros do Conselho de Administração da companhia sobre política de preços e omissão de informação sobre Abreu e Lima, além de apuração sobre suspensão da RCA, realizada em 31 de outubro.

Dois últimos processos investigam denúncias de pagamento de propina, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa na companhia. Segundo a autarquia, em razão de indícios de irregularidades apuradas nesses processos, a SEP decidiu instaurar o Inquérito Administrativo, anunciado em 30 de janeiro.

Agências Fitch e Moody’s cortam notas de fornecedores da Petrobras

As agências de classificação de risco Fitch Rating e a Moody’s reduziram ontem o rating e a perspectiva de notas emitidas por alguns fornecedores da Petrobras. As duas agências afirmaram que o rebaixamento reflete o aumento de risco de liquidez que está associado à deterioração de crédito da estatal.

A Fitch colocou em observação negativa o rating nacional de longo prazo ‘AAAsf(bra)’ das seguintes emissões: Cotas do Brasil Óleo e Gás Exclusive Fundo Investimento em Direitos Creditórios; Brazilian Securities Companhia de Securitização; BRC Securitizadora S.A; RB Capital Companhia de Securitização S.A.; e RB Capital Securitizadora S.A .

De acordo com o comunicado, a observação negativa incorpora o aumento do risco de a dívida da Petrobras ser acelerada se a empresa não divulgar as demonstrações financeiras auditadas de final de ano até 120 dias após o término do período, com mais sessenta dias de carência. As ações de rating contemplam, ainda, o potencial impacto que o escândalo de corrupção terá na capacidade de a Petrobras atingir as expectativas da Fitch para a sua produção.

No dia 3, a Fitch rebaixou os IDRs (Ratings de Probabilidade de Inadimplência do Emissor) em Moedas Estrangeira e Local da Petrobras e os ratings da dívida em circulação para “BBB-“, de “BBB”.
A Moody’s rebaixou as notas de “Baa3” para “Ba1”, grau especulativo e informou que a revisão dos ratings vai se concentrar em uma série de eventos de crédito que incluem a depreciação dos ratings da Petrobras e as incertezas que envolvem as investigações de corrupção.

Tiveram as dívidas rebaixadas as seguintes empresas: Lancer Finance Company (US$ 80 bilhões para julho de 2016); Schahin II Finance Company (US$ 675 milhões para setembro de 2022); SBM Baleia Azul (US$ 400 milhões para setembro de 2027); QGOG Atlantic e Alaskan Rigs Limited (US$ 372 milhões para julho de 2018); Odebrecht Drilling Norbe VIII/IX (US$ 1,275 bilhão para junho de 2021); e Odebrecht Offshore Drilling Finance Limited (US$ 2,151 bilhões para outubro de 2022). Na semana passada, a agência rebaixou os rating da Petrobras.

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